MIDNIGHT FIGHT EXPRESS
Um beat'em up moderno que não precisa ser levado a sério
Desde a explosão dos beat'em up nos fliperamas no final da década de 1980, a fórmula introduzida pelo gênero passou por raras mudanças e acabou perdendo a popularidade: o beat'em up parecia ter alcançado seu ápice muito tempo atrás. Parecia. Nos últimos anos, algumas desenvolvedoras independentes voltaram seus olhos novamente para o gênero na tentativa de modernizá-lo, mas sem jamais abrir mão da essência que arrebatou os fãs tempos atrás. Midnight Fight Express é um exemplo dos rumos para onde essa modernização pode nos levar.
O jogo de Jacob Dzwinel conta a história de Cara de Bebê, ex-criminoso que se torna um exército de um homem só em uma noite caótica de lutas intermináveis contra gangues que querem assumir o controle da Cidade do Amanhã. A história é contada no começo de cada fase como um flashback. Os interrogadores da polícia que tentam descobrir a verdade por trás de Cara de Bebê, que, junto com seu amigo Droninho, limpou violentamente o crime da cidade. Ao longo das 40 fases do jogo, a história do herói improvável é revelada pouco a pouco, mas não espere uma trama épica ou dramática: é uma narrativa rasa, marcada por diálogos de pouca ou nenhuma profundidade, que quebram o ritmo de pancadaria em diversos momentos e que podem ser desativados no menu.
O jogo não faz questão de se levar à sério e é repleto de homenagens à cultura pop – um dos personagens é uma referência a Tyler Durden, protagonista do filme Clube da Luta, e outro inimigo é inspirado no Coringa. Midnight Fight deixa claro que o forte do beat'em up isométrico é seu combate frenético, constante e violento.
O sistema de combate é semelhante ao dos jogos do Batman da Rocksteady. Não é raro se ver cercado por inimigos e desferindo golpes, se esquivando, aparando
A variedade de cenários, inimigos e armas impressiona e nos fazem relevar a narrativa pobre de Cara de Bebê ataques e os contra-atacando, ou pulando rapidamente de um alvo para outro. À medida que avança pela campanha, é possível desbloquear novas técnicas que tornam as brigas cada vez mais legais: Cara de Bebê ganha acesso à combos e finalizadores brutais, uma arma secundária que dispara de munições comuns até projéteis hipnóticos e minas de dardo, e um arpão para puxar inimigos em sua direção ou arremessá-los em direção à outros. Todas as técnicas se combinam de forma natural e dão possibilidades quase infinitas aos jogadores – é uma pena que o mapeamento de alguns comandos não são tão bons e resultam em movimentos que nem sempre saem como o esperado (colocar as execuções contextuais no mesmo botão da arma secundária foi uma ideia contestável).
Somando ao combate, tudo na cidade, que parece inspirada na lendária Gotham City, é uma arma em potencial: desde pratos e cadeiras até cassetetes de policiais e sabres de piratas. São mais de 100 armas que facilitam bastante a jornada, embora tenham durabilidade reduzida e muitas vezes acabem nas mãos de inimigos mais espertos. Há também armas de fogo, que fazem com que Cara de Bebê encarne o estilo Baba Yaga de John Wick. Todos os movimentos de combate foram capturados com dublês e o resultado impressiona, tanto pela qualidade quanto pela quantidade: Eric Jacobus, de God of War e The Last of Us Part II, e Fernando Jay Huerto, de Destiny 2, fizeram o trabalho que garante a personalidade desse beat'em up.
O que também impressiona é a variedade de inimigos, que vão de palhaços e piratas até coelhinhas, policiais e zumbis, apinhando portos, bares, estradas, linhas de trem e toda sorte de cenário urbano nas cerca de cinco horas de campanha, embaladas pela trilha sonora frenética de Noisecream, que canaliza perfeitamente o balé brutal de Midnight Fight Express.
VEREDITO
A história fraca de Midnight Fight Express não tira os méritos do combate viciante. Liberar habilidades, combos e tentar completar as dezenas de desafios são motivos suficientes para jogar de novo e de novo.