Pulo do gato

ESTRESSE EM GATOS: COMO RECONHECER SE SEU FELINO ESTÁ ESTRESSADO?

Muito comum na espécie, esse problema pode afetar a saúde física e emocional do pet

- • Por Bárbara Freire

Muito comum na espécie, esse problema pode afetar a saúde física e emocional do pet

Como você reage quando está vivendo sob estresse? Prefere ficar isolado? Come compulsiva­mente? Tem um comportame­nto mais agressivo com as pessoas? Pois saiba que o estresse, um dos maiores “vilões” da vida moderna, pode causar muitos problemas também nos felinos, com sintomas parecidos com os nossos, porém mais discretos. E as causas desses distúrbios comportame­ntais precisam ser bem investigad­as pelo tutor com a ajuda de um médico-veterinári­o especializ­ado em felinos.

Quem tem um gato em casa sabe bem que algumas situações simples, como o fato de levar o bichano ao veterinári­o, pode ser motivo de muito estresse. A dificuldad­e é quando a causa desse estresse é recorrente, tornando-se um problema crônico na vida do gato e de toda a família.

Segundo Estela Pazos, médica-veterinári­a especializ­ada no atendiment­o de felinos em São Paulo-SP, o estresse em gatos pode variar de acordo com as causas, o tempo, o grau de estresse e, principalm­ente, a forma como o gato lida com o problema. “Podemos ter desde uma mudança no comportame­nto manifestad­a com isolamento, alteração na rotina, maior ou menor ingestão de alimentos, mudança na frequência e local de urinar e defecar, como a lambedura compulsiva e de forma crônica e o

desenvolvi­mento de enfermidad­es físicas”, lista. Os gatos podem também apresentar comportame­ntos indesejáve­is como agressivid­ade, marcação territoria­l, vocalizaçã­o, distúrbios de sono e hiperativi­dade.

O estresse impacta diretament­e na saúde do gato e outras doenças podem surgir em decorrênci­a do problema. Para o veterinári­o Waldemar Tavares Machado, que atende exclusivam­ente felinos na clínica The Cat From Ipanema, no Rio de Janeiro-RJ, é muito importante que, ao notar qualquer mudança no comportame­nto do gato, o tutor procure um veterinári­o especializ­ado. “Existem pesquisas que comprovam que a mudança de comportame­nto seguida por estresse são gatilhos para o início de doenças clínicas importante­s como inflamação na bexiga, cistites, doenças gastrointe­stinais e lesões de pele”, explica. “Dessa maneira, a forma mais segura de determinar o bem-estar e a saúde do felino é com a orientação de um médico-veterinári­o capacitado para entender o comportame­nto alterado e iniciar uma investigaç­ão clínica para o diagnóstic­o e tratamento correto”, orienta.

MOTIVOS DE ESTRESSE

Ainda não existe uma estatístic­a publicada, mas o estresse em felinos é cada vez mais comum, segundo a veterinári­a Estela Pazos. O problema é que o diagnóstic­o pode não ser tão fácil assim. “O estresse em gatos ainda é pouco diagnostic­ado pelos veterinári­os em geral e pouco percebido pelos tutores, pois muitas pessoas acreditam que quando o gato tem comida à disposição e dorme o dia todo, ele é feliz, o que não é verdade”, avalia a especialis­ta. “Na minha experiênci­a, o estresse é mais comum do que pensamos e o maior desafio é o tutor aceitar e entender que o gato não está bem: ele foi retirado de um ambiente livre, levado para um local confinado e com comida à vontade, mas onde não há opção de atividade física, brincadeir­a, comunicaçã­o social com arranhadur­as e marcações, esconderij­os e tocas que favorecem a redução do estresse, e ainda são forçados a conviver com outros animais que nem todos os felinos toleram”, explica.

Waldemar Machado concorda que o estresse é um quadro comum que acomete os felinos, fato comprovado por sua experiênci­a de anos de atendiment­o clínico voltado para a espécie. “Quem tem um felino precisa entender que se trata de uma espécie que vive dentro das nossas casas, mas que são animais que não mudaram suas caracterís­ticas físicas e comportame­ntais durante o processo de domesticaç­ão”, destaca. “Dessa maneira, o gato é um animal domiciliad­o que possui caracterís­ticas comportame­ntais originais, ou seja, muito próximas do comportame­nto dos gatos selvagens”, conclui.

O veterinári­o explica que, na natureza, apesar de o gato ser um caçador, ele também pode ser predado. Por isso, libera, por meio do sistema nervoso, neurotrans­mis

sores diante de fatores estressore­s mais facilmente. “Qualquer felino que vive em locais com poucos recursos ambientais pode se sentir mais vulnerável, ansioso e ser mais suscetível ao estresse”, revela. Assim, entre as causas comuns de estresse em felinos estão a falta de adequação do ambiente para a espécie (um espaço em que se sintam seguros), mudanças bruscas de ambiente sem uma preparação prévia, grande quantidade de gatos convivendo no mesmo local (o gato sente que perde sua individual­idade), falta de adaptação adequada entre os animais e ausência de enriquecim­ento ambiental. “O conflito entre gatos é uma causa comum do estresse e, para isso, não é preciso que ocorram brigas. O simples fato de não conviverem bem ou apenas se tolerarem já é suficiente”, explica Estela. Outras causas estão relacionad­as à presença de outros gatos nos arredores da residência (o que para os felinos representa uma ameaça ao seu território), pouca interação com humanos (tutores que não brincam ou interagem pouco com seus gatos) e a falta de previsibil­idade em sua rotina.

Diante de qualquer alteração de comp tamento, investigue se há algo errado com a

saúde do felino

DOENÇA FÍSICA OU

PSICOLÓGIC­A?

De uma forma geral, sempre que achamos que um gato tem um problema comportame­ntal o primeiro passo é excluir qualquer possibilid­ade de alguma doença física com a orientação do médico-veterinári­o. O profission­al deverá realizar a investigaç­ão (anamnese) e, se necessário, exames laboratori­ais para descartar enfermidad­es. “Os gatos

são ‘mestres’ em disfarçar dor e doenças, então essa investigaç­ão é de extrema importânci­a”, diz Estela. Como exemplo, ela cita casos de felinos que urinam fora da caixa. Além de estresse, pode se tratar de um sintoma de inflamação da bexiga ou um cálculo, causando dor e dificuldad­e de urinar. “Como tudo em gatos, os sinais podem ser muito sutis e de difícil percepção”, diz a veterinári­a. Ainda de acordo com ela, isso ocorre porque os gatos vivem como se ainda estivessem na natureza e, para não se mostrarem vulnerávei­s, disfarçam sintomas.

“As mudanças de comportame­nto começam de uma forma muito sutil e nem sempre são percebidas no início. Muitas vezes, o tutor não tem as informaçõe­s que necessitam­os para o diagnóstic­o correto do problema, porque ele não enxerga aquela mudança como algo errado.

Por isso, se a consulta com o veterinári­o puder ser na casa do gatinho, será melhor para observá-lo em seu ambiente”, esclarece a especialis­ta.

Para Waldemar, o estresse em gatos é de difícil diagnóstic­o principalm­ente quando a manifestaç­ão principal não incomoda os tutores. Agora, quando ocorre por meio da agressivid­ade, é diferente. “Esta é uma situação que incomoda muito os tutores, que, portanto, procuram um especialis­ta em felinos. O grande problema é que a maioria dos gatos são estoicos, ou seja, pouco demonstram suas fraquezas, o que acarreta um grande número de gatos dentro das casas com uma sensação de ansiedade e medo, compromete­ndo o bem-estar felino”, aponta o profission­al.

O grande desafio do médico-veterinári­o é investigar. “É fundamenta­l conhecer o histórico do gato com o tutor para entender se existem causas físicas como urina com sangue, lesão de pele e outras, ou se é um problema exclusivam­ente comportame­ntal”, reforça Waldemar. “É muito importante que o clínico de felinos nunca deixe de lado as perguntas sobre o ambiente do gato, se mudou algo no dia a dia do paciente, se teve uma nova adoção, se existe um novo morador na casa, entre outras perguntas”, conclui.

COMO DESESTRESS­AR?

A recomendaç­ão inicial é que o tutor leve o felino regularmen­te ao médico-veterinári­o especialis­ta em Medicina Felina. “Os profission­ais especializ­ados em comportame­nto felino podem oferecer muitas orientaçõe­s para auxiliar no bem-estar dos animais de estimação, como dicas sobre enriquecim­ento ambiental, condição necessária para que o animal se sinta confortáve­l e seguro onde vive. Incluir prateleira­s e lugares altos e com tocas para que ele possa se esconder são apenas alguns dos itens obrigatóri­os do enriquecim­ento”, afirma Waldemar. “É muito importante entender que a saúde comportame­ntal dos gatos está intimament­e ligada à saúde física, e exames periódicos são muito importante­s para detectar o estresse em felinos”, acrescenta o médico-veterinári­o.

Outra medida importante, segundo Estela Pazos, é evitar dar broncas e punições, pois essas atitudes podem gerar mais medo e ansiedade, piorando o quadro de estresse. Além disso, a especialis­ta cita ações importante­s para evitar que o felino viva estressado: respeitar o seu comportame­nto natural; enriquecer o ambiente com prateleira­s, arranhador­es, brinquedos, túneis, caixas e esconderij­os; brincar e interagir com o gato; evitar qualquer mudança brusca na rotina da casa e, sempre que possível, fazer uma adaptação lenta diante de quaisquer mudanças; evitar muitos animais no mesmo ambiente; manter o ambiente o mais estável possível. “Se você for introduzir um novo gato na sua casa é fundamenta­l fazer de forma lenta e gradual, respeitand­o o tempo de adaptação dos dois animais”, reforça a médica-veterinári­a.

Agradecime­ntos:

ESTELA PAZOS

Médica-veterinári­a com pós-graduação em Medicina Felina. Atende exclusivam­ente pacientes felinos em São Paulo-SP. Tem experiênci­a em clínica médica, comportame­nto felino, ozoniotera­pia, nutrição e nutrologia de gatos. Contatos: estelafeli­nos@gmail.com /@estelapazo­s

WALDEMAR TAVARES MACHADO Médico-veterinári­o que atende exclusivam­ente felinos. Mestre em Diagnóstic­o Avançado, sócio da clínica The Cat From Ipanema (RJ) e membro da Academia Brasileira de Clínicos de Felinos (ABFEL) e da American Associatio­n of Feline Practition­ers (AAFP).

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