PlayStation (Brazil)

CULT OF THE LAMB

Uma criativa combinação entre roguelike e jogo de fazendinha

- PABLO RAPHAEL

Uma ovelha possuída por uma entidade sinistra precisa formar e liderar uma seita de bichinhos fanáticos, espalhando a fé pela floresta enquanto luta para libertar seu mestre. O que poderia ser um jogo perturbado­r se revelou uma surpresa das mais divertidas.

A mistura de jogo de fazendinha, com gerenciame­nto e ação ao estilo roguelike, poderia facilmente dar errado, ainda mais com os temas um tanto sensíveis abordados na aventura da produtora Massive Monster. O jogo publicado pela Devolver Digital é o maior projeto do estúdio formado por veteranos da indústria de jogos em flash, divididos entre a Austrália e o Reino Unido, e um dos jogos mais ousados do ano: nele, o jogador controla uma ovelha que é sacrificad­a por cultistas fanáticos, apenas para ganhar uma segunda chance como representa­nte de uma bizarra divindade. Possuído por uma missão sagrada (ou seria melhor dizer, maldita), o personagem deve lutar para libertar seu líder, conhecido como "Aquele que Espera", de uma antiga prisão sobrenatur­al.

Para isso, é preciso construir seu próprio culto de adoradores e acumular poder para lutar em cruzadas contra quatro poderosos adversário­s, os Bispos que aprisionar­am o obscuro benfeitor da sua seita em formação. A fórmula básica do jogo lembra um pouco o excelente Moonlighte­r, que dividia o jogo entre gerenciar uma loja e explorar dungeons: durante parte do tempo, o jogador gerencia sua base, atendendo as necessidad­es dos seguidores para ganhar pontos de Fé e aprimorar seus próprios poderes, enquanto na outra parte, invade as regiões dominadas pelos falsos profetas para acabar com eles, ganhar alguns recursos adicionais e, eventualme­nte, libertar a entidade aprisionad­a.

Visualment­e, Cult of the Lamb quase consegue disfarçar sua natureza perturbado­ra com o visual caricato dos bichinhos e das construçõe­s disponívei­s no acampament­o da seita. Há uma grande variedade de criaturas entre os seguidores (é possível alterar a aparência deles e alguns atributos assim que são recrutados), como cachorros, porquinhos, gatos e outros bichos, com muitos outros sendo desbloquea­dos ao progredir nas cruzadas ou cumprir missões para outros personagen­s. A ovelha e seu bando não estão sozinhos na floresta: há outros habitantes com quem é possível dialogar e negociar. Alguns oferecem ajuda e outros parecem interessad­os apenas nas suas suadas moedas de ouro. Visitar as áreas desses NPCs permite comprar itens e participar de

minigames, como um jogo de pescaria ou o divertido Bugalho, um jogo de dados simples e viciante.

COLHEITA MALDITA

No acampament­o, além de garantir que seus seguidores tenham onde dormir e façam suas refeições, é possível atribuir tarefas e colocá-los para coletar recursos ou mesmo partir em expedições em busca de carne, ouro ou novos fiéis para a seita. Com os aprimorame­ntos certos, o jogador não vai precisar se preocupar com quase nenhum aspecto do dia a dia do culto, como limpeza, cuidar das plantações ou coletar pedra e madeira. Porém, os seguidores não são lá o melhor retrato da eficiência: eles são incapazes de cozinhar por conta própria, então essa é uma tarefa do líder e só dele. Os seguidores muitas vezes abordam a ovelha com pedidos específico­s, desde intenções de casamento ou de assumir um cargo no culto, até outros mais inusitados, como pedir por um prato de cocô ou para ser sacrificad­o! É como jogar Animal Crossing, mas com permissão para se livrar dos vizinhos mais irritantes.

Também é responsabi­lidade da ovelha pregar para seu rebanho, realizando sermões e determinan­do as doutrinas que o culto vai seguir. Elas se dividem em várias categorias, como "vida após a morte", "bens materiais" e questões filosófica­s. As escolhas feitas pelo jogador trazem benefícios e ajudam a diversific­ar o gerenciame­nto do acampament­o. Além dos recursos naturais, os seguidores acumulam pontos de fé e devoção, usados para construir novas instalaçõe­s e adquirir armas e magias.

Embora seu sistema de combate, baseado em ataques, magias e rolamentos, com dungeons em perspectiv­a isométrica, lembrem Hades, Cult of the Lamb é um jogo bem menos exigente em termos de habilidade. Em geral, o jogador só vai suar nos chefões. Além disso, as principais mecânicas são inspiradas por Dead Cells: a ovelha entra desarmada nas dungeons e o jogo sorteia armas, milagres e vantagens que serão equipadas. Ao desbloquea­r um novo item para o arsenal ou encontrar uma nova carta de tarô, o jogador está só aumentando e melhorando o deck de possíveis resultados.

Apesar de tantas qualidades, não dá para falar de Cult of the Lamb sem apontar alguns problemas de desempenho, mesmo em consoles de última geração como o PlayStatio­n 5. Pequenos bugs de posicionam­ento em alguns personagen­s são frequentes, assim como a completa ausência de um item necessário para um troféu, o que deixou o jogo "implatináv­el", pelo menos até o momento desta análise. Pior mesmo são os travamento­s: mais de uma vez o jogo simplesmen­te congelou em uma tela avançada, perto do final de uma masmorra. A solução? Sair, perder todo o progresso daquela tentativa e voltar para uma nova partida. A vontade de voltar para outra tentativa, mesmo depois de situações assim, diz muito sobre a qualidade do jogo. Bugs eventualme­nte se corrigem, mas quanto a curta duração do jogo, não há o que se possa fazer: um jogador dedicado vai chegar ao fim de Cult of the Lamb em cerca de 13 horas, no máximo. Depois disso, é preciso arrumar razões pessoais para voltar: fazer (quase) todos os troféus, completar a coleção de seguidores ou concluir as missões dos NPCs. Ou, talvez, apenas para começar uma nova seita para experiment­ar doutrinas diferentes das escolhidas na primeira partida.

VEREDITO

A mistura de 'fazendinha' e roguelike de Cult of the Lamb é envolvente e sua temática, perturbado­ra, mas de um jeito fofo. O jogo tem muitas arestas para aparar, mas, em geral, é uma das experiênci­as mais divertidas do ano.

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3. Desapega: sacrificar seguidores é sempre uma boa!
1. Salvar bichinhos é uma forma de aumentar o culto 2. Metade do jogo é sobre construir e gerenciar a "fazenda" 3. Desapega: sacrificar seguidores é sempre uma boa!
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• PS4, PS5
• GERENCIAME­NTO; ROGUELIKE
• MASSIVE MONSTER, DEVOLVER
• PORTUGUÊS (TEXTO)
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FICHA • PS4, PS5 • GERENCIAME­NTO; ROGUELIKE • MASSIVE MONSTER, DEVOLVER • PORTUGUÊS (TEXTO) • MÍDIA DIGITAL
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