SÍNDROME DE PANDORA: UMA DOENÇA CAUSADA PELO ESTRESSE
Saiba mais sobre esse problema comum em felinos que passam por situações estressantes
Saiba mais sobre esse problema comum em felinos que passam por situações estressantes
No mês de março é feita uma campanha chamada Março Amarelo, em que as doenças renais ganham grande destaque. Desse modo, nesta edição, abordamos um assunto que vem sendo discutido entre veterinários e gateiros por ser bastante comum na espécie felina, a chamada síndrome de Pandora. Trata-se de uma doença que acomete gatos sensíveis, isto é, que não lidam adequadamente com o estresse e que vivem em um ambiente provocativo, ou seja, um ambiente estressante.
A patologia ainda não é muito bem compreendida pelos especialistas em Medicina Felina, entretanto, suspeita-se que ela ocorra em gatos cuja mãe tenha passado por estresse durante a gestação. Embora o cortisol (hormônio produzido pelas glândulas adrenais – localizadas acima dos rins dos animais – quando há situações de estresse) normalmente não atravesse a placenta do feto durante a prenhez, acredita-se que quando a mãe passa por situações estressantes, esse hormônio pode penetrar a placenta, causando um desenvolvimento inadequado da glândula adrenal do animal. Como consequência, na vida adulta, o gato não conseguirá responder de maneira satisfatória a situações estressantes, apresentando inflamação na bexiga nesses momentos. O motivo disso é que a bexiga é o órgão mais frequentemente acometido nessa síndrome. No entanto, por ser uma doença neuroendócrina, a vesícula urinária pode não ser o único órgão afetado. É sabido que doenças neuroendócrinas podem afetar outros órgãos, porém, como a síndrome de Pandora ainda não é bem compreendida e não há tantos estudos sobre ela, não se sabe quais outros órgãos podem ser afetados.
ESTRESSE FELINO
É importante entender que o estresse do ponto de vista do gato é diferente do nosso. Mudar um móvel de lugar já é algo estressante para qualquer gato, porém, pode ser algo especialmente estressante para um gatinho que apresenta a síndrome (veja mais na reportagem “Estresse em felinos: como reconhecer se seu felino está estressado?” nesta mesma edição). Algumas causas de gatilho comuns para desencadeamento de crise da doença são:
• quando o gato não se dá bem com outro animal da casa;
• se alguém se muda da casa (filhos que vão estudar fora e separações);
• quando há obras e reformas.
SINAIS E SINTOMAS
Os gatos que apresentam a síndrome de Pandora exibem exatamente os mesmos sinais e sintomas que qualquer outro gato com cistite, mais conhecida como inflamação da bexiga, ou seja:
• urinam com sangue;
• podem urinar fora da caixa de areia, como em pias e sofás;
• tentam ir até a caixinha de areia várias vezes, mas urinam apenas algumas gotinhas;
• dificuldade e dor ao urinar;
• vão à caixinha, mas não conseguem urinar. Observação: isso quando o gato já está obstruído; nesse caso, o animal deve ir ao especialista em felinos urgentemente pois corre risco de vida.
DIAGNÓSTICO
Para se descobrir se um felino é portador da síndrome de Pandora é preciso ser feito um diagnóstico de exclusão, pois muitas outras doenças causam cistite em gatos, como cálculos, infecções urinárias, câncer de bexiga, anormalidades anatômicas da bexiga, doença renal, diabetes e hipertireoidismo. Antes de tudo, é necessário realizar exame de urina, que pode auxiliar
no diagnóstico de cálculos urinários e de uma possível infecção. Também é necessário realizar um ultrassom para verificar se o animal apresenta cálculo urinário, tumor ou alterações anatômicas. Desse modo, a síndrome de Pandora só é diagnosticada caso não seja encontrada nenhuma doença de base.
FATORES DE RISCO
A síndrome de Pandora ocorre mais frequentemente em gatos machos, obesos, pouco ativos e que ingerem pouca água. Além do mais, gatos que apresentam a doença geralmente são medrosos, nervosos e se escondem. É importante enfatizar também que gatos machos apresentam maior risco de obstrução de uretra do que gatas fêmeas. Aliás, em caso de obstrução, que nessa doença ocorre por conta de tampões criados a partir de glóbulos vermelhos e brancos do sangue (processo inflamatório), o auxílio veterinário deve ser emergencial, pois o gato corre risco de morte.
TRATAMENTO
O tratamento da síndrome de Pandora é baseado no alívio da dor e desconforto do animal através de medicamentos. Normalmente os sintomas desaparecem em até sete dias após o início da crise. Porém, se a crise não for tratada para prevenção de novas crises, o animal continuará a apresentar recidivas constantes da doença.
PREVENÇÃO
A prevenção da síndrome de Pandora está diretamente relacionada à diminuição do estresse do gatinho. Desse modo, é necessário que o gato tenha enriquecimento ambiental, através da disposição de: • móveis de gatos (“gatificação” do ambiente);
• diversos lugares e tocas para se esconder;
• vários tipos de brinquedos e comedouros quebra-cabeças;
• pelo menos um pote de água por cômodo da casa;
• um pote de comida, água e lugar para se esconder por número de gatos mais um (ou seja, se eu tenho dois gatos preciso ter três objetos de cada em casa);
• um arranhador na vertical, horizontal e diagonal por gato;
• caixa de areia do tamanho apropriado para o gato (isto é, que caiba no mínimo um gato e meio do tamanho do seu gato). Ela não pode ficar próxima a lugares barulhentos como locais de passagem de pessoas ou perto da máquina de lavar. Além disso, deve estar sempre limpa.
Outros cuidados incluem:
• o uso do feliway, feromônio felino sintético que faz com que os gatos se sintam mais calmos e seguros, reduzindo o estresse, pode ajudar bastante;
• o animal deve se alimentar exclusivamente de ração úmida, pois, segundo alguns artigos científicos, gatos que comem ração úmida possuem menos recidivas da doença; • se obeso ou com sobrepeso, deve emagrecer e aumentar a atividade física.
Colaboradora:
M.V. Msc. VICTORIA PEREIRA
Membro da American Association of Feline Practitioners - AAFP. Pós-graduada em Clínica de Felinos pelo Instituto Qualittas. Idealizadora e proprietária da Clínica The Cat Doctor (www.thecatdoctor.com.br).
Os gatos que apresentam a síndrome de Pandora exibem exatamente os mesmos sinais e sintomas que qualquer outro gato com cistite