7 doenças de pele que merecem atenção dos gateiros
Pode parecer tudo igual, mas as lesões de pele têm causas e tratamentos muito diferentes
Assim como os cães e as pessoas, os bichanos podem ser acometidos por doenças que provocam muita coceira e danos à integridade da pele. Isso pode ser motivo de intenso desconforto para animais e tutores. O que chama mais atenção, no entanto, é que nos felinos as lesões de pele podem ser muito semelhantes entre si. “Uma dermatite alérgica pode ser confundida facilmente com uma doença causada por bactérias ou fungos, e os tratamentos são muito diferentes”, afirma a dermatologista veterinária Regina Ramadinha, professora da Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro (UFRRJ) e responsável pelo atendimento dermatológico da Animália Clínica Veterinária na capital fluminense.
A seguir, listamos as causas mais comuns de doenças de pele nos gatos para que você consiga identificar quando deve correr ao veterinário com seu pet.
ALERGIA À PICADA DA PULGA
A Dermatite Alérgica à Picada
de Pulgas (DAPE) é a principal causa de alergia nos gatos. Segundo a veterinária Márcia Lima, especialista em dermatologia e alergologia veterinária e professora da Faculdade Qualittas, não existem relatos científicos de alergia a carrapatos nos felinos, mas a alergia à saliva da pulga é comprovada e frequente no Brasil. “Nosso país tem uma média de temperatura anual alta e, por isso, há o desenvolvimento de pulgas o ano todo”, esclarece. A veterinária explica que as alergias nos felinos não têm padrão similar, como ocorre em outros animais. Assim, o gato alérgico pode ter lesões com crostas na cabeça e no pescoço, mas também pode apresentar bolinhas ou mesmo falha na pelagem em qualquer local do corpo.
Por ser muito comum, a prevenção é o principal cuidado. “Deve haver rigorosa utilização de produtos que eliminem pulgas dos animais e do ambiente. Todos os gatos da casa devem ser tratados, mesmo os que não têm alergia”, afirma
Regina. “Os prazos de repetição dos medicamentos devem ser respeitados, mesmo que as pulgas não sejam vistas nos animais”, completa. Para escolher a melhor estratégia de prevenção e controle das pulgas para seu gato, consulte o médico veterinário.
DERMATOFITOSE
As micoses cutâneas ou doenças fúngicas da pele são preocupantes pois, além de adoecerem o pet, são contagiosas para outros animais e humanos. De acordo com o veterinário do Hospital Veterinário Pet Center, de São Paulo-SP, Luiz Eduardo Bagini Lucarts, sóciofundador e atual presidente da Sociedade Brasileira de Dermatologia Veterinária (SBDV), a micose mais comum em gatos é a dermatofitose. “Essas lesões se apresentam comumente circulares, únicas ou múltiplas, com a presença de crostas”, afirma. Em geral, as lesões não coçam, mas isso vai depender do grau de inflamação que ocorrer no local. Como explica Regina, os gatos se contaminam em contato com animais doentes na rua, em praças, locais de areia contaminados ou em pet shops mal higienizados. “Alguns gatos são resistentes e podem abrigar os fungos sem desenvolver a doença”, conta. O diagnóstico é feito por avaliação das lesões, dos pelos ao microscópio e por cultura fúngica em laboratório.
ESPOROTRICOSE
Outra micose comum em gatos, mas que pode causar lesões mais graves, é a esporotricose, causada pelo Sporothrix schenkii, um fungo da terra que pode estar presente em caules de árvores e arbustos como roseiras e em outros locais que os felinos gostam de permanecer ou desgastar as unhas. As lesões são inicialmente nodulares (como caroços) ou placas avermelhadas que originam feridas que sangram muito e formam crostas enegrecidas. Elas se localizam principalmente na cabeça, orelhas, focinho, patas, cauda e genitais. “São dolorosas e os gatinhos reclamam até quando se coçam. É uma doença extremamente contagiosa e pode acometer também cães e humanos”, destaca Regina. O contágio ainda se dá por brigas, mordeduras ou arranhaduras de animais infectados. “Sempre use luvas para medicar os gatos infectados e higienize os locais onde eles estão”, orienta a dermatologista veterinária.
As lesões da esporotricose se localizam, principalmente, na cabeça, orelhas, focinho, patas, cauda e genitais. Elas são dolorosas e os gatos reclamam quando se coçam
SARNA
De acordo com Regina, a escabiose e a sarna de ouvido estão entre os principais tipos de sarna nos gatos. “A escabiose é a que causa mais danos a pele e pelagem. As lesões podem ser localizadas na cabeça, orelhas, face, nas patas ou generalizadas em várias partes do corpo”, afirma. Trata-se de uma doença contagiosa para outros gatos, cães e até humanos. Os sintomas comuns são pele muito avermelhada, com crostas, escamas e intensa coceira. Por conta deles, os gatos acabam desenvolvendo feridas com crostas no próprio corpo. “Os animais adquirem os ácaros por contágio com outros animais, em pet shops – por meio das toalhas, bancadas e escovas contaminadas –, ou em contato com gatos doentes na rua”, explica Regina.
Já a sarna de ouvido é uma das dermatites mais incômodas e frequentes nos felinos no Brasil, de acordo com Márcia. “A coceira intensa causada pelo ácaro, ao ‘passear’ pelo conduto auditivo, costuma levar ao aparecimento de lesões erosivas e até profundas e ulceradas, por autotraumatismo, principalmente na região do pescoço e do pavilhão auricular”, afirma. A sarna alimenta-se de cerume e, por esse motivo, quando presente no conduto auditivo, estimula sua produção. Assim, cera em excesso é um sinal de alerta para tutores. “Por ser facilmente contagiosa, todos os cães e gatos em contato com o animal parasitado com a sarna de ouvido devem ser medicados, sempre com a orientação de um médico veterinário”, orienta Márcia.
A alergia alimentar é a segunda causa mais comum de alergias em felinos no Brasil, segundo Márcia. Ela afirma que proteínas, de origem animal ou vegetal, depois de ingeridas por algum tempo, podem sensibilizar os animais com potencial genético para alergia e causar dermatite com aspecto clínico muito similar a outras alergias nos bichanos. “Assim, se houver falha da pelagem, bolinhas vermelhas, placas ou nódulos rosados no corpo, lesões com crostas no pescoço e na cabeça do gato, é sempre indicada uma consulta com médico veterinário”, explica. Os felinos que têm alergia às proteínas da dieta podem viver com boa qualidade de vida se não ingerirem mais a proteína disparadora de crise alérgica. “Imagine um gato que vive em casa não telada e sai para comer o frango do lixo do vizinho todo dia, sendo que tem alergia a essa proteína. Assim, além de seguir as orientações da consulta veterinária, é preciso manter a disciplina em casa, para evitar ingestão acidental por toda a vida do animal”, orienta Márcia.
Não há como prevenir a alergia alimentar no gato, mas o veterinário saberá diagnosticar e indicar a melhor ração para realizar o teste alimentar e o tratamento correto.
ALOPECIA PSICOGÊNICA
Felinos são animais sensíveis a mudanças. Uma simples reforma já é o suficiente para causar consequências na vida do gato, incluindo o comportamento obsessivo de arrancar os próprios pelos. Segundo Luiz Eduardo, a alopecia psicogênica corresponde a aproximadamente 5% das causas de prurido em felinos. “Nesses casos ocorre a lambedura em excesso, podendo chegar à alopecia, que é a perda total de pelame, resultante de ansiedade. Esta pode ser causada por separação do tutor, chegada de um animal novo no domicílio, mudança de casa ou
ALERGIA ALIMENTAR
Os gatos, quando ficam ansiosos, iniciam crises de lambedura em áreas específicas do corpo (cada gato escolhe suas áreas de preferência) e, de tanto lamber, os pelos são arrancados e a pele fica irritada e
avermelhada.
ainda competição com outros animais”, exemplifica.
Os gatos, quando ficam ansiosos, iniciam crises de lambedura em áreas específicas do corpo (cada gato escolhe suas áreas de preferência) e, de tanto lamber, os pelos são arrancados e a pele fica irritada e avermelhada. “As principais áreas de traumas são membros torácicos, laterais do abdome, dorso e membros pélvicos, principalmente nas laterais externas”, aponta Regina. “No início do processo, as lesões surgem como pequenas falhas de pelos que podem sugerir doença fúngica e atrapalhar o diagnóstico. Outra dificuldade é convencer os tutores que as lesões são provocadas pela lambedura incessante porque os gatos preferem lamberse escondidos, quando e onde as pessoas não possam vê-los”, alerta. “Sempre que identificar falhas na pelagem do seu gato procure um veterinário para realizar os exames de triagem dermatológica”, orienta Márcia. Com a ajuda do profissio
nal, o tutor poderá colocar em prática uma estratégia eficaz de enriquecimento e mudança ambiental, às vezes, conjuntamente ao uso de alguma medicação para controle da ansiedade.
NEOPLASIAS DE PELE
As neoplasias de pele nos gatos são bastante frequentes e merecem muita atenção. Em geral, elas surgem discretamente como pequenos “carocinhos”, únicos ou múltiplos, e podem ser negligenciadas pelo tutor. Um dos tumores de pele mais importantes e frequentes nos gatos é o carcinoma escamoso ou carcinoma epidermóide. “Também são chamados erroneamente de carcinomas dos gatos brancos porque a incidência é muito elevada nos animais de pelagem clara e curta, já que possuem menor quantidade de melanina. Mas também ocorre nos gatos escuros”, explica Regina. São inicialmente nódulos pequenos que podem estar localizados nas orelhas, cabeça, pálpebras, focinho e lábios. A evolução para erosões e úlceras é muito rápida, assim como a formação de crostas. “São lesões deformantes e causam aversão na maioria das pessoas. Os gatos de telhados e de quintais têm maior probabilidade devido à exposição à radiação ultravioleta dos raios de sol”, acrescenta a médica veterinária.
Em geral, as neoplasias não incomodam nem causam dor aos peludos, mas se não forem removidas, podem aprofundar-se e tornarem-se tumores malignos. “Para prevenir o problema, recomendo o uso de filtro solar nas áreas de maior risco”, afirma Márcia. Além disso, é sempre indicado evitar que o felino fique exposto ao sol no pior horário do dia, ou seja, das 10h00 da manhã às 16h00 da tarde.