Como escolher a alimentação do gato?
Tutores devem se preocupar em oferecer uma dieta de acordo com a idade do felino, testar diferentes texturas na infância e manter o bichano sempre hidratado
O bichano acaba de chegar em casa e você o leva para a primeira consulta com o veterinário. Você tira dúvidas sobre as vacinas, os cuidados com a higiene, a prevenção de parasitas, os brinquedos ideais. Só falta uma coisa muito importante: a comida! Quem é tutor de primeira viagem costuma ter muitas dúvidas sobre a melhor forma de alimentar o gato, seja um filhote, adulto ou idoso. E não é para menos, pois a nutrição adequada é fundamental para garantir a saúde e o bem-estar dos pets, seja na infância, fase adulta ou madura.
O primeiro passo para decidir o tipo de alimento que você irá fornecer ao novo membro da família é identificar a fase da vida em que se encontra o gato. Se for uma adoção de um pet já adulto, o veterinário poderá ajudar a estimar a idade dele. “A escolha da alimentação deve se basear principalmente na idade, e a primeira dieta que deve ser oferecida ao gato é a que ele já mantinha no gatil ou abrigo”, afirma a veterinária Vanice Allemand, médica veterinária especializada no atendimento de felinos no Hospital Veterinário Pet Care (São Paulo-SP). “Com o passar dos dias no novo lar é possível escolher uma dieta balanceada e a troca deve ser realizada gradualmente”, completa a veterinária.
ALIMENTAÇÃO EM CADA FASE
Animais que ainda estão em fase de desmame devem receber fórmulas substitutas do leite materno até cerca de 5 a 6 semanas de idade. Depois disso, já pode fazer a transição da dieta líquida e pastosa para a sólida. Até 1 ano de idade, o gato deverá ser alimentado com ração para filhotes. “Não há a necessidade de troca de ração frequente, somente de filhote para adulto e de adulto para idoso”, orienta a veterinária Renata Beccaccia Camozzi, que realiza atendimento especializado em Medicina Felina na clínica veterinária EVET e no Hospital Veterinário Pet Care, em São Paulo-SP. “Também não precisa fazer a troca de marcas e sabores ao longo da vida. Esse hábito predispõe a problemas gastrointestinais como vômitos e diarreias”, alerta.
Segundo ela, é muito comum os tutores relatarem que o gato “enjoa” da comida. “Gatos são animais que se alimentam em pou
ca quantidade e várias vezes ao dia. É normal irem até o pote de ração e comer poucos grãos. Isso pode ser entendido como desinteresse pelo alimento, mas nem sempre é o que ocorre”, explica Renata. Toda troca de alimento deve ser feita de maneira gradual, ao longo de 5 a 7 dias. “As dietas devem ser oferecidas em potes separados, para que o gato tenha a oportunidade de escolha. Se misturarmos e ele não aceitar o alimento novo, poderá parar de comer”, esclarece.
Vanice recomenda que o filhote experimente diferentes texturas de alimentos, como a ração seca e a úmida (em sachê e pasta). “O gato deve estar apto a aceitar diferentes tipos de alimentos caso surja alguma necessidade especial ao longo da vida”, explica. Mas se ele não tiver contato a essa variedade na infância, pode não se adaptar depois.
Na fase adulta, deve-se levar em consideração se é um animal castrado, qual o tamanho da residência em que ele vive, se tem alguma doença que exija uma dieta especial e até qual a rotina dos tutores. “Muitos não têm tempo para oferecer uma dieta exclusivamente úmida ou caseira”, afirma Vanice.
Já o idoso tem uma menor necessidade energética do que o adulto e maior predisposição para doenças, o que exigirá uma dieta diferenciada. “Nessa fase podem surgir problemas renais, articulares, entre outros. O ideal é uma dieta para gatos seniores e a suplementação com vitaminas para articulação ou antioxidantes, se for o caso”, aponta Vanice.
HÁBITOS FELINOS
O gato é um animal que gosta de petiscar e costuma fazer diversas pequenas refeições ao longo do dia. “Por isso, o tutor pode deixar o alimento seco disponível em livre demanda”, afirma Renata. “Agora, se optar pela dieta úmida, é preciso acostumar o animal desde jovem a fazer refeições em horários específicos, pois essas rações estragam e não podem ser deixadas à vontade”, alerta.
De maneira geral, os felinos autorregulam bem a quantidade diária de alimento a ser ingerida. Em casos específicos, como a necessidade de ganho ou perda de peso, a quantidade ideal deve ser calculada por um veterinário. “A porção diária da ração deve ser dividida em três ou quatro refeições por dia quando há a necessidade de perda ou ganho de peso”, explica Vanice.
O tutor também deve ficar atento se o pet está bebendo água ou se existe mudança de comportamento alimentar ou ainda alterações de peso. “Quaisquer mudanças, como falta ou excesso de apetite, emagrecimento, ganho de peso progressivo ou aumento significativo da ingestão de água, devem ser relata
Na velhice podem surgir problemas renais, articulares, entre outros. O ideal é uma dieta para gatos seniores e a suplementação
com vitaminas para articulação ou antioxidantes,
se for o caso
das ao veterinário. Somente o profissional poderá identificar problemas e orientar os tutores para manter o felino saudável e feliz”, afirma Vanice.
RAÇÃO SECA OU ÚMIDA?
As rações são alimentos completos e balanceados, que podem ser oferecidos aos gatos em todas as fases de vida. No caso das rações secas, o cuidado do tutor deve ser em relação à hidratação do gato. “É importante estimular o gato a beber bastante água, pois essa dieta é pobre em água e eles são mais insensíveis à sede. Além disso, na natureza, eles adquirem a água por meio da ingestão da presa que tem uma concentração hídrica muito superior à ração seca”, explica Renata. Outro cuidado importante é não colocar muita ração no pote. “Se a ração fica disponível por muito tempo, ela perde o cheiro e a crocância e o gato pode não aceitar mais”, diz.
As rações úmidas não são apenas um complemento. Um gato pode sim ser alimentado apenas por ração em lata ou sachê, desde que esse alimento indique no rótulo que é completo e balanceado. Em geral, são bem aceitas, mais fáceis de digerir e a umidade ajuda bastante na hidratação. “Só não pode ser oferecida à vontade, pois pode estragar em contato com o ambiente por muitas horas. O alimento úmido que não for consumido na hora deve ser descartado”, destaca Vanice.
Para Renata, a ração úmida é uma excelente opção. “Essa dieta tem uma alta concentração hídrica, teor de proteína e é a que mais se assemelha ao alimento natural dos gatos, que é a presa”, afirma. “É menos calórica e para o gato atingir o requerimento energético diário deve ingerir maior quantidade do que a seca”, observa.
DIETA CASEIRA
O número de tutores que busca oferecer a Alimentação Natural (AN) ou dieta caseira balanceada tem aumentado nos últimos anos. No entanto, o conhecimento aprofundado sobre essa modalidade nutricional e alguns cuidados são fundamentais antes do tutor oferecê-la ao bichano. A dieta natural pode ser um excelente alimento, desde que seja completa e balanceada. “Devemos ter muito cuidado, pois os requerimentos nutricionais dos gatos são absolutamente peculiares e rigorosos. A dieta deve ser balanceada e formulada por um nutrólogo veterinário, atendendo todas as necessidades da espécie”, orienta Renata. Exemplo comum de desbalanço nutricional é a deficiência de taurina, um aminoácido essencial para o correto funcionamento do músculo cardíaco, visão, sistema digestivo e reprodução nos gatos.
PETISCOS: COMO OFERECER?
A quantidade diária vai depender do petisco e de quantas calorias ele contém. “O ideal seria não oferecer petiscos. Entretanto, eles são úteis para reforçar um comportamento desejado. Nesse caso, ofereça um pouco de ração úmida em lata ou sachê. Se for necessário o uso de um petisco seco, que seja algum específico para a espécie”, orienta Vanice.
Outra sugestão da veterinária é substituir o petisco industrializado por porções pequenas de carne moída congelada ou pedaços de peito de frango. De maneira geral, alimentos ricos em proteína e não temperados. É importante lembrar que mesmo os alimentos permitidos só devem ser oferecidos aos animais sadios.
GATO VEGANO PODE?
Um gato nunca pode ser vegano, segundo as veterinárias consultadas para esta reportagem. “A alimentação vegana é absolutamente contraindicada para os gatos, que são estritamente carnívoros e não possuem metabolismo adequado para a digestão e absorção de carboidratos”, afirma a veterinária Renata Camozzi. Segundo ela, estudos recentes mostram que, do ponto de vista nutricional, até é possível balancear uma dieta com proteínas de origem vegetal para o gato, porém isso seria ir contra a natureza do felino: “Mesmo porque a proteína de origem vegetal tem uma série de efeitos no animal que precisam ser contrabalanceados com outros suplementos e aditivos”.
Para a veterinária Vanice Allemand, o gato não escolhe se ele consegue digerir e aproveitar nutrientes de origem vegetal. “Simplesmente sua biologia impede que isso seja possível. Portanto, não é uma questão de escolha, ao contrário de escolher uma ração específica para a raça ou não. Trata-se de respeitar a fisiologia do animal”, afirma. Ela alerta que, diferentemente dos cães, que têm naturalmente uma dieta variada, os gatos são carnívoros estritos e toda a sua alimentação na natureza é proveniente de animais que eles caçam. “Por isso, todo o seu organismo, incluindo a digestão e o aproveitamento do alimento, é voltado para a utilização dos nutrientes de origem animal. Isso significa que não conseguem aproveitar tão bem os nutrientes advindos dos vegetais como os seres humanos.”
RENATA BECCACCIA CAMOZZI
Médica veterinária com residência em Clínica Médica de Pequenos Animais e Medicina Felina pela FMVZ-USP. Atualmente é membro da American Association of Feline Practitioners e oferece consultoria em manejo, abordagem ao paciente felino e atendimento especializado em Medicina Felina na clínica veterinária EVET e Hospital Veterinário Pet Care (São Paulo-SP).
VANICE CORRETO DUTRA ALLEMAND
Médica veterinária com residência em Clínica Médica e Cirurgia de Pequenos Animais pela FMVZ-USP. Possui especialização em Medicina Felina pela Anclivepa-SP e é parte do corpo clínico responsável pelo atendimento especializado em felinos no Hospital Veterinário Pet Care (São Paulo-SP).