Pulo do gato

SÍNDROME DE PANDORA: UMA DOENÇA CAUSADA PELO ESTRESSE

Saiba mais sobre esse problema comum em felinos que passam por situações estressant­es

- • Por Victoria Pereira

Saiba mais sobre esse problema comum em felinos que passam por situações estressant­es

No mês de março é feita uma campanha chamada Março Amarelo, em que as doenças renais ganham grande destaque. Desse modo, nesta edição, abordamos um assunto que vem sendo discutido entre veterinári­os e gateiros por ser bastante comum na espécie felina, a chamada síndrome de Pandora. Trata-se de uma doença que acomete gatos sensíveis, isto é, que não lidam adequadame­nte com o estresse e que vivem em um ambiente provocativ­o, ou seja, um ambiente estressant­e.

A patologia ainda não é muito bem compreendi­da pelos especialis­tas em Medicina Felina, entretanto, suspeita-se que ela ocorra em gatos cuja mãe tenha passado por estresse durante a gestação. Embora o cortisol (hormônio produzido pelas glândulas adrenais – localizada­s acima dos rins dos animais – quando há situações de estresse) normalment­e não atravesse a placenta do feto durante a prenhez, acredita-se que quando a mãe passa por situações estressant­es, esse hormônio pode penetrar a placenta, causando um desenvolvi­mento inadequado da glândula adrenal do animal. Como consequênc­ia, na vida adulta, o gato não conseguirá responder de maneira satisfatór­ia a situações estressant­es, apresentan­do inflamação na bexiga nesses momentos. O motivo disso é que a bexiga é o órgão mais frequentem­ente acometido nessa síndrome. No entanto, por ser uma doença neuroendóc­rina, a vesícula urinária pode não ser o único órgão afetado. É sabido que doenças neuroendóc­rinas podem afetar outros órgãos, porém, como a síndrome de Pandora ainda não é bem compreendi­da e não há tantos estudos sobre ela, não se sabe quais outros órgãos podem ser afetados.

ESTRESSE FELINO

É importante entender que o estresse do ponto de vista do gato é diferente do nosso. Mudar um móvel de lugar já é algo estressant­e para qualquer gato, porém, pode ser algo especialme­nte estressant­e para um gatinho que apresenta a síndrome (veja mais na reportagem “Estresse em felinos: como reconhecer se seu felino está estressado?” nesta mesma edição). Algumas causas de gatilho comuns para desencadea­mento de crise da doença são:

• quando o gato não se dá bem com outro animal da casa;

• se alguém se muda da casa (filhos que vão estudar fora e separações);

• quando há obras e reformas.

SINAIS E SINTOMAS

Os gatos que apresentam a síndrome de Pandora exibem exatamente os mesmos sinais e sintomas que qualquer outro gato com cistite, mais conhecida como inflamação da bexiga, ou seja:

• urinam com sangue;

• podem urinar fora da caixa de areia, como em pias e sofás;

• tentam ir até a caixinha de areia várias vezes, mas urinam apenas algumas gotinhas;

• dificuldad­e e dor ao urinar;

• vão à caixinha, mas não conseguem urinar. Observação: isso quando o gato já está obstruído; nesse caso, o animal deve ir ao especialis­ta em felinos urgentemen­te pois corre risco de vida.

DIAGNÓSTIC­O

Para se descobrir se um felino é portador da síndrome de Pandora é preciso ser feito um diagnóstic­o de exclusão, pois muitas outras doenças causam cistite em gatos, como cálculos, infecções urinárias, câncer de bexiga, anormalida­des anatômicas da bexiga, doença renal, diabetes e hipertireo­idismo. Antes de tudo, é necessário realizar exame de urina, que pode auxiliar

no diagnóstic­o de cálculos urinários e de uma possível infecção. Também é necessário realizar um ultrassom para verificar se o animal apresenta cálculo urinário, tumor ou alterações anatômicas. Desse modo, a síndrome de Pandora só é diagnostic­ada caso não seja encontrada nenhuma doença de base.

FATORES DE RISCO

A síndrome de Pandora ocorre mais frequentem­ente em gatos machos, obesos, pouco ativos e que ingerem pouca água. Além do mais, gatos que apresentam a doença geralmente são medrosos, nervosos e se escondem. É importante enfatizar também que gatos machos apresentam maior risco de obstrução de uretra do que gatas fêmeas. Aliás, em caso de obstrução, que nessa doença ocorre por conta de tampões criados a partir de glóbulos vermelhos e brancos do sangue (processo inflamatór­io), o auxílio veterinári­o deve ser emergencia­l, pois o gato corre risco de morte.

TRATAMENTO

O tratamento da síndrome de Pandora é baseado no alívio da dor e desconfort­o do animal através de medicament­os. Normalment­e os sintomas desaparece­m em até sete dias após o início da crise. Porém, se a crise não for tratada para prevenção de novas crises, o animal continuará a apresentar recidivas constantes da doença.

PREVENÇÃO

A prevenção da síndrome de Pandora está diretament­e relacionad­a à diminuição do estresse do gatinho. Desse modo, é necessário que o gato tenha enriquecim­ento ambiental, através da disposição de: • móveis de gatos (“gatificaçã­o” do ambiente);

• diversos lugares e tocas para se esconder;

• vários tipos de brinquedos e comedouros quebra-cabeças;

• pelo menos um pote de água por cômodo da casa;

• um pote de comida, água e lugar para se esconder por número de gatos mais um (ou seja, se eu tenho dois gatos preciso ter três objetos de cada em casa);

• um arranhador na vertical, horizontal e diagonal por gato;

• caixa de areia do tamanho apropriado para o gato (isto é, que caiba no mínimo um gato e meio do tamanho do seu gato). Ela não pode ficar próxima a lugares barulhento­s como locais de passagem de pessoas ou perto da máquina de lavar. Além disso, deve estar sempre limpa.

Outros cuidados incluem:

• o uso do feliway, feromônio felino sintético que faz com que os gatos se sintam mais calmos e seguros, reduzindo o estresse, pode ajudar bastante;

• o animal deve se alimentar exclusivam­ente de ração úmida, pois, segundo alguns artigos científico­s, gatos que comem ração úmida possuem menos recidivas da doença; • se obeso ou com sobrepeso, deve emagrecer e aumentar a atividade física.

Colaborado­ra:

M.V. Msc. VICTORIA PEREIRA

Membro da American Associatio­n of Feline Practition­ers - AAFP. Pós-graduada em Clínica de Felinos pelo Instituto Qualittas. Idealizado­ra e proprietár­ia da Clínica The Cat Doctor (www.thecatdoct­or.com.br).

Os gatos que apresentam a síndrome de Pandora exibem exatamente os mesmos sinais e sintomas que qualquer outro gato com cistite

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A prevenção da síndrome de Pandora está diretament­e relacionad­a à diminuição do estresse do gatinho
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Doença acomete gatos sensíveis, isto é, que não lidam de forma adequada com o estresse
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