SILENT HILL 2
A DIFÍCIL TAREFA DE RESTAURAR UMA OBRA PRIMA DO TERROR
Poucos remakes exigem tanto respeito quanto este que, para muitos, é mais do que "só" o melhor jogo de horror já feito: é uma das maiores obras do gênero em qualquer mídia. A Konami parece disposta a investir alto nesse completo remake do clássico de 2001 (mais do que isso, só se fizesse internamente trazendo o próprio Team Silent de volta). O jogo será feito na Unreal Engine 5, utilizando todas aquelas novas técnicas de bilhões de polígonos e iluminação global.
O desenvolvimento do remake está a cargo do Bloober Team, estúdio polonês que tem feito fama com jogos de terror desde Layers of Fear (um dos primeiros a copiar... digo, que se inspiraram em P.T. após o cancelamento de Silent Hills). Tem gente que não é muito fã desse time por achar que eles pecam muito em pequenos detalhes que diferenciam um jogo de horror bom e um ótimo, o que já deixa uma galera com um pé atrás quanto ao remake. Afinal, a série Silent Hill era mestre em fazer de pequenos detalhes elementos cruciais (pelo menos nos quatro primeiros jogos da Team Silent).
Mas não fique pessimista ainda. Duas das principais mentes por trás do jogo original foram chamadas para dar autenticidade: Masahiro Ito, que criou todas as criaturas absurdas da série, e Akira Yamaoka, o prolífico compositor que fez fama justamente com a trilha e os efeitos sonoros de SH2. O trailer de revelação parece fiel ao jogo original, porém, ao mesmo tempo, se torna um pouco distinto com todo o realismo extra vindo da alta resolução. Aquela atmosfera mais surreal certamente será menos presente.
Esse é o tipo de situação inevitável em um remake de um jogo com 21 anos de idade. Manter a estética do PS2 intacta usando técnicas muito mais avançadas é impossível e ainda mais complicado é encontrar um estilo que agrade aos fãs mais devotos e às expectativas de um jogo de alto orçamento de PlayStation 5. O que vai pesar mesmo é como o Bloober Team vai cuidar dos detalhes e das alterações fora dos gráficos. Por exemplo, não dá para deixar a clássica câmera fixa nos dias de hoje. Isso obriga a deixar a visão por trás do ombro do protagonista, o que automaticamente altera a percepção de alguns eventos e de como o medo é criado em várias áreas que escondiam parte do ambiente de forma proposital.
Vamos ver se a equipe está à altura de carregar uma responsabilidade tão grande nas costas e fazer um trabalho digno. Poucos remakes são tão difíceis de acertar e serão tão analisados quanto esse. Ainda não há data para o lançamento, mas está garantido que será exclusivo para PS5 por no mínimo um ano.
SILENT HILL: TOWNFALL
O segundo projeto anunciado é esse que, mesmo com apenas um pequeno teaser sem maiores informações, permite que tenhamos uma ideia cínica do que está acontecendo: é a Konami deixando alguém fazer um jogo no estilo que Hideo Kojima iria fazer com Silent Hills antes de ser demitido pela empresa. A começar pelo estúdio No Code, que tem no currículo Stories Untold e Observation, dois jogos que seguem a mesma ideia de história tensa e curta com enigmas vagos. Aí você assiste ao trailer e vê imagens esquisitas na tela de uma pequena TV portátil dentro de uma casa e uma gravação com uma vibe parecida com a de P.T. Fora o nome Townfall, que nos lembra que Silent Hills teria uma cidade cheia de cenários internos para explorar e entender o que aconteceu com ela. Talvez não seja nada disso, mas é difícil pensar em outras possibilidades ligando os pontos. Esse também não tem data de lançamento.
SILENT HILL: ASCENSION
Esse não é um jogo normal. É melhor descrito como uma "experiência interativa" em que todo mundo poderá influenciar os eventos de uma história em Silent Hill. Quem está por trás disso é uma empresa chamada Genvid, que é especializada nesse tipo de experiência e seus projetos funcionam mais ou menos assim: você participa de minigames para juntar pontos que podem ser usados para votar em como a história do episódio deve continuar. É um negócio meio Twitch Plays, meio
Until Dawn, só que com muito mais gente participando e, na prática, menos interativo. A história e o visual estão a cargo da Bad Robot (a empresa do cineasta JJ Abrams) e o desenvolvimento conta com a ajuda da Behaviour Interactive, criadora do popular multiplayer Dead by Daylight (que já fez parcerias com Silent Hill). Ascension será lançado em 2023, ainda sem confirmação se será lançado em consoles ou só para PC.
SILENT HILL f
Claro que o remake de SH2 nos empolgou, mas esse último anúncio é o que mais chamou nossa atenção: um episódio completamente novo e, pela primeira vez em muitos anos, escrito por japoneses, com aquele estilo de terror genuinamente japonês, como eram os jogos da época do Team Silent. Ele até mesmo se passa no Japão dos anos 1960, o que deve deixar tudo fora da timeline e da história da série principal, mas só a atmosfera já empolga mais do que os episódios mais recentes.
A história foi escrita por Ryukishi07, autor da célebre visual novel de terror e suspense
Higurashi When They Cry e sua sequência
Umineko When They Cry, o que adiciona algum pedigree e confiança a um projeto que deixa dúvidas quanto ao estúdio responsável pelo desenvolvimento: Neobards Entertainment, que fica em Taiwan e, apesar de ter sido criado por vários veteranos da indústria, até o momento trabalhou muito mais em suporte e em ports de jogos de terceiros (como as versões de nova geração de RE2, RE3 e RE7, além de Devil May Cry HD Collection). O crédito mais direto da empresa até o momento é a nova versão de RE:Verse, o multiplayer de
Resident Evil Village que sofreu um reboot depois da recepção inicial negativa.
Se a CG inicial foi idealizada pela Neobards, o game já merece um voto de confiança tranquilamente pelas imagens e sons perturbadores e o visual de "terror lindo" cheio de flores e formas bonitas, que deve combinar bem com o design de criaturas perturbadoras da ilustradora japonesa Kera.
Silent Hill f pode iniciar uma nova direção para a série e ainda não tem data de lançamento.
RETURN TO SILENT HILL
No pacote de novidades para os fãs da cidade dos pesadelos há também o novo filme que motivou esses games. O nome é Return to Silent Hill, dirigido novamente pelo diretor francês Christophe Gans (diretor do primeiro, não do terrível Silent Hill: Revelação, de 2012). O roteiro está pronto e será uma adaptação da história de SH2, porém ainda não há elenco definido nem previsão de início das filmagens.
O REMAKE DE SILENT HILL 2 ESTÁ NAS MÃOS DO ESTÚDIO QUE SE DESTACOU POR LAYERS OF FEAR E OBSERVER
Se a tensão está um pouco elevada quanto ao remake de Silent Hill 2, outro clássico eterno de terror do PS2 está em uma situação mais tranquila. Talvez por Resident Evil 4
ser um jogo muito mais direto no visual e de puro entretenimento, é mais fácil olhar para o trabalho que está sendo mostrado nessa nova versão e achar objetivamente superior ao clássico de 2005.
Não que estejamos tirando o mérito desse remake. Pelo contrário: a julgar pelos trailers, a RE Engine parece ter alcançado outro nível de qualidade nos gráficos, indo além até do visto em Resident Evil Village. A comparação com o original é até injusta, mas a vegetação densa agora invade os caminhos em vez de se limitar a folhas secas no chão, a iluminação é muito mais dramática e os modelos dos personagens – até dos ganados – chamam a atenção pela alta qualidade.
Com todo o poder extra, sem contar a evolução natural de design e narrativa dos videogames nos 17 anos entre as duas versões, algumas mudanças eram inevitáveis. Primeiro que o Leon agora consegue andar enquanto faz pontaria com sua arma, o que era um dos pontos mais contestados de RE4
e que não tinha como ser ignorado em 2022. Essa mudança torna os inimigos um pouco menos ameaçadores, porém os trailers dão indícios de que a Capcom levou isso em conta. Os ganados parecem mais agressivos e letais, e há até uma nova mecânica de andar
abaixado para passar por lugares sem ser notado, algo que certamente não seria tão necessário no jogo original.
Sua faca também tem mais utilidades agora para lidar com essas ameaças maiores. Ela pode ser usada para repelir ataques inimigos ao conseguir acertar o tempo do comando. Leon até consegue encarar até o ataque do maluco da motosserra na vila desse jeito! A faca tem um medidor que limita seu uso. Embora a gente não saiba como isso funciona exatamente, terem impedido o uso constante significa que ela será uma arma bem mais forte e versátil do que antes.
PADRÃO ELEVADO
A apresentação também exige muitas mudanças em eventos e afins. Apesar de o jogo ser "mais ou menos do mesmo tamanho do original" segundo os produtores, ele toma mais tempo para construir as situações de forma correta. O início de RE4 é extremamente direto e conta com alguns momentos meio desajeitados. Leon chega na vila com dois policiais aleatórios, entra em uma casa com um habitante que tenta acertar um machado nele, executa o "civil" e depois pula da janela do andar de cima sem motivo algum após pegar munição.
Já o remake investe um tempo a mais com a história de Leon se tornando um agente do governo (cena que não foi exibida publicamente, assim como a chegada dele com os policiais). A primeira área agora está de noite e a casa é muito maior, com porão e mais quartos. Não mostram o encontro com o primeiro ganado, porém ele volta mais tarde, com o pescoço completamente quebrado em 90 graus e tentando matar Leon. O agente vai ao andar superior e encontra pistas sobre Ashley, depois se vê obrigado a pular da janela exatamente do mesmo jeito que antes, só que agora motivado por estar encurralado contra alguns oponentes. Esse é o melhor tipo de melhoria que um remake que tenta ser fiel pode fazer. Tudo ainda acontece do mesmo jeito, apenas com mais contexto que caberia perfeitamente no original, caso houvessem recursos técnicos para tal.
Outra mudança muito perceptível está no visual dos personagens. A agente Hannigan, que é seu contato via "codec", agora aparece nas cenas, em vez de ser só uma conversa com dois pequenos avatares na tela. Ashley, a filha do presidente que é a donzela em perigo da história, está um pouco mais velha, com um outfit mais moderno, e o melhor: ela parece bem menos inútil do que era antes. Ada Wong teve uma mudança no rosto até mesmo em relação ao remake de Resident Evil 2 e seus traços asiáticos estão muito mais acentuados.
Mesmo com essas mudanças, esse ainda é aquele Resident Evil 4 que amamos. A parte da vila está intacta: o mesmo horário diurno, a fogueira no centro com o policiais, os camponeses malucos, a vaca aleatória parada do lado direito da vila (dá para fazê-la sair correndo e acertar quem estiver na frente), os caminhos pelos telhados… Por muito tempo achamos desnecessária a ideia de remake de um jogo que ainda se segura muito bem nos tempos atuais, mas essa primeira amostra da Capcom está nos fazendo pensar que, de fato, essa é uma ótima ideia. O remake de Resident Evil 4 será lançado para PS4 e PS5 em 24 de março com dublagem em português.