ESTRESSE EM GATOS: COMO RECONHECER SE SEU FELINO ESTÁ ESTRESSADO?
Muito comum na espécie, esse problema pode afetar a saúde física e emocional do pet
Muito comum na espécie, esse problema pode afetar a saúde física e emocional do pet
Como você reage quando está vivendo sob estresse? Prefere ficar isolado? Come compulsivamente? Tem um comportamento mais agressivo com as pessoas? Pois saiba que o estresse, um dos maiores “vilões” da vida moderna, pode causar muitos problemas também nos felinos, com sintomas parecidos com os nossos, porém mais discretos. E as causas desses distúrbios comportamentais precisam ser bem investigadas pelo tutor com a ajuda de um médico-veterinário especializado em felinos.
Quem tem um gato em casa sabe bem que algumas situações simples, como o fato de levar o bichano ao veterinário, pode ser motivo de muito estresse. A dificuldade é quando a causa desse estresse é recorrente, tornando-se um problema crônico na vida do gato e de toda a família.
Segundo Estela Pazos, médica-veterinária especializada no atendimento de felinos em São Paulo-SP, o estresse em gatos pode variar de acordo com as causas, o tempo, o grau de estresse e, principalmente, a forma como o gato lida com o problema. “Podemos ter desde uma mudança no comportamento manifestada com isolamento, alteração na rotina, maior ou menor ingestão de alimentos, mudança na frequência e local de urinar e defecar, como a lambedura compulsiva e de forma crônica e o
desenvolvimento de enfermidades físicas”, lista. Os gatos podem também apresentar comportamentos indesejáveis como agressividade, marcação territorial, vocalização, distúrbios de sono e hiperatividade.
O estresse impacta diretamente na saúde do gato e outras doenças podem surgir em decorrência do problema. Para o veterinário Waldemar Tavares Machado, que atende exclusivamente felinos na clínica The Cat From Ipanema, no Rio de Janeiro-RJ, é muito importante que, ao notar qualquer mudança no comportamento do gato, o tutor procure um veterinário especializado. “Existem pesquisas que comprovam que a mudança de comportamento seguida por estresse são gatilhos para o início de doenças clínicas importantes como inflamação na bexiga, cistites, doenças gastrointestinais e lesões de pele”, explica. “Dessa maneira, a forma mais segura de determinar o bem-estar e a saúde do felino é com a orientação de um médico-veterinário capacitado para entender o comportamento alterado e iniciar uma investigação clínica para o diagnóstico e tratamento correto”, orienta.
MOTIVOS DE ESTRESSE
Ainda não existe uma estatística publicada, mas o estresse em felinos é cada vez mais comum, segundo a veterinária Estela Pazos. O problema é que o diagnóstico pode não ser tão fácil assim. “O estresse em gatos ainda é pouco diagnosticado pelos veterinários em geral e pouco percebido pelos tutores, pois muitas pessoas acreditam que quando o gato tem comida à disposição e dorme o dia todo, ele é feliz, o que não é verdade”, avalia a especialista. “Na minha experiência, o estresse é mais comum do que pensamos e o maior desafio é o tutor aceitar e entender que o gato não está bem: ele foi retirado de um ambiente livre, levado para um local confinado e com comida à vontade, mas onde não há opção de atividade física, brincadeira, comunicação social com arranhaduras e marcações, esconderijos e tocas que favorecem a redução do estresse, e ainda são forçados a conviver com outros animais que nem todos os felinos toleram”, explica.
Waldemar Machado concorda que o estresse é um quadro comum que acomete os felinos, fato comprovado por sua experiência de anos de atendimento clínico voltado para a espécie. “Quem tem um felino precisa entender que se trata de uma espécie que vive dentro das nossas casas, mas que são animais que não mudaram suas características físicas e comportamentais durante o processo de domesticação”, destaca. “Dessa maneira, o gato é um animal domiciliado que possui características comportamentais originais, ou seja, muito próximas do comportamento dos gatos selvagens”, conclui.
O veterinário explica que, na natureza, apesar de o gato ser um caçador, ele também pode ser predado. Por isso, libera, por meio do sistema nervoso, neurotransmis
sores diante de fatores estressores mais facilmente. “Qualquer felino que vive em locais com poucos recursos ambientais pode se sentir mais vulnerável, ansioso e ser mais suscetível ao estresse”, revela. Assim, entre as causas comuns de estresse em felinos estão a falta de adequação do ambiente para a espécie (um espaço em que se sintam seguros), mudanças bruscas de ambiente sem uma preparação prévia, grande quantidade de gatos convivendo no mesmo local (o gato sente que perde sua individualidade), falta de adaptação adequada entre os animais e ausência de enriquecimento ambiental. “O conflito entre gatos é uma causa comum do estresse e, para isso, não é preciso que ocorram brigas. O simples fato de não conviverem bem ou apenas se tolerarem já é suficiente”, explica Estela. Outras causas estão relacionadas à presença de outros gatos nos arredores da residência (o que para os felinos representa uma ameaça ao seu território), pouca interação com humanos (tutores que não brincam ou interagem pouco com seus gatos) e a falta de previsibilidade em sua rotina.
Diante de qualquer alteração de comp tamento, investigue se há algo errado com a
saúde do felino
DOENÇA FÍSICA OU
PSICOLÓGICA?
De uma forma geral, sempre que achamos que um gato tem um problema comportamental o primeiro passo é excluir qualquer possibilidade de alguma doença física com a orientação do médico-veterinário. O profissional deverá realizar a investigação (anamnese) e, se necessário, exames laboratoriais para descartar enfermidades. “Os gatos
são ‘mestres’ em disfarçar dor e doenças, então essa investigação é de extrema importância”, diz Estela. Como exemplo, ela cita casos de felinos que urinam fora da caixa. Além de estresse, pode se tratar de um sintoma de inflamação da bexiga ou um cálculo, causando dor e dificuldade de urinar. “Como tudo em gatos, os sinais podem ser muito sutis e de difícil percepção”, diz a veterinária. Ainda de acordo com ela, isso ocorre porque os gatos vivem como se ainda estivessem na natureza e, para não se mostrarem vulneráveis, disfarçam sintomas.
“As mudanças de comportamento começam de uma forma muito sutil e nem sempre são percebidas no início. Muitas vezes, o tutor não tem as informações que necessitamos para o diagnóstico correto do problema, porque ele não enxerga aquela mudança como algo errado.
Por isso, se a consulta com o veterinário puder ser na casa do gatinho, será melhor para observá-lo em seu ambiente”, esclarece a especialista.
Para Waldemar, o estresse em gatos é de difícil diagnóstico principalmente quando a manifestação principal não incomoda os tutores. Agora, quando ocorre por meio da agressividade, é diferente. “Esta é uma situação que incomoda muito os tutores, que, portanto, procuram um especialista em felinos. O grande problema é que a maioria dos gatos são estoicos, ou seja, pouco demonstram suas fraquezas, o que acarreta um grande número de gatos dentro das casas com uma sensação de ansiedade e medo, comprometendo o bem-estar felino”, aponta o profissional.
O grande desafio do médico-veterinário é investigar. “É fundamental conhecer o histórico do gato com o tutor para entender se existem causas físicas como urina com sangue, lesão de pele e outras, ou se é um problema exclusivamente comportamental”, reforça Waldemar. “É muito importante que o clínico de felinos nunca deixe de lado as perguntas sobre o ambiente do gato, se mudou algo no dia a dia do paciente, se teve uma nova adoção, se existe um novo morador na casa, entre outras perguntas”, conclui.
COMO DESESTRESSAR?
A recomendação inicial é que o tutor leve o felino regularmente ao médico-veterinário especialista em Medicina Felina. “Os profissionais especializados em comportamento felino podem oferecer muitas orientações para auxiliar no bem-estar dos animais de estimação, como dicas sobre enriquecimento ambiental, condição necessária para que o animal se sinta confortável e seguro onde vive. Incluir prateleiras e lugares altos e com tocas para que ele possa se esconder são apenas alguns dos itens obrigatórios do enriquecimento”, afirma Waldemar. “É muito importante entender que a saúde comportamental dos gatos está intimamente ligada à saúde física, e exames periódicos são muito importantes para detectar o estresse em felinos”, acrescenta o médico-veterinário.
Outra medida importante, segundo Estela Pazos, é evitar dar broncas e punições, pois essas atitudes podem gerar mais medo e ansiedade, piorando o quadro de estresse. Além disso, a especialista cita ações importantes para evitar que o felino viva estressado: respeitar o seu comportamento natural; enriquecer o ambiente com prateleiras, arranhadores, brinquedos, túneis, caixas e esconderijos; brincar e interagir com o gato; evitar qualquer mudança brusca na rotina da casa e, sempre que possível, fazer uma adaptação lenta diante de quaisquer mudanças; evitar muitos animais no mesmo ambiente; manter o ambiente o mais estável possível. “Se você for introduzir um novo gato na sua casa é fundamental fazer de forma lenta e gradual, respeitando o tempo de adaptação dos dois animais”, reforça a médica-veterinária.
Agradecimentos:
ESTELA PAZOS
Médica-veterinária com pós-graduação em Medicina Felina. Atende exclusivamente pacientes felinos em São Paulo-SP. Tem experiência em clínica médica, comportamento felino, ozonioterapia, nutrição e nutrologia de gatos. Contatos: estelafelinos@gmail.com /@estelapazos
WALDEMAR TAVARES MACHADO Médico-veterinário que atende exclusivamente felinos. Mestre em Diagnóstico Avançado, sócio da clínica The Cat From Ipanema (RJ) e membro da Academia Brasileira de Clínicos de Felinos (ABFEL) e da American Association of Feline Practitioners (AAFP).