6 OCORRÊNCIAS MÉDICAS COMUNS EM FELINOS
Confira quais são elas e proteja o seu gato
Confira quais são elas e proteja seu gato
Gatos estão sujeitos a diferentes acidentes e doenças que muitas vezes podem ser evitados com cuidados básicos. Assim, conversamos com duas veterinárias especializadas em Medicina Felina sobre algumas das emergências mais recorrentes na clínica de felinos. Dá uma olhada no que elas relataram como ocorrências comuns e garanta a saúde e o bem-estar do seu pet.
SÍNDROME DO GATO PARAQUEDISTA
O nome pode parecer engraçado, mas o tema é sério. A síndrome do gato paraquedista é um conjunto de traumatismos físicos sofridos por gatos que caem de janelas ou sacadas de prédios e casas. De acordo com Estela Pazos, médica veterinária especializada no atendimento de felinos em São Paulo-SP, podem ser acometidos gatos de qualquer idade, mas os jovens ainda mais, por serem curiosos e ativos. “Se esse tipo de acidente acontecer, o tutor deve ter o cuidado de retirar o gato do local com o mínimo de manipulação e, se houver algum sangramento, pressionar a região com uma toalha ou pano. Se o gato estiver com tremores ou crises convulsivas, envolva-o em uma toalha ou cobertor até chegar na emergência. Se possível, ligue para o centro de emergência mais próximo avisando que está a caminho, assim a equipe já fica de prontidão”, orienta.
Dependendo do tipo de lesão, o gato pode necessitar de cirurgia. “São comuns os traumas em tórax, fratura de palato (céu da boca), de mandíbula e das patas. Alguns gatos podem entrar em hipotermia e choque, sendo necessária internação para o controle de dor”, afirma. A veterinária alerta que para evitar esses acidentes é preciso telar todas as janelas da casa. “As quedas são muito comuns nos basculantes dos sanitários ou áreas de serviço, onde os tutores não telam e deixam as janelas fechadas, mas em um dia de descuido, o acidente acontece.”
FELV E FIV
O vírus da leucemia felina (FeLV) e o vírus da imunodeficiência felina (FIV) são de grande impacto para a saúde dos gatos. O FeLV é responsável por causar tumores, como linfomas, anemia e levar a doenças infecciosas secundárias causadas pelo efeito supressor do vírus na medula óssea e no sistema imunológico. Já o FIV desencadeia a síndrome da imunodeficiência adquirida, que aumenta o risco de infecções oportunistas, doenças neurológicas e tumores. “Na maioria dos gatos naturalmente infectados, no entanto, o FIV não causa sinais clínicos graves, e os animais infectados podem viver muitos anos sem nenhum problema de saúde”, afirma Ísis Gomes, médica veterinária com especialização em Clínica de Felinos.
Os fatores de risco para infecção incluem gatos adultos machos, principalmente com acesso à rua e não castrados. “Para o diagnóstico, o teste mais utilizado é a sorologia, feita a partir de amostras de sangue do bichano”, explica a veterinária. Os sinais clínicos dessas enfermidades são variáveis, mas incluem uma fase assintomática longa (quando o gato não manifesta os sinais), e outra sintomática com o desenvolvimento de tumores, alterações no exame de sangue, distúrbios neurológicos, estomatites (com inchaços e feridas no interior da boca) e outros.
Como muitos gatos têm a fase assintomática da doença, recomenda-se a realização do teste de FIV e FeLV sempre antes da introdução de um novo felino em casa. “Normalmente a vacinação só é indicada para os gatos com o risco de contato com os vírus. Já o tratamento é definido individualmente, levando-se em consideração o estado clínico do gato e suas particularidades. O objetivo é proporcionar melhora clínica e dificilmente a cura do paciente”, explica Ísis. “Sem dúvida, a prevenção garante uma maior longevidade e segurança aos felinos.”
INGESTÃO DE FIOS
Gatos que brincam com barbantes, cordas ou linhas podem acabar ingerindo esses materiais (chamados de corpos estranhos lineares) e sofrerem com a obstrução intestinal. Não existe um grupo de risco para esse problema, uma vez que a maioria dos felinos gosta de brincar com objetos lineares.
A orientação da veterinária Estela Pazos é que se o gato estiver com um fio ou linha preso na boca (ou no ânus), o tutor jamais deve puxar. “Se puxar podemos romper uma alça intestinal, pois o fio fica entremeado entre elas e não sai com facilidade. Isso quer dizer que o gato pode vir a óbito”, explica. O tutor precisará levar com urgência o bichano até o veterinário. “Serão necessários exames complementares para que o profissional saiba a localização do fio e se há obstrução. A partir disso, irá optar por uma cirurgia para retirada ou monitoramento com exames até que o fio seja eliminado naturalmente”, afirma Estela.
Para evitar o problema, o tutor não deve deixar linhas e cordões de roupas ao alcance dos felinos. “Os brinquedos com fios e elásticos devem ser utilizados sob supervisão e serem guardados em locais onde o gato não tenha acesso”, alerta.
INTOXICAÇÃO POR PRODUTOS DOMÉSTICOS
Pelo hábito de se lamber constantemente, o gato pode entrar em contato com substâncias tóxicas que estejam presentes no ambiente, como inseticidas, medicamentos, venenos para ratos, produtos de limpeza e produtos usados para reforma e construção.
Caso ocorra qualquer tipo de intoxicação em casa, o tutor deve separar a embalagem do produto que contém o princípio ativo da substância que o gato entrou em contato e direcionar-se para o atendimento emergencial em uma clínica ou hospital veterinário. “Não dê nada em casa sem orientação veterinária. Há uma crença de que o leite pode auxiliar nesses casos, mas não é verdade. Se o gato estiver com tremores ou crises convulsivas, envolva-o em uma toalha ou cobertor até chegar na emergência. Se houver produto no corpo do gato, é aconselhável retirar o excesso pois também há absorção através da pele”, orienta Estela.
A conduta para o tratamento será escolhida de acordo com o tipo de substância que o gato entrou em contato. “O veterinário fará uma descontaminação do conteúdo do estômago e, se necessário, uma lavagem estomacal e indução de vômito. Na maioria dos casos, o gato irá necessitar de fluidoterapia, que é o soro, com medicamentos que auxiliem na metabolização e eliminação da toxina”, explica a veterinária.
Para evitar esse tipo de problema, a orientação é nunca deixar qualquer tipo de produto ao alcance do gato. “Não guarde produtos de limpeza em armários que os gatos consigam abrir, pois alguns são bem travessos e podem derrubar os frascos. Se dedetizar a casa, informe a empresa que há animais na residência e peça o laudo de segurança e informações sobre o tempo necessário de espera para que o gato possa voltar ao ambiente. Guarde todos os remédios em local seguro e não use medicações sem orientação veterinária, pois muitas delas podem intoxicar os felinos”, alerta Estela.
OBSTRUÇÃO DA URETRA
Essa condição é causada pela obstrução no fluxo de saída da urina que pode ser por um cálculo, tampão (restos celulares da bexiga que coagulam e se unem) ou alterações no diâmetro da uretra, canal que conduz a urina do interior da bexiga para fora do corpo. Os gatos machos são os mais acometidos pelo problema, uma vez que têm a uretra mais estreita, sendo mais frequente entre 2 a 6 anos de idade, em animais sedentários, castrados, obesos, que vivem confinados ou que se alimentam exclusivamente de ração seca. “A obstrução pode ser notada quando o gato tem maior dificuldade em urinar, sangramento, desconforto e aumento da frequência da micção”, afirma Ísis.
O indicado é não aguardar a melhora pois o estado clínico do gato pode piorar muito rapidamente. “Se o gato estiver com a bexiga distendida, pode ser necessária uma punção para descompressão e alívio e, na sequência, o gato receberá uma sonda”, explica Estela. “Exames de urina e ultrassom são necessários para avaliar a causa da obstrução. Se houver um cálculo maior que o diâmetro da uretra será necessário cirurgia para retirada. Medicações para dor são muito importantes nesse momento”, continua a veterinária.
O problema pode ser evitado com a mudança da alimentação, se a causa for a formação do cálculo. “A ração deverá ser alterada conforme o tipo de cálculo, sempre orientada pelo veterinário. Agora, se a obstrução foi por um tampão, deve-se investigar causas de estresse que estejam causando cistite e que desencadeiem as crises”, orienta Estela.
INGESTÃO DE PLANTAS TÓXICAS
Assim como os produtos para limpeza e dedetização do ambiente, as plantas tóxicas podem ser um verdadeiro problema para quem tem gatos devido ao hábito que os felinos têm de buscar “graminhas” para mastigar. “Pode ocorrer a ingestão de plantas perigosas e se o gato morder uma delas, entrará em contato com a substância tóxica da planta”, alerta Estela.
A orientação é sempre procurar o veterinário o mais rápido possível. “É importante saber o nome da planta, mas se o tutor não souber, pode tirar uma foto para que o veterinário tenha uma ideia. Não dê nada ao gato em casa sem orientação veterinária. Se ele estiver com tremores ou crises convulsivas, envolva-o em uma toalha ou cobertor até chegar à emergência”, recomenda a veterinária. O tratamento vai seguir a mesma linha indicada para ingestão de produtos tóxicos.
Por isso, antes de colocar uma plantinha dentro de casa, informe-se se ela é tóxica para gatos. “Jamais confie em deixar plantas em cima de móveis altos, pois o gato pode subir lá, mesmo não sendo um hábito rotineiro”, ressalta Estela.
Agradecimentos:
ESTELA PAZOS
Médica-veterinária com pós-graduação em Medicina Felina. Atende exclusivamente pacientes felinos em São Paulo-SP, e possui experiência em clínica médica, comportamento, ozonioterapia, nutrição e nutrologia de gatos.
Contatos: estelafelinos@gmail.com/ Instagram @estelapazos
ÍSIS DANIELLE SILVEIRA GOMES
Médica-veterinária com residência em Clínica Médica de Pequenos Animais pela Universidade Anhembi Morumbi. Mestre em Clínica Veterinária com ênfase em Clínica de Felinos pela Faculdade de Medicina Veterinária e Zootecnia da Universidade de São Paulo (FMVZ-USP). Atualmente faz parte da equipe de felinos da Clínica VetMasters, sob coordenação do professor Dr. Archivaldo Reche Junior.