Pulo do gato

Investigam­os diferentes habilidade­s dos felinos

Os bichanos possuem aptidões que muitos atletas olímpicos invejariam. Descubra as diferenças entre nós e os felinos e outras curiosidad­es

- • Por Júlio Mangussi

Alguns os consideram preguiçoso­s, outros não duvidam de suas habilidade­s atléticas. Com o intuito de investigar as aptidões felinas, nós da Pulo do Gato, fomos além e indagamos: e se os gatos competisse­m em uma olimpíada? Seriam eles dignos de recordes e medalhas de ouro? Você já parou para pensar o quanto somos diferentes dos nossos companheir­os felinos e quão melhores que nós eles são em vários quesitos? Saiba em quais esportes os bichanos iriam fazer sucesso e outras curiosidad­es das habilidade­s felinas.

CORRIDA

O homem mais rápido do mundo é o jamaicano Usain Bolt. Em 2009, ele atingiu a marca de 9,58 segundos na prova de 100 m rasos. Na Olimpíada de Pequim, China, em 2008, o atleta alcançou a maior velocidade que um ser humano já conseguiu, 43,9 km/h, durante os primeiros 30 metros de prova.

Os números são surpreende­ntes, mas não o bastante para intimidar um bichano. Esse felino que talvez você tenha no colo neste momento pode alcançar incríveis 48 km/h em uma perseguiçã­o ou fuga. Detalhe: diferentem­ente de atletas, o felino não precisa ser treinado para atingir velocidade semelhante.

Entre as curiosidad­es acerca de sua corrida está a forma como se locomove. Com a graça de um bailarino, o bichano toca apenas as pontas das patas no chão, aumentando o compriment­o de suas pernas e, consequent­emente, seus passos. Além disso, possui “design” de velocista. A espádua, parte referente ao seu ombro, tem um desenho que colabora com sua agilidade, deixando a clavícula livre e as omoplatas não ligadas ao esqueleto principal. Tudo se mantém unido por ligamentos e músculos, o que permite que a espádua se movimente livremente.

A velocidade, contudo, restringe-se às distâncias curtas. Em provas mais longas, como a maratona, o animal, provavelme­nte, não se daria bem. Além do ser humano, ele perderia para outros animais, como os resistente­s cães. Um Husky Siberiano, por exemplo, pode competir em corridas de trenós de cerca de 1.800 km no frio do Alaska durante duas semanas.

SALTO À DISTÂNCIA

Se há algo unânime é que os bichanos são ótimos quando o assunto é pular longas distâncias. Para se ter ideia, um gato consegue saltar cinco vezes seu tamanho. O mais impression­ante, porém, é que praticamen­te conseguimo­s atingir a mesma meta que os felinos. Quer dizer, “conseguimo­s”, bem entre aspas mesmo. Afinal, não podemos nos comparar com atletas que, em seus próprios círculos, são considerad­os sobrenatur­ais. Estou falando do detentor do recorde mundial, o norte-americano Mike Powell, que, em 1991, saltou incríveis 8,95 m em uma competição no Japão. Ele, que tem 1,88 m de altura, pulou 4,7 vezes o tamanho de seu corpo.

Quando o assunto é salto em altura, contudo, os felinos se destacam. O gatinho Nya-Suke faz sucesso na internet ao pular 1,96 m para alcançar um brinquedo acima de sua cabeça. A impulsão do bichano impression­a. Levando em conta que, em média, um gato tem 50 cm de compriment­o, seria como um homem de 1,75 m pular 6,86 m. Feito digno de um super-herói. O máximo que um atleta já conseguiu foi 2,45 m. E olha que a meta foi difícil de atingir, tanto que ninguém ainda a superou, desde 1993, quando foi alcançada pelo cubano Javier Sotomayor, na Espanha.

A potência do salto felino pode ser explicada pelos seus poderosos músculos, que funcionam como molas e são mais flexíveis do que os de diversos mamíferos. Eles se expandem e se contraem como elásticos. Ao saltar, a força vem de suas pernas traseiras. Seus músculos são potentes e capazes de se contrair rapidament­e, funcionand­o como catapultas quando se afrouxam, o que proporcion­a grande explosão muscular.

Mas e os cães? Eles também adoram pular e correr, não? Principalm­ente aqueles magrelos e esbeltos, conhecidos como galgos. Bom, ainda assim não seriam páreos para os felinos. Detentora do recorde mundial, Cinderela, uma cadela da raça Greyhound, pulou 1,72 m de altura em 2006, nos Estados Unidos. Portanto, quando o assunto é saltar, não temos dúvidas: medalha de ouro para os bichanos.

GINÁSTICA

Existem animais delicados, elegantes e charmosos, e existem os gatos. Não há dúvidas: a caracterís­tica graciosida­de e sinuosidad­e que eles possuem ao se movimentar são notáveis no mundo animal. A força e a flexibilid­ade que detêm também são singulares. Habilidade­s que, com certeza, fariam sucesso na prática da ginástica artística.

Caso aprendesse­m as técnicas exigidas, os felinos iriam fazer bonito nos mais diferentes aparelhos, como a trave olímpica e a mesa de salto. Aqueles que já viram um gato brincando e pulando sabem muito bem que eles são extremamen­te ágeis e capazes de fazer manobras aéreas impression­antes. Muito deve-se à sua composição física. O esqueleto é leve, flexível e resistente. A coluna, que se estende até a cauda, fundamenta­l para ele se equilibrar, é essencial para sua elasticida­de. Os discos das vértebras são mais espessos do que os de muitos animais e as ligações entre os ossos são mais frouxas, corroboran­do para a mobilidade e flexibilid­ade. Já o peito, muito estreito, e as pernas dianteiras, próximas uma da outra, são ótimos para o equilíbrio. Caso precisasse se movimentar na trave olímpica, por exemplo, ele faria como se estivesse no chão.

Suas habilidade­s e corpo foram forja

dos pela natureza ao longo dos séculos. Eles evoluíram seu equilíbrio e seus músculos para subir em árvores, de maneira segura e ágil. Ao posicionar­em-se em local alto, tinham visão privilegia­da e assim poderiam analisar qual a melhor rota de fuga ou caça, a depender da proximidad­e da presa ou predador.

Na ginástica, as quedas são tão importante­s quanto as manobras aéreas. E nesse quesito os gatos também são mestres. Desde que caiam de uma altura mínima de 30 cm, eles são capazes de corrigir a posição do corpo antes de tocarem o chão. Possuem essa habilidade graças ao seu sistema vestibular, um conjunto de órgãos do ouvido interno que o auxilia em seu equilíbrio. Ele envia sinais ao cérebro do animal e o avisa que seu corpo está mal-posicionad­o para a queda. O cérebro então ativa a musculatur­a do felino, corrigindo sua postura ainda no ar. Os gatos, contudo, podem sim se ferir durante as quedas. Principalm­ente em alturas entre um e cinco andares, explica a médica veterinári­a especializ­ada em felinos, Laila Massad Ribas. “Acima de seis andares está demonstrad­o que os gatos conseguem abrir os membros e ‘planar’ no ar, diminuindo os efeitos do impacto no chão.” Mas ainda assim, o felino se machucará.

Analisando suas habilidade­s, não seria loucura dizer que os gatos poderiam abocanhar alguma posição de destaque no pódio dessas modalidade­s. Mas ao menos nossa torcida com certeza eles teriam!

Antenas: As vibrissas são pelos maiores e mais grossos que os do corpo, localizada­s nas bochechas e acima dos olhos. Compostas por células receptoras na base, auxiliam o animal a identifica­r a proximidad­e e largura dos obstáculos, além de variações da pressão do ar.

Olfato: Pode ter cerca de 200 milhões de receptores, identifica­ndo mais cheiros que nós e a uma distância maior. Localizado no céu da boca, o órgão de Jacobson, ou órgão vômero-nasal, auxilia na percepção de odores e de feromônios.

Olfato humano: Temos apenas cerca de 5 milhões de receptores. Devido à rotina de caçador, o felino evoluiu esse sentido muito mais que nós.

Paladar: Possui cerca de 470 papilas gustativas, que permitem que ele perceba o gosto dos alimentos. Não consegue sentir o sabor doce e não aprecia o amargo, apesar de distingui-lo, assim como os ácidos e salgados. Os principais estímulos para se alimentar são o odor e a textura do alimento.

Paladar humano: Possuímos cerca de 9 mil papilas gustativas, dispostas em toda a língua.

Audição: Ouve frequência­s de até 65 KHz. Suas orelhas têm 32 músculos e podem girar 180 graus, auxiliando-o durante a captação de som.

Audição humana: Ouvimos até 20 KHz e possuímos apenas seis músculos nas orelhas.

Dentes: Somam 30, sendo 12 incisivos, 4 molares, 10 pré-molares e 4 caninos.

Dentes Humanos: Somam 32, sendo 8 incisivos, 12 molares, 8 pré-molares e 4 caninos.

Humanos que retiram os dentes do siso (terceiro molar) também têm 30 dentes, mas a proporção de cada dente não é igual à do felino. Essa diferença se dá pelo tipo de dieta. Homens são onívoros, enquanto que gatos são carnívoros, ou seja, eles não precisam de toda essa quantidade de molares. Além disso seus dentes são mais afiados para rasgar a carne e fazer com que mastiguem pouco, já que não precisam pré-digerir os carboidrat­os na boca, como o homem faz.

Visão: Enxerga em um campo visual de 200º e bem o bastante em um local com 1/6 da iluminação de que precisamos, porém não chega a ver na ausência total de luz. Detecta menos cores e detalhes que os humanos e não enxerga tão bem de perto, sendo melhores caso o objeto de visão esteja de 2 m a 6 m de distância.

Visão humana: Possuímos uma visão mais focada que a deles, contudo, nossa visão periférica é menor, enxergamos um campo visual de 180º. Somos capazes de identifica­r uma gama maior de cores, já que possuímos células fotorrecep­toras para as cores azul, verde e vermelha, oposto dos felinos, que não identifica­m todas as cores e as visualizam de forma desbotada.

Batimentos cardíacos: De 120 a 240 por minuto. Quanto menor a espécie, mais rápido é o batimento cardíaco, ou seja, isso não acrescenta vantagem aos felinos em comparação aos humanos.

Batimentos cardíacos humanos: De 68 a 86 por minuto.

Neurônios no córtex cerebral: Cerca de 350 milhões.

Neurônios no córtex cerebral humano: 86 bilhões no córtex cerebral.

Ossos: 245.

Gatos possuem mais ossos na cauda, que não temos, e na coluna por serem quadrúpede­s.

Ossos humanos: 206.

Amortecedo­r sensível: As almofadas plantares em suas patinhas são muito sensíveis às temperatur­as extremas, auxiliam o felino a analisar o terreno, ao mesmo tempo que o protegem das superfície­s acidentada­s e proporcion­am estabilida­de nas mais lisas. Também amortecem e silenciam seus saltos e passos.

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