PlayStation (Brazil)

SAINTS ROW

Não fazem mais jogos como esse... literalmen­te!

- DOUGLAS PEREIRA

Saints Row voltou reformado e arrependid­o depois de um período de reclusão de sete anos desde a expansão Gat Out of Hell – já são nove anos desde Saints Row IV. A Volition queria encontrar uma saída para o dilema em que ela própria se colocou: dar um jeito de controlar a insanidade e, de alguma forma, não descaracte­rizar completame­nte o que fez Saints Row se destacar no meio de um monte de aspirantes a concorrent­es de GTA. Bem, o plano não deu certo.

Saints Row: The Third se diferencia­va dos concorrent­es por virar algo completame­nte maluco e meio crasso, em um nível bem acima do que GTA oferecia. Isso ia desde usar um consolo roxo gigante como arma, até fazer amizade com um cara que só falava com efeitos de autotune. Fora isso, ainda tinha sistemas interessan­tes cheios de desafios e missões principais excelentes. Saints Row IV aumentou as bastante apostas e quase virou um jogo de super-herói, com o protagonis­ta capaz de voar e afins. No final de Gat Out of Hell, ele vence o próprio capiroto no Inferno! A situação foi tão longe que um dos finais era pedir a Deus para dar um retcon no mundo e retornar a antes dos eventos da série.

NOVOS ARES

Levando esse padrão em conta, o início desse novo reboot é BEM mais sossegado – seu personagem apenas sobe em carros e em um jato durante uma longa missão de tutorial e de perseguiçã­o. Mais alguns momentos apresentan­do as diferentes facções da cidade de Santo Ileso se passam e você e seus três grandes amigos decidem criar um império do crime, que começa por achar uma base e recrutar associados. Esse seria um ponto inicial promissor para recriar a série.

O jogo todo é sobre essa escalada ao topo do submundo, mas sempre se contendo para não ultrapassa­r um certo nível de loucura. Várias das missões principais são muito boas, com temas que prendem a atenção como uma campanha de LARP entre diferentes gangues. A história não tem nada de mais, porém alguns momentos conseguem fazem o jogador se importar com o personagem que está ajudando. É fácil se importar com seus três grandes amigos, especialme­nte com a mecânica Neenah.

Só que, com essa mudança radical de comportame­nto, o que tentam colocar de humor bobo ou violento muitas vezes não combina com as situações ou só parece estranho. O seu personagem é um bom exemplo. Ele age como uma pessoa normal, exceto pelos pontos em que ele deixa claro no meio do diálogo que é uma máquina de

matar sem remorso, dito com essas palavras. A história não decide se quer ser uma bobagem escrachada ou falar sobre uma amizade entre criminosos, e assim Saints Row fica perdido e sem tempero. En um jogo dos sonhos, sua ascensão no crime seria uma história empolgante sobre criar um grupo de grandes procurados igual a One Piece, mas essa aqui passa longe.

FALSA MUDANÇA

Já que a Volition neutralizo­u a personalid­ade da série sem colocar muito no lugar dela, pelo menos poderia compensar com um jogo moderno, diferente, que tivesse o mesmo frescor que SR3 tinha em sua época. E aqui está o maior paradoxo desse reboot de Saints Row: o reboot mudou tão pouco em relação aos jogos anteriores, que se tornou um negócio diferente do que temos atualmente justamente por ser muito ultrapassa­do. Estranhame­nte, ver um game que apenas tenta fazer o que GTA fazia no começo dá um ar involuntar­iamente nostálgico para Saints Row, que pode até agradar alguns jogadores.

Esse é um jogo de ir do ponto

A ao ponto B em uma missão principal enquanto ouve uma conversa no carro e escolhe uma das rádios para ouvir. O carro tem física super simples e os veículos do cenário parecem dirigidos por personagen­s sem inteligênc­ia. Há um monte de atividades extras que envolvem dirigir ou sair em uma longa série de assassinat­o em massa. A cidade tem as atrações que todo mundo já viu e esconde os colecionáv­eis e os minigames específico­s que se espera. Nada disso é exatamente mal feito. Na verdade, passa uma sensação de conforto, como se estivéssem­os jogando San Andreas ou Sleeping Dogs sem compromiss­o.

Algumas atividades extras são divertidas e há um sistema coeso de comprar propriedad­es e as construir no lugar que quiser do mapa, para então cumprir objetivos para ganhar mais dinheiro. Porém nada tem muito destaque e Santo Ileso simplesmen­te não é um lugar interessan­te ou atrativo fora das missões principais. O que também não ajuda é que, na época do lançamento, havia um mar de bugs que habitavam todas as áreas do jogo.

NEM TENTOU...

A questão é que tudo, da Inteligênc­ia Artificial a falta do sistema de cover, é meio velho, cômodo e não tem nada que se destacaria nem uma década atrás, muito menos hoje. Saints Row é um tipo de jogo extinto, que já não existe há um tempo. Pense em quantos jogos de mundo aberto em uma cidade atual foram lançados após GTA V.

Pouquíssim­os. O segundo jogo mais vendido de todos os tempos foi o meteoro para a extinção de todos os concorrent­es, e depois outro tipo de vida começou a reinar nas experiênci­as de mundo aberto. The Witcher 3, Horizon, Breath of the Wild, Red Dead Redemption II,

Death Stranding, Elden Ring...

em quase todo ano desde

GTA V, tivemos um jogo que tenta fazer algo diferente com o gênero, e todos eles são diferentes um do outro.

Todos esses exemplos têm o ingredient­e óbvio que falta em Saints Row: ambição. Até mesmo aqueles que seguem um padrão mais clássico, como Spider-Man e Ghost of

Tsushima, têm a intenção de ir além em algum aspecto, seja com a sensação de ser um super-herói ou pelo visual absurdamen­te lindo. Esse reboot não tem nada disso. Pelo contrário: em vez de abandonar a vibe anterior e levar a série adiante, a Volition abandonou a vibe e puxou a série para trás, criando um título que está contente em ser um mero clone de GTA – algo que SR3 e 4

tentaram evitar ao máximo e até zoavam esse concorrent­e.

Então não é que Saints Row

seja péssimo, apenas pareceu que era um jogo de PS3 perdido na loja atual. Saints Row faz questão de não tentar e esse é seu maior pecado. É um SR4 sem tudo que o tornava diferente, e só é indicado para quem esteja procurando um jogo "tipo GTA"

de duas gerações atrás e não ache que isso é um problema.

VEREDITO

Quase um jogo de PS3 em 2022, esse reboot não tem ambição e ainda retirou o que fez os últimos Saints Row ganharem destaque, sem colocar nada no lugar.

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Esta imagem poderia ser de qualquer jogo de mundo aberto dos anos 2000
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• PS4, PS5
• AÇÃO,
MUNDO ABERTO
• VOLITION,
DEEP SILVER
• PORTUGUÊS (TEXTO)
• MÍDIAS FÍSICA E DIGITAL
FICHA • PS4, PS5 • AÇÃO, MUNDO ABERTO • VOLITION, DEEP SILVER • PORTUGUÊS (TEXTO) • MÍDIAS FÍSICA E DIGITAL
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 ?? ?? O sistema de pilotagem lembra os tempos de GTA em que os carros pareciam patinar no gelo
O sistema de pilotagem lembra os tempos de GTA em que os carros pareciam patinar no gelo
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O palco do game é a cidade de Santo Ileso, um belo lugar dominado por facções criminosas
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Ao menos o sistema de personaliz­ação de criminosos e veículos rende bons resultados

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