EM PARCERIA COM A DEVIATION, A SONY PRETENDE RESGATAR A FORÇA DOS FPS EM SEUS CONSOLES
Mesmo com todas as limitações, as maiores empresas perderam uma oportunidade única: aproveitar que fãs, jornalistas, desenvolvedores e qualquer interessado em games estavam na mesma situação: sentados na frente de uma tela (PC, TV ou celular), prestando atenção em uma sequência linear de eventos. Em épocas normais de E3, a atenção do público e dos profissionais está diluida em uma quantidade enorme de atrações e de compromissos, então cada empresa luta por fatias dessa atenção. Dessa vez todos estavam juntos, com os mesmos horários pré-determinados, e as empresas perderam a chance de fazerem apresentações melhores e grandiosas para esse enorme, massivo e atento público.
A Square Enix, por exemplo, tinha atenção garantida dos fãs pela expectativa de qualquer
Final Fantasy aparecer, mas preencheu seu tempo com anúncios repetidos como a remasterização de Life is Strange e deixou que uma primeira impressão ruim caísse sobre os anúncios mal preparados de Babylon’s Fall e Stranger of Paradise – esse ao menos teve uma demo no PS5 para provar que não é ruim.
A Gearbox arriscou um programa de meia hora que consistia no dono Randy Pitchford andando pelo set de filmagens do filme de
Borderlands sem mostrar nadinha. Os únicos jogos mostrados foram Wonderlands, que já tinha sido anunciado mais cedo, e... Godfall para PS4 com uma DLC. A Koch Media resolveu falar de 12 jogos em produção, quase sem mostrar novas imagens de seis dos jogos.
Até mesmo a Ubisoft, uma das especialistas em fazer apresentações empolgantes, repetiu alguns jogos que o público já conhecia, e deixou de fora os já enrolados Beyond Good & Evil 2 e
Skull & Bones. Ao menos revelou um jogo novo de Avatar (o filme do James Cameron, não o desenho), que parece lindo e interessante, mas não entrou em detalhes sobre ele.
Ficou uma lição para o formato online que já era cobrado para os eventos presenciais: o que queremos ver são jogos, muitos jogos, em boas apresentações que revelam as suas melhores qualidades. E se a pandemia atrasou diversos projetos, o que é aceitável, que façam vídeos mais interessantes sobre o que já está quase pronto.
SUMMER GAME FEST
E, é claro, a semana de E3 ficou ainda mais incompleta porque o PlayStation continua meio indisposta com os rumos que a ESA, a associação de publishers de games que organiza o evento, tem tomado. Sendo assim, os maiores anúncios para o público de PlayStation aconteceram no evento online Summer Game Fest. Lá foi revelado Death Stranding Director’s Cut. Como de costume, Hideo Kojima se uniu ao seu parça Geoff Keighley (apresentador e dono do show) e, após uma conversa em que falou um pouco sobre como está seu processo criativo atualmente, lançou a braba dessa versão atualizada para PS5. O trailer tem referências a Metal Gear Solid: uma empilhadeira, o duto com ratos, a caixa de laranjas (que SAM usa errado, pulando dentro dela em vez de usá-la como disfarce) e vários guardas protegendo uma área militar. Ficou claro que o conteúdo extra também terá elementos furtivos que estamos acostumados (e com saudades) nos jogos do Kojima. Não temos mais detalhes, mas Geoff disse que mais informações serão divulgadas em breve. O jogo já foi até avaliado pelo órgão de classificação indicativa do EUA e o trailer aponta que o lançamento será "em breve".
Outro anúncio no Summer Game Fest foi de mais uma parceria do PS Studios com uma equipe recém-formada de veteranos da indústria. A Deviation Games é formada por Dave Anthony e Jason Blundell, que foram produtores dos Call of Duty: Black Ops 1 a 4
– Dave foi diretor do primeiro Blops e virou produtor depois, enquanto Jason, além de produtor, foi diretor do modo de Zumbis na série e grande responsável pelo absurdo sucesso dessa fatia da franquia. Eles dizem que o estúdio já tem mais de 100 pessoas e não pouparam promessas. Afirmaram que têm total segurança financeira e liberdade de criação para pensar em uma nova série que busque algo realmente inovador, com qualidade acima de tudo. Pelo pedigree dos envolvidos, só podemos imaginar que seja um jogo de tiro em primeira pessoa. O último FPS exclusivo de PlayStation (sem contar VR) foi
Killzone Shadow Fall, no lançamento do PS4, então já está na hora de algo nesse gênero surgir. Os caras têm um currículo de sucesso para criar uma franquia poderosa.
O nosso querido Shuhei Yoshida, que cuida da parte de indies do PlayStation, também apareceu no Summer Game Fest e anunciou que Salt and Sacrifice, sequência do ótimo
Salt and Sanctuary – um jogo inspirado em
Dark Souls, mas jogado em 2D – chegará primeiro ao PlayStation em 2022. Ele parece ter mais variedade na exploração e combate, que eram os maiores problemas do primeiro, e ainda terá co-op online.
O Summer Game Fest reforçou mais alguns jogos third party legais que você confere nas próximas páginas, mas brilhou de verdade no encerramento com o jogo mais badalado possível: Elden Ring. Os pedidos dos fãs por mais informações sobre o novo RPG de ação da From já estavam virando meme em todos os eventos possíveis dos últimos anos, então a internet veio abaixo com um vídeo caprichado do gameplay (mais detalhes na página 12).
Playstation 4 ainda tem fôlego
Paralelamente a E3 e a Summer Game Fest, a Sony também atraiu a atenção do público com revelações salpicadas por aí. Em uma sessão de perguntas e respostas, Hermen Hulst, chefe do PS Studios (líder de jogos exclusivos e de parcerias), revelou que há mais de 25 jogos em desenvolvimento no PlayStation Studios, entre os estúdios que são de fato da Sony e parcerias exclusivas com equipes externas. Quase metade dos jogos é inédita, sem fazer parte de séries já conhecidas. Uma ótima notícia que nos deixa mais tranquilos de que o PS deve continuar a tradição de renovar seu catálogo a cada geração, sem depender dos mesmos nomes poderosos para sempre – preocupação válida após o fechamento do Japan Studio e de rumores recentes.
O chefe do PS Studios diz que não trata estúdios internos e parceiros de maneira muito diferente. Citou especificamente as parcerias com estúdios novos, como Haven (da Jade Raymond) e Firewalk (envolvido em um grande projeto multiplayer), e estúdios com quem já trabalharam no passado, como a Kojima Productions e a FromSoftware. Apesar de não significar que existam parcerias com esses dois últimos, é um sinal de que vão buscar mais colaborações com estúdios japoneses, agora que o
Japan Studio da Sony deixou de existir.
A outra parte da conversa causou discussão: Hermen Hulst foi um tanto honesto ao dizer que abandonar a base de 110 milhões de donos de PS4 agora não é a melhor ideia de negócios, por isso nem todo jogo vai ser exclusivo de PS5... e isso agora inclui o próximo God of War e Gran Turismo 7, além de Horizon II: Forbidden West. Isso é... complicado. O que ele disse faz sentido no campo de negócios, mas tira uma boa parte do incentivo para comprar um PS5 e vai contra o discurso de gerações pregado antes do lançamento do console.
Além disso, há outra obviedade: esses jogos exclusivos vão ter que levar em consideração o hardware do PS4 lançado lá em 2013 e oferecer a mesma experiência em ambos os consoles na parte de mecânicas, cenas etc. O visual e a resolução podem variar muito entre PS4, PS4 Pro e PS5, então se uma fase do próximo God of War simplesmente for pesada demais para o PS4 mais antigo aguentar, ela vai ter que ser cortada da versão de PS5 também. Isso atrasa a evolução técnica e artística dos jogos. Sabemos que um
PS5 não é um investimento barato e a felicidade que muitos terão de poder jogar lançamentos no PS4, mas queríamos ver jogos aproveitarem mais do poder do PS5 sem precisar considerar as limitações do anterior. Ainda mais após ver o que Returnal e Ratchet & Clank conseguiram fazer por serem exclusivos da nova geração.
Estamos curiosos para descobrir como os estúdios internos estão trabalhando nessas versões entre gerações. Horizon II: Forbidden West tem um visual tão absurdo no PS5 que serão necessários ajustes relevantes para rodar no PS4. Gran Turismo 7 foi exibido com efeitos de ray tracing por toda parte do jogo e modelos internos ridiculamente detalhados, que talvez tenham que ser reduzidos ao nível dos carros de GT Sport no console anterior. Parece um trabalho considerável que vai além de simplesmente mudar níveis de qualidade nas configurações como acontece em jogos de PC: é algo mais personalizado para cada plataforma.
E, para concluir, a Sony surpreendeu a todos com a notícia de que abriu novamente a carteira. A empresa adquiriu a Housemarque, estúdio finlandês que sempre trabalhou muito focado no PlayStation e que lançou jogos incríveis como Resogun, Nex Machina e o recente Returnal.
E, segundo um tuíte publicado por engano pela Sony do Japão, a empresa deve ter comprado também a Bluepoint, a rainha dos remakes que recriou Shadow of the Colossus e Demon's Souls. Essa informação não foi confirmada oficialmente e a Sony rapidamente sumiu com o tuíte, mas não parece um simples erro já que o tuíte vinha com uma imagem feita para comemorar a aquisição. A Sony também comprou a Nixxes Software, ótimo estúdio especializado em ports que deve ajudar nas diferentes versões dos jogos de PS4 e PS5 (e na migração deles para PC). A Nixxes tem um histórico com PlayStation por ter ajudado a Guerrilla Games com Killzone: Shadowfall,e
também trabalhou em jogos grandes da fase de Tomb Raider sob o chapéu da Square e no jogo dos Vingadores.
Enfim, não tivemos os eventos grandiosos com os quais estamos acostumados, mas há sinais de que a vida vai melhorar e o universo PlayStation vai continuar em plena expansão.