FIFA 21 Está na hora de repensar a lógica do futebol virtual?
Odesafio de lançar um jogo por ano coloca sobre os ombros dos desenvolvedores da EA uma forte pressão. É preciso apresentar novidades sedutoras para que os fãs de FIFA se empolguem em adquirir uma nova versão – investimento que, por aqui, é de R$ 290.
Entre FIFA 17 e FIFA 19, o maior destaque para os fãs casuais foi o modo A Jornada, que contou a história de ascensão de Alex Hunter.
FIFA 20 supriu a ausência de um modo história de uma forma bem especial: trouxe um FIFA Street embutido no título com a chegada do modo Volta, que tinha, de quebra, uma história dentro dele.
Mas para quê todo esse preâmbulo? Para dizer que, depois de quatro anos, FIFA deixa de ter um modo história. É verdade que o Volta tem uma narrativa curtinha, intitulada A Estreia, que conta com cinco capítulos e alguns minutos de cutscenes (inclusive com participação especial de Kaká no episódio inicial, que se passa em São Paulo).
O foco da EA para o Volta, a partir de FIFA 21, é o Volta Squads, que permite partidas online com até três amigos e duelos de até cinco contra cinco. Os formatos desse primo mais novo do FIFA Street seguem bem variados, 3x3, 4x4, 5x5, uma série de tamanhos de campo e de gols, com parede e sem parede etc. O Volta passa a contar, ainda, com um sistema de objetivos e recompensas similar ao que foi introduzido no ano passado no Ultimate Team. É possível ganhar inúmeras customizações para o seu avatar e também algumas cartas especiais para reforçar o seu time. Durante as primeiras semanas, o prêmio do objetivo final é uma carta do Kaká.
FUT SEGUE NA
ZONA DE CONFORTO
Enquanto o Volta dá seus primeiros passos para ganhar espaço nos duelos online, o Ultimate Team já tem doutorado nessa área. A EA sabe que o FUT conta com uma base de fãs muito numerosa e envolvida com esse modo de jogo, por isso mantém a sua aposta nas disputas do FUT Champions, com Weekend League e Division Rivals.
Uma forma de aliviar o estresse causado pelo excesso de partidas e algumas derrotas amargas é o FUT Co-op, que permite a dois amigos disputar jogos em Squad Battles, Division Rivals e Amistosos. A novidade dá certo fôlego ao Ultimate Team, embora o seu foco siga nos confrontos um contra um.
Há um acerto dentro do FUT que não há como deixar passar: o fim das cartas de preparo físico!!! De fato, essa mudança merece todas as exclamações do mundo, já que os fãs perdiam minutos e moedas para adquirir cartas de fitness e deixar o time pronto para o duelo seguinte. A partir de agora, os atletas sempre começarão as partidas com o físico em 100%.
Como não poderia deixar de ser, FIFA 21 traz também novos ídolos, os craques do passado que costumam ser "levemente" inacessíveis no mercado de
transferências. É verdade que é possível obter algumas das lendas em Desafios de Montagem de Elenco, um modo que se estabeleceu dentro do Ultimate Team. FIFA 21 atinge a marca de 100 ídolos disponíveis com a chegada de Eric Cantona, Ashley Cole, Petr Cech, Samuel Eto’o, Fernando Torres, Philpp Lahm, Ferenc Puskás, Bastian Schweinsteiger, Davor Suker, Nemanja Vidic e Xavi.
Ainda sobre o Ultimate Team, as personalizações do clube atingiram outro patamar. Em FIFA 21, você pode personalizar o seu estádio do zero e escolher desde a cor das cadeiras até a iluminação, o comportamento da torcida, os bandeirões e os cânticos. Esse é o tipo de novidade que não arranca suspiros de tantos fãs do FUT, mas é relevante por dar leveza a um modo marcado por um grau altíssimo de competitividade.
DENTRO DE CAMPO
As novidades nos dois modos de maior destaque de FIFA 21 não são suficientes para definir o jogo como um título obrigatório. Dentro de campo, duas mudanças podem impactar positivamente a jogabilidade: o drible ágil e o controle do segundo jogador.
O drible ágil é um convite para que os jogadores soltem a ginga e a alegria nas pernas. Com um comando simples, é possível passar a bola de um pé para o outro rapidamente para mudar de direção e escapar de marcadores implacáveis. O recurso pode ser usado também para ganhar tempo diante do adversário e esperar a ultrapassagem do companheiro.
Já o controle do segundo jogador é um comando complexo que pode ser letal nas mãos de jogadores mais treinados. Basicamente, quando você está com o controle da pelota, pode controlar o movimento de um companheiro com o analógico direito. O seu atleta com a posse não fica parado, mas segue a sua trajetória sem grandes variações e fica vulnerável à marcação. A ideia é controlar o segundo atleta para se aproximar e pedir o passe ou se desmarcar e tentar receber a bola em um ponto futuro. Quem tem alguma experiência no modo Pro Clubs terá mais facilidade para se adaptar ao comando. Não é fácil se coordenar para executar
a jogada, mas certamente muitos lances criativos vão surgir a partir dessa novidade.
Outro aspecto que foi ajustado para tornar a jogabilidade mais realista foram os cabeceios, que se tornaram mais manuais. A partir de agora, é possível direcionar bem os passes e as finalizações de cabeça. Pode ser difícil para controlar no início, mas, com treino, os fifeiros provavelmente vão se adaptar muito bem a essa mudança.
Se você busca melhorar seu estilo de jogo, vai curtir o modo Competidor, disponível nas dificuldades Lendário e Ultimate. O time da EA trabalhou na inteligência artificial do jogo para que a máquina simule o comportamento de pro players famosos ao longo das partidas. É um passo importante para tornar o computador mais humano e a jogabilidade menos repetitiva nos modos single-player.
uma forma ou de outra, a maior parte acaba adquirindo um novo game para recomeçar do zero a sua epopeia rumo à Weekend League.
Durante três anos, a EA teve méritos de sobra com o modo A Jornada, que justificava a compra de um novo game a cada ano pelos fãs mais casuais. O Volta foi uma belíssima sacada e a sua continuidade pelos próximos games da série deve ser comemorada.
Porém, separando as razoáveis novidades de FIFA 21 e a qualidade do game, é preciso repensar o modelo estabelecido há tanto tempo. No ano em que a Konami lança PES como uma atualização, é prudente que a indústria e a comunidade parem e reflitam. Precisamos, de fato, de um jogo novo todo ano? Sempre será possível melhorar um ou outro detalhe, mas nem todo ano é possível entregar novidades robustas. Para
FIFA 21, fica um gosto menos saboroso do que nos quatro anos anteriores, embora ainda seja um título que traz o modo Street "gratuito" dentro dele.
Por que não pensar a respeito disso para o futuro próximo? A nova geração de consoles pode ser uma oportunidade para que o formato seja revisto. Uma opção pode ser o lançamento de um jogo totalmente novo a cada dois anos com algumas atualizações nesse intervalo. Caso a operação seja financeiramente inviável, os fãs talvez topassem pagar um valor simbólico por atualizações que tenham forte impacto.
FIFA 21 mantém a coroa dos jogos de futebol com a EA por mais um ano, no que já é uma verdadeira dinastia. Mas a zona de conforto pode ser perigosa, é preciso fazer mais para manter o brilho nos olhos dos fãs.
FIFA 21 carece de novidades, mas segue sendo o melhor futebol, com modos variados e o excelente Volta, um FIFA Street que veio para ficar.