MAU EGÍPCIO: CURIOSIDADES QUE VOCÊ PRECISA SABER!
Saiba mais sobre o felino mais antigo da gatofilia
Saiba mais sobre o felino mais antigo da gatofilia
Que gateiro não adora uma lenda misteriosa ou um fato que engrandece os felinos na História da Humanidade? Para você que ama conhecer histórias assim, o Mau Egípcio é um prato cheio. Muito antigo – possui mais de 4.000 anos de existência –, esse gato é considerado por alguns especialistas como o avô de todos os gatos. Como o próprio nome diz, o Mau – cuja palavra significa “gato” em egípcio – teve origem no Egito, mais precisamente no Antigo Egito, na época dos grandes faraós. No entanto, mesmo sendo
bastante antiga, a raça ressurgiu no Ocidente graças aos esforços da princesa russa Nathalie Troubetzkoy, que pouco antes da Segunda Guerra Mundial ganhou um gatinho da raça, o Baba, enquanto estava exilada na Itália. “Em 1956, a princesa emigrou para os Estados Unidos levando consigo Baba e outros dois gatos dessa raça. Pouco tempo depois, ela estabeleceu seu gatil e tornou o Mau Egípcio uma raça reconhecida oficialmente”, conta Flávio Vicente Pinto, do Gatil da Serra, do Rio de Janeiro-RJ, que cria a raça há 2 anos e meio e é um dos poucos que se dedicam aos Maus por aqui.
Na The International Cat Association (TICA), o reconhecimento oficial da raça aconteceu apenas em 1979. Atualmente, é considerada rara no mundo, embora seja pouco mais popular em alguns países. Na França, o Mau Egípcio, segundo o Livre Officiel des Origines Félines (LOOF), é a 24ª raça de felinos mais criada no país. No britânico The Governing Council of the Cat Fancy (GCCF), caiu um pouco de popularidade: em 2015, era a 22ª raça com mais registros, e em 2018 foi para a 24ª posição, entre 47 raças. Já nos Estados Unidos, caiu bastante no ranking da Cat Fanciers’ Association (CFA), já que em 2015, entre 43 raças, estava em 20º lugar, e em 2018 foi parar na 28ª posição. Contudo, é provável que esteja nos Estados Unidos a maior população da raça no mundo, opina Flávio.
Introduzido no Brasil em 1997 pelas mãos de Liane Diehl, juíza all breed pela TICA e criadora do gatil Liasloves, de Porto Alegre-RS, o Mau ainda é raro por aqui. Após Liane, já houve outros gatis ativos da raça, como o Lucky Charm, de Regina Lucia F. de Moraes; o Cats People, de Maria de Fátima dos Santos; o Faelis Domu, de Jurema Cebrien; e o Tebas Uaset, de Charles Boden. “No Brasil, a criação de Maus está apenas engatinhando”, aponta Flávio, que assegura a presença da raça nas principais exposições do mundo e também no campeonato mundial organizado anualmente pela Federação Internacional Felina (FIFe). “Pela FIFe, temos como principais referências as criações da Alemanha e Noruega. Os criadores americanos se destacam nas exposições da TICA e CFA”, revela Flávio.
A criadora norueguesa Rebekka Loekke, do gatil Gooseberry, que se dedica ao Mau desde 2009, acredita que a raça só não é mais popular porque as pessoas não escutam falar desse gato. Ainda segundo ela, outras raças com look selvagem, como o Bengal, são mais requisitadas por estarem mais na mídia. “Contudo, tenho lista de espera até para pessoas fora da Noruega para meus gatos”, aponta a criadora que se apaixonou pelo Mau ainda criança, vendo o bichano em um livro de raças felinas. “Para mim o que há de mais especial nessa raça é a ligação que os exemplares têm com o seu tutor. São muito leais”, diz.
Outra entusiasta da raça é Michele Clare, de Lincolnshire, Inglaterra, do gatil Starshadow. A inglesa, que também é diretora do Egyptian Mau Society desde 2018, se dedica ao Mau desde 1999. “Me encantei pelos olhos verdes-groselha da raça, a beleza de sua pelagem e temperamento amigável”, aponta a criadora, que confirma a raridade da raça em seu país. “Somos uma minoria criando a raça no Reino Unido por opção. Não queríamos que o Mau caísse nas mãos de criadores ruins, conta.
A seguir, veja as curiosidades que os criadores entrevistados nos contaram sobre a raça.
SEMIDEUSES
Esses gatos eram considerados semideuses no Antigo Egito já que a deusa Bastet era representada pela figura de uma mulher com cabeça de gato. Essa deusa era tida como protetora das mulheres, do lar e da fertilidade. Segundo a crença popular, o Mau Egípcio era descendente desse gato que simboliza a deusa Bastet por conta da marca que possui na testa, de um “M” invertido – semelhante ao símbolo do escaravelho sagrado que era usado para representar gatos em murais e papiros egípcios que são, inclusive, anteriores a 1.500 a.C. (esses gatos ainda possuíam as mesmas pintas presentes na pelagem da raça).
Bastet também era uma das esposas de outro deus que contribuía para a divindade dos felinos no Antigo Egito: Rá, o deus do sol. Segundo a crença, ele se transformava em gato durante a noite e, como retia os raios solares em seus olhos, conseguia iluminar a escuridão. Todas as noites o deus Rá, na figura de um felino, travava uma batalha para que o sol pudesse renascer no dia seguinte.
O Mau Egípcio era reverenciado e celebrado no Antigo Egito até no pós-morte. Esses animais eram embalsamados para que realizassem, junto de seus donos, a viagem para a vida eterna. A adoração por eles chegou ao ponto de condenar à morte pessoas que os matavam de forma intencional. Certa vez, os egípcios até perderam uma batalha com fenícios para que nenhum gato fosse ferido. O inimigo, sabendo da importância do animal para o rival, os capturou e soltou no campo de batalha, o que impediu o avanço do “exército pet friendly”.
ORIGEM NATURAL
A maioria dos felinos domésticos tem como ancestral o gato-selvagem-africano (Felis Silvestris Lybica), e o Mau Egípcio é o que mais se assemelha a ele. E até hoje os Maus mantêm suas linhagens puras. Nos anos 1960, houve uma tentativa de criar gatos com as pintas do Mau Egípcio com cruzamentos entre Abissínios, Orientais e Siameses, mas não deu certo.
Por sua pureza, Maus já tiveram participação no desenvolvimento de muitas raças e cores. O Bengal e, mais recentemente, o Safári são apenas dois exemplos.
RISCO DE EXTINÇÃO
Apesar de ter sido muito apreciado no passado, nos dias de hoje a raça corre risco de extinção no Egito, pois o Mau Egípcio não é protegido nem preservado em zoológicos de seu país, sendo comum a morte de Maus que vivem nas ruas. “Para controlar o número de animais abandonados no país, o gover
no tem adotado políticas de matança em massa de gatos de rua, entre eles, os Maus”, aponta a alemã Gloria Lauris, que fundou o Egyptian Mau Rescue Organization em 2004 e encerrou seus trabalhos em 2017, levando seus Maus para a Alemanha. Ainda segundo ela, enquanto criadores pelo mundo têm dificuldade de desenvolver a raça pelo baixo pool genético disponível, no Egito, exemplares são desprezados.
EXISTE MAU TODO PRETO?
O felino é aceito oficialmente em apenas três cores nas principais federações felinas: o smoke (pelos com raízes brancas e pontas pretas), o bronze e o prata (silver), que é o mais comum e apreciado. Poucos sabem, porém, que existe uma quarta cor: o preto sólido. Embora totalmente preto, nessa cor o Mau também possui pintas (spots) e pelagem brilhante. Grégory Moesl, criador do gatil Denderah, da Alsácia, e membro-fundador da
Comunidade Internacional do Mau Egípcio (Cime), cria a raça desde 2010 e, segundo ele, os pretos sólidos existem desde o surgimento da raça, apenas não têm o mesmo destaque dos demais.
Rebekka aponta que gatos com pelagem azul (cinza), azul silver e azul smoke também podem nascer nas ninhadas. Já Michele ressalta que o Mau é o único em que os exemplares na cor smoke devem portar as pintas na pelagem.
GUEPARDOS DOMÉSTICOS
Muito veloz, é quase impossível capturar um Mau Egípcio quando ele dispara! O gato possui estrutura para correr velozmente: além de ter patas traseiras maiores, apresenta uma “gordurinha” extra na barriga que permite maior alongamento de seu corpo durante corridas e saltos. Pode atingir 50 km/h e pular em altura superior a 2 m. “Eles são muito velozes e têm reflexos extremamente rápidos. Também aprendem truques com facilidade”, aponta Rebekka. Michele acrescenta que é muito fácil ensinar um Mau a buscar objetos, e alguns apreciam bastante brincadeiras na água.
OLHOS DE FARAÓ
Os Maus possuem uma linha negra em volta dos olhos como se fosse um delineador. Aliás, os faraós se inspiraram nesses gatos para fazer a maquiagem em seus olhos.
Agradecimentos:
FLÁVIO VICENTE PINTO
Gatil da Serra
www.gatildaserra.com.br
MICHELE CLARE
Gatil Starshadow
Egyptian Mau Society
www.egyptianmausociety.co.uk
REBEKKA LOKKE
Gatil Gooseberry
www.egyptiskmau.no
GRÉGORY MOESL
Gatil Denderah
www.mauegyptien.fr