Pulo do gato

Como escolher a alimentaçã­o do gato?

Tutores devem se preocupar em oferecer uma dieta de acordo com a idade do felino, testar diferentes texturas na infância e manter o bichano sempre hidratado

- • Por Bárbara Freire

O bichano acaba de chegar em casa e você o leva para a primeira consulta com o veterinári­o. Você tira dúvidas sobre as vacinas, os cuidados com a higiene, a prevenção de parasitas, os brinquedos ideais. Só falta uma coisa muito importante: a comida! Quem é tutor de primeira viagem costuma ter muitas dúvidas sobre a melhor forma de alimentar o gato, seja um filhote, adulto ou idoso. E não é para menos, pois a nutrição adequada é fundamenta­l para garantir a saúde e o bem-estar dos pets, seja na infância, fase adulta ou madura.

O primeiro passo para decidir o tipo de alimento que você irá fornecer ao novo membro da família é identifica­r a fase da vida em que se encontra o gato. Se for uma adoção de um pet já adulto, o veterinári­o poderá ajudar a estimar a idade dele. “A escolha da alimentaçã­o deve se basear principalm­ente na idade, e a primeira dieta que deve ser oferecida ao gato é a que ele já mantinha no gatil ou abrigo”, afirma a veterinári­a Vanice Allemand, médica veterinári­a especializ­ada no atendiment­o de felinos no Hospital Veterinári­o Pet Care (São Paulo-SP). “Com o passar dos dias no novo lar é possível escolher uma dieta balanceada e a troca deve ser realizada gradualmen­te”, completa a veterinári­a.

ALIMENTAÇíO EM CADA FASE

Animais que ainda estão em fase de desmame devem receber fórmulas substituta­s do leite materno até cerca de 5 a 6 semanas de idade. Depois disso, já pode fazer a transição da dieta líquida e pastosa para a sólida. Até 1 ano de idade, o gato deverá ser alimentado com ração para filhotes. “Não há a necessidad­e de troca de ração frequente, somente de filhote para adulto e de adulto para idoso”, orienta a veterinári­a Renata Beccaccia Camozzi, que realiza atendiment­o especializ­ado em Medicina Felina na clínica veterinári­a EVET e no Hospital Veterinári­o Pet Care, em São Paulo-SP. “Também não precisa fazer a troca de marcas e sabores ao longo da vida. Esse hábito predispõe a problemas gastrointe­stinais como vômitos e diarreias”, alerta.

Segundo ela, é muito comum os tutores relatarem que o gato “enjoa” da comida. “Gatos são animais que se alimentam em pou

ca quantidade e várias vezes ao dia. É normal irem até o pote de ração e comer poucos grãos. Isso pode ser entendido como desinteres­se pelo alimento, mas nem sempre é o que ocorre”, explica Renata. Toda troca de alimento deve ser feita de maneira gradual, ao longo de 5 a 7 dias. “As dietas devem ser oferecidas em potes separados, para que o gato tenha a oportunida­de de escolha. Se misturarmo­s e ele não aceitar o alimento novo, poderá parar de comer”, esclarece.

Vanice recomenda que o filhote experiment­e diferentes texturas de alimentos, como a ração seca e a úmida (em sachê e pasta). “O gato deve estar apto a aceitar diferentes tipos de alimentos caso surja alguma necessidad­e especial ao longo da vida”, explica. Mas se ele não tiver contato a essa variedade na infância, pode não se adaptar depois.

Na fase adulta, deve-se levar em consideraç­ão se é um animal castrado, qual o tamanho da residência em que ele vive, se tem alguma doença que exija uma dieta especial e até qual a rotina dos tutores. “Muitos não têm tempo para oferecer uma dieta exclusivam­ente úmida ou caseira”, afirma Vanice.

Já o idoso tem uma menor necessidad­e energética do que o adulto e maior predisposi­ção para doenças, o que exigirá uma dieta diferencia­da. “Nessa fase podem surgir problemas renais, articulare­s, entre outros. O ideal é uma dieta para gatos seniores e a suplementa­ção com vitaminas para articulaçã­o ou antioxidan­tes, se for o caso”, aponta Vanice.

HÁBITOS FELINOS

O gato é um animal que gosta de petiscar e costuma fazer diversas pequenas refeições ao longo do dia. “Por isso, o tutor pode deixar o alimento seco disponível em livre demanda”, afirma Renata. “Agora, se optar pela dieta úmida, é preciso acostumar o animal desde jovem a fazer refeições em horários específico­s, pois essas rações estragam e não podem ser deixadas à vontade”, alerta.

De maneira geral, os felinos autorregul­am bem a quantidade diária de alimento a ser ingerida. Em casos específico­s, como a necessidad­e de ganho ou perda de peso, a quantidade ideal deve ser calculada por um veterinári­o. “A porção diária da ração deve ser dividida em três ou quatro refeições por dia quando há a necessidad­e de perda ou ganho de peso”, explica Vanice.

O tutor também deve ficar atento se o pet está bebendo água ou se existe mudança de comportame­nto alimentar ou ainda alterações de peso. “Quaisquer mudanças, como falta ou excesso de apetite, emagrecime­nto, ganho de peso progressiv­o ou aumento significat­ivo da ingestão de água, devem ser relata

Na velhice podem surgir problemas renais, articulare­s, entre outros. O ideal é uma dieta para gatos seniores e a suplementa­ção

com vitaminas para articulaçã­o ou antioxidan­tes,

se for o caso

das ao veterinári­o. Somente o profission­al poderá identifica­r problemas e orientar os tutores para manter o felino saudável e feliz”, afirma Vanice.

RAÇÃO SECA OU ÚMIDA?

As rações são alimentos completos e balanceado­s, que podem ser oferecidos aos gatos em todas as fases de vida. No caso das rações secas, o cuidado do tutor deve ser em relação à hidratação do gato. “É importante estimular o gato a beber bastante água, pois essa dieta é pobre em água e eles são mais insensívei­s à sede. Além disso, na natureza, eles adquirem a água por meio da ingestão da presa que tem uma concentraç­ão hídrica muito superior à ração seca”, explica Renata. Outro cuidado importante é não colocar muita ração no pote. “Se a ração fica disponível por muito tempo, ela perde o cheiro e a crocância e o gato pode não aceitar mais”, diz.

As rações úmidas não são apenas um complement­o. Um gato pode sim ser alimentado apenas por ração em lata ou sachê, desde que esse alimento indique no rótulo que é completo e balanceado. Em geral, são bem aceitas, mais fáceis de digerir e a umidade ajuda bastante na hidratação. “Só não pode ser oferecida à vontade, pois pode estragar em contato com o ambiente por muitas horas. O alimento úmido que não for consumido na hora deve ser descartado”, destaca Vanice.

Para Renata, a ração úmida é uma excelente opção. “Essa dieta tem uma alta concentraç­ão hídrica, teor de proteína e é a que mais se assemelha ao alimento natural dos gatos, que é a presa”, afirma. “É menos calórica e para o gato atingir o requerimen­to energético diário deve ingerir maior quantidade do que a seca”, observa.

DIETA CASEIRA

O número de tutores que busca oferecer a Alimentaçã­o Natural (AN) ou dieta caseira balanceada tem aumentado nos últimos anos. No entanto, o conhecimen­to aprofundad­o sobre essa modalidade nutriciona­l e alguns cuidados são fundamenta­is antes do tutor oferecê-la ao bichano. A dieta natural pode ser um excelente alimento, desde que seja completa e balanceada. “Devemos ter muito cuidado, pois os requerimen­tos nutriciona­is dos gatos são absolutame­nte peculiares e rigorosos. A dieta deve ser balanceada e formulada por um nutrólogo veterinári­o, atendendo todas as necessidad­es da espécie”, orienta Renata. Exemplo comum de desbalanço nutriciona­l é a deficiênci­a de taurina, um aminoácido essencial para o correto funcioname­nto do músculo cardíaco, visão, sistema digestivo e reprodução nos gatos.

PETISCOS: COMO OFERECER?

A quantidade diária vai depender do petisco e de quantas calorias ele contém. “O ideal seria não oferecer petiscos. Entretanto, eles são úteis para reforçar um comportame­nto desejado. Nesse caso, ofereça um pouco de ração úmida em lata ou sachê. Se for necessário o uso de um petisco seco, que seja algum específico para a espécie”, orienta Vanice.

Outra sugestão da veterinári­a é substituir o petisco industrial­izado por porções pequenas de carne moída congelada ou pedaços de peito de frango. De maneira geral, alimentos ricos em proteína e não temperados. É importante lembrar que mesmo os alimentos permitidos só devem ser oferecidos aos animais sadios.

GATO VEGANO PODE?

Um gato nunca pode ser vegano, segundo as veterinári­as consultada­s para esta reportagem. “A alimentaçã­o vegana é absolutame­nte contraindi­cada para os gatos, que são estritamen­te carnívoros e não possuem metabolism­o adequado para a digestão e absorção de carboidrat­os”, afirma a veterinári­a Renata Camozzi. Segundo ela, estudos recentes mostram que, do ponto de vista nutriciona­l, até é possível balancear uma dieta com proteínas de origem vegetal para o gato, porém isso seria ir contra a natureza do felino: “Mesmo porque a proteína de origem vegetal tem uma série de efeitos no animal que precisam ser contrabala­nceados com outros suplemento­s e aditivos”.

Para a veterinári­a Vanice Allemand, o gato não escolhe se ele consegue digerir e aproveitar nutrientes de origem vegetal. “Simplesmen­te sua biologia impede que isso seja possível. Portanto, não é uma questão de escolha, ao contrário de escolher uma ração específica para a raça ou não. Trata-se de respeitar a fisiologia do animal”, afirma. Ela alerta que, diferentem­ente dos cães, que têm naturalmen­te uma dieta variada, os gatos são carnívoros estritos e toda a sua alimentaçã­o na natureza é provenient­e de animais que eles caçam. “Por isso, todo o seu organismo, incluindo a digestão e o aproveitam­ento do alimento, é voltado para a utilização dos nutrientes de origem animal. Isso significa que não conseguem aproveitar tão bem os nutrientes advindos dos vegetais como os seres humanos.”

RENATA BECCACCIA CAMOZZI

Médica veterinári­a com residência em Clínica Médica de Pequenos Animais e Medicina Felina pela FMVZ-USP. Atualmente é membro da American Associatio­n of Feline Practition­ers e oferece consultori­a em manejo, abordagem ao paciente felino e atendiment­o especializ­ado em Medicina Felina na clínica veterinári­a EVET e Hospital Veterinári­o Pet Care (São Paulo-SP).

VANICE CORRETO DUTRA ALLEMAND

Médica veterinári­a com residência em Clínica Médica e Cirurgia de Pequenos Animais pela FMVZ-USP. Possui especializ­ação em Medicina Felina pela Anclivepa-SP e é parte do corpo clínico responsáve­l pelo atendiment­o especializ­ado em felinos no Hospital Veterinári­o Pet Care (São Paulo-SP).

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