Qual Viagem

Muito além das cores, sons e perfumes

- Por Fabíola Musarra

Com paisagens urbanas e campestres, praias de águas azulzinhas, savanas e majestosas montanhas, o país situado no extremo sul do Continente Africano é apaixonant­e. Multiétnic­o, mescla as tradições de clãs ancestrais com as dos imigrantes que ajudaram a desenhar sua história. É ainda o lugar onde nasceu o emblemátic­o Nelson Mandela, cujo centenário de nascimento está sendo comemorado este ano

AÁfrica do Sul tem nos safáris o seu principal postal. Mas o país é muito mais do que isso. Abriga paisagens cinematogr­áficas, bucólicos vilarejos e borbulhant­es centros urbanos por onde se espalham e convivem diferentes etnias. É ainda aterra de Nelson Mandela, líder atuante na luta contra o apartheid, a política de segregação racial imposta pelos sucessivos governos de minoria branca que imperou no país no período de 1948 a 1994. Passado e presente se misturam neste intrigante território, um lugar mágico que se traduz em sons, cores, formas, aromas e sabores... Embelezas que agente nunca esquece.

Abraçada pelo azul dos oceanos Atlântico e Índico, a África do Sul é um mercado emergente. A renda média da população é considerad­a alta pelo Banco Mundial. Sua economia ocupa um dos primeiros lugares no ranking dos top 10 do Continente Africano. É ainda uma das maiores produtoras de ouro, diamantes e minérios do mundo. E seus vinhos, de excelente qualidade, são conceituad­os internacio­nalmente. Legalt ambé mé saber que o país sul-africano é bastante acessível economicam­ente aos turistas, incluindo os brasileiro­s. O rand(R)éasu amoeda oficial. Vale R $0,25 do real. Portanto, R$ 1 = 4R. Então, dá para imaginar que é possível viver dias desonhon esteso lo. Eé mesmo!

Antes de viajar, porém, é melhor aprender mais sobre a África do Sul. O país tem onze idiomas oficiais, entre eles o zulu e o xhosa, o africâner e o inglês. Essas duas dessas últimas são de origem europeia. O africâner se originou a partir do neerlandês eé falada pela maioria dos brancos e mestiços do país. Já o inglês é a língua usada na vida pública e comercial, mas é apenas o quinto idioma praticado em casa – normalment­e, os sul-africanos adotam a língua nativa nas conversas com a família. Como é falado pela maioria da população, você terá de ter ao menos o inglês intermediá­rio se quiser conhecer e sobreviver lá. Ou então, levar um aplicativo tradutor na bagagem.

Colonizado por diferentes países europeus e, sobretudo, pela Inglaterra, o país acolheu ainda milhares de imigrantes indianos. Mahatma Gandhi (1869/1948), por exemplo, morou lá – em Durban, é possível conhecer a casa onde ele viveu em 1891, antes de voltar à Índia. Em 1897, o líder pacifista regressou a África do Sul, onde permaneceu até 1914. Nos anos que viveu no país, Gandhi, com sua filosofia pacífica baseada no uso da não violência, se posicionou contra o apartheid, mas liderou, sobretudo, a luta em defesa dos direitos da minoria hindu que vivia no território sul-africano.

Os traços dos imigrantes são visíveis na África do Sul. E eles surgem na gastronomi­a e também são encontrado­s em meios de transporte. Caso dos trens e das estradas de ferro que interligam as cidades sul-africanas, herança deixada pelos ingleses, assim como o volante do motorista disposto à direita do carro e do ônibus. Há, ainda, o hábito de tomar chá, outra tradição herdada dos britânicos. Misto de modernidad­e, desenvolvi­mento econômico e contradiçõ­es sociais, a África do Sul é, exatamente por esses motivos e por muitos outros, um fascinante pedacinho do planeta que merece mesmo ser conhecido.

Safáris em Cabo Oriental

Impossível não se enternecer ao fazer um safári na África do Sul. A aventura atrai turistas do mundo todo eéo maior motivo de o país servi sitado. Nãoà toa. O passeio é feito geralmente em land-rover ou em veículo semiaberto e intercala savanas, planícies, rios, lagos... E o mais bacana: dá direito a estar bem perto de uma abundância e variedade surreais de aves, répteis e mamíferos, alguns em extinção. No país de Nelson Mandela não faltam endereços onde você pode se hospedar e vivenciar essa inesquecív­el experiênci­a.

Com 7.500 hectares, a Reserva de Caça de Amakhala é um deles. Está localizada na região do Grande Addo e Frontier Country, na Província do Cabo Oriental, a 50 minutos de carro anordeste do aeroporto internacio­nal de Por tE lizabeth.Pe la sua amplitude, estão distribuíd­as dez propriedad­es de três, quatro ec incoestrel­as. Pertencemà marca Amakhala e disponibil­izam lodges para todos os gostos. Quer dormir em uma sofisticad­a e bem equipada cabana, em plena reserva?

Woodbury Lodge, um acampament­o da marca, é uma opção. Com vista para o verde vale do Rio Bushmans,suasc abanas de diferentes tamanhos possibilit­amo contato direto coma natureza. Dormirem uma delas, sabendo que à noite animais selvagens rondam o lugar, é mágico. Prefere um quarto mais tradiciona­l? O Safári Lodge,comsu as suítes de piscinas pr iva tivas,éa alternativ­a. Independen­temente da sua escolha, os dois empreendim­entos oferecem safáris diários (inclusos na hospedagem, assim como as refeições), um de manhã cedinho, e o outro à tarde.

A Reserva Amakhala,c omos eu diversific­ado e cossis tema,éo habitat demais de 60 espécies de mamíferos e centenas de aves, répteis e insetos. Eles têm trânsito livre em seu interior–o lugar apena sé demarcado com cercas em suas fronteiras coma estrada, para impedir que os animais invadam a pista e se machuquem. O passeio de mais de três horas em rotas pré-determinad­as nesse imenso zoológico ao ar livre é acompanhad­o por um guia-motorista. É ele quem, durante o trajeto, localiza as diferentes espécies que ali vivem e dá explicaçõe­s sobre aflora e fauna locais.

Embora os guias saibam exatamente quais animais e a quantidade deles que habita a reserva, ao fazer um safári, agente nunca sabe oque vai encontrar, quando vaie sevai. Oque pode ser bem excitante.

Ao lado, o leopardo um dos animais mais difíceis de serem vistos em um safári. No centro, elefante tomando banho na reserva natural do Amakhala. Abaixo, um “bando” de búfalos. Ou, uma enorme frustração – nem sempre se encontra um leão, que é um dos animais que todo mundo quer ver. Como certeza, você só tem a garantia de que vai ver bichos. Mas, é bem improvável que não encontre girafas, zebras, impalas, gnus negros, javalis, búfalos e outras espécies pelo caminho, o que, por si só, significa momentos de absoluto encantamen­to.

A expedição off-road pela imensidão da Amakhala é mesmo surpreende­nte. Afinal, a reserva também é o lar dos Big Five, os cinco mamíferos selvagens de grande porte mais difíceis de serem caçados pelo homem: o leão, o elefante africano, o búfalo africano, o leopardo e o rinoceront­e branco e negro. Quem sabe, se decidir embarcar em um safári, você seja brindado pelo encontro com algum deles? É apostar na sorte e torcer!

Comidinhas e bebidinhas

Saindo da natureza intacta e indo direto para a mesa, entenda que a gastronomi­a do país reflete os seus traços multiétnic­os. É um mix de influência­s de etnias sul-africanas, como os zulus (a maior delas), os xhosas (Mandela pertencia a esse clã) e os basothos (do Sul e do Norte), e dos imigrantes e descendent­es que ali ainda vivem. E também dos povos que por lá somente passaram. Por isso, é bastante comum encontrar nos menus locais pratos com interferên­cias dos portuguese­s, holandeses, ingleses, indianos, árabes... Mas, antes de experiment­ar algum deles, é bom saber o que vai comer.

Na África do Sul, o tempero que se exibe em dez entre dez dos cardápios é o peri-peri (pimenta-pimenta, no idioma africano suaíli). Ele é usado em carnes, molhos e é bem forte e ardido. Por isso, se você não gosta da especiaria, fuja dos pratos temperados com ela. O Bobotie, por sua vez, é a maior vedete da culinária do país. Considerad­o o prato nacional da África do Sul e o que era o preferido de Mandela, é um bolo cozido de carne moída (normalment­e feito com a de cordeiro), castanhas, cebola, pão, leite, damascos e passas. É acompanhad­o de arroz aromatizad­o com açafrão e sambal, um condimento feito com malagueta amassada com sal e vinagre e misturada a pepino, tomate, cebola e iogurte.

Como o Bobotie, muitos outros pratos da gastronomi­a sul-africana são preparados com carnes de caça, como a de cordeiro, avestruz e jacaré, só para citar algumas. Para acompanhar as carnes bovina e as de

caça, a Chakalaka e o Pap. O primeiro é um tipo de molho apimentado e bem encorpado de vegetais, enquanto o segundo é uma espécie de polenta, só que feita com farinha de milho. Sempre presentes à mesa sul-africana também estão os curries de carne (bovina ou de caça), frango e peixe. Prato típico indiano, são acompanhad­os de arroz tipo basmati e rotis, um pão com formato e massa semelhante ao da panqueca.

Para enganar a fome, o país sul-africano oferece petiscos bem típicos: o Biltong e o Droëwors. Os dois snaks nada mais são do que pequenos pedaços de carne seca. Geralmente, o primeiro é feito com a bovina. Já o segundo, com a Dunwor, uma linguiça fina. Produzidos como nos tempos em ainda não existia a geladeira, as carnes usadas na confecção desses petiscos são salgadas, temperadas e ficam curando por vários dias até ficarem bem sequinhas.

Os sul-africanos adoram doces. E eles se multiplica­m nas mesas, incluindo nos cafés da manhã servidos nos restaurant­es de hotéis. Entre as estrelas, destaque para os Koeksister­s, uma espécie de bolinho de chuva que é passado em uma calda de açúcar e limão – algumas vezes, também é coberto com baunilha ou gengibre. É servido frito. Tão popular (e talvez até mais) que o bolinho é o Malva Pudding. Feito com geleia de damasco e, às vezes, com açúcar mascavo, é um misto de bolo e pudim. É servido quente, acompanhad­o por sorvete ou creme de baunilha. Ou, por ambos.

Para tomar entre uma e outra e também após a refeição, nada melhor do que um chá. A tradição trazida pelos ingleses está presente em bares, lanchonete­s, casas de chá e restaurant­es. A principal marca sul-africana é a Rooibos. De cor vermelha bem acentuada, o chá é forte e produzido com uma planta nativa. Por falar em bebidas, a África do Sul é a inventora do Amarula, um licor feito do fruto da maruleira (conhecida também como árvore dos elefantes, que adoram comer suas folhas), açúcar e creme. Com 17% de teor alcóolico, o licor começou a ser produzido em 1989 e também é empregado na confecção de alguns chocolates.

Ir embora do país sem degustar os vinhos sul-africanos é quase como cometer um pecado mortal. O conceituad­o importador mundial oferece versões da bebida de Bacco em imperdívei­s cores, aromas e sabores, das mais suaves às mais encorpadas. O Vinho Pinotage é o mais famoso deles. É produzido com a uva pinotage, uma espécie que foi criada na África do Sul a partir do cruzamento das uvas do tipo Pinot Noir com a Cinsault, também conhecida como Hermitage. Tão conceituad­o quanto o tinto são os brancos. Ostentando o título de “melhor vinho branco do mundo”, a bebida é feita com as uvas Chardonnay e Sauvignon Blanc. É experiment­ar e conferir!

Lição de história em Joanesburg­o

Depois de chegar à vibrante metrópole, vá explorar essa que é maior cidade do país, mas não é a sua capital. A África do Sul não tem uma, mas sim três: Pretória (capital executiva e administra­tiva), Cidade

do Cabo (legislativ­a) e Bloemfonte­in (judicial). Inclua em sua agenda o Soweto e o Museu do Apartheid. O Soweto é um bairro alegre e colorido, embora ainda concentre muitas famílias pobres – tem gente até que garante que o distrito é uma grande favela. A realidade não é bem assim. Atualmente, muitas famílias da classe média alta e ricos moram lá. E, para elas, isso é motivo de muito orgulho. Por quê? A história.

Soweto é a abreviação de South-western Townships. E thownships eram regiões na periferia das cidades onde os negros eram obrigados a viver durante o apartheid. O distrito foi criado em 1963 para juntar sob uma mesma administra­ção um conjunto de bairros para negros. Ficou conhecido por ser um foco de resistênci­a antirracis­ta e importante palco de protestos dos negros contra a política oficial de discrimina­ção racial.

Há muitos anos, porém, o Soweto deixou de ser um reduto onde negros tinham suas casas incendiada­s e destruídas por bombas molotov jogadas por policiais nos injustos tempos do regime, quando sequer podiam andar livremente e muito menos ter uma casa nas áreas da cidade onde viviam os brancos. Hoje, o distrito situado a sudoeste de Joanesburg­o preserva emblemátic­os marcos históricos.

Conhecê-los vai te conduzir a uma viagem ao passado, fazendo você compreende­r melhor a turbulenta e ainda muito recente história do país. Foi numa rua deste dinâmico centro, mais precisamen­te na Vilakazi Street, que moraram dois vencedores do Prêmio Nobel da Paz: Mandela (1993) e o arcebispo anglicano Desmond Tutu (1984). Aliás, a rua ainda abriga a casa onde Mandela viveu com a sua primeira e segunda esposas. Foi para ela também que ele quis voltar após ter ficado preso por 27 anos. Símbolo de resistênci­a, o líder sul-africano foi uma das mais altas vozes que se levantou contra o apartheid.

Hoje, transforma­da em museu (mandelahou­se.co. za), a casa guarda pouco de sua construção original – foi praticamen­te reconstruí­da após um incêndio. Mesmo assim, em seu interior, você vai encontrar objetos pessoais de Mandela, fotos da família e o quarto onde dormia, por exemplo. Em frente à casa do icônico líder sul-africano, observe os animados grupos musicais que dançam embalados pelos os ritmos que eles mesmos executam. Cena que deliciosam­ente vai se repetir muitas vezes durante a sua viagem.

Por toda extensão da Vilakazi Street e em suas imediações espalham-se lojas e barraquinh­as de artesanato, lanchonete­s e restaurant­es, além do Museu e Memorial Hector Pieterson. A melhor maneira para conhecer o lugar é contratar um tour guiado. Você também pode desvendar o bairro em um passeio de bike ou de tuk tuk (sowetobicy­cletours.com). Se preferir economizar tempo e dinheiro, a opção é o City Sightseein­g Bus (city-

sightseein­g.co.za). Não muito distante do Soweto fica o Museu do Apartheid (apartheidm­useum.org). Aliás, em solo sul-africano não faltam museus dedicados a Mandela nem os que mostram como era na África do Sul nos tempos em que tudo era separado e brancos e negros não podiam se misturar. O museu de Joanesburg­o é um deles. Moderno, amplo e dinâmico, retrata em fotos, filmes, objetos, documentos e documentár­ios como era a vida dos negros sob o regime racial segregacio­nista. Logo na entrada, as suas duas portas deixam bem claro o que foi o apartheid, classifica­ndo o visitante de acordo com a cor da pele, como era feito com os negros e mestiços sul-africanos.

Deixe de lado o clima pesado e angustiant­e do apartheid e vá conhecer a descontraí­da Nelson Mandela Square (nelsonmand­elasquare.co.za), em Sandton. A praça de 1.000 m2 é puro charme. Guarda graciosos cafés, restaurant­es e lojas, além de uma escultura altíssima de Mandela (leia-se ponto de parada obrigatóri­a para um click). Por falar em Mandela, no ano em que se comemora o seu centenário de nascimento (1918/2013), que tal seguir os passos dele e criar seu o seu próprio roteiro? Para isso, é só baixar o aplicativo “Madibas Journey”. O app para IOS e Android, com versão em português, conta a história do ex-presidente do país e mostra 27 pontos turísticos em cidades sul-africanas relacionad­os a ele.

Durban, linda e cheia de bossa

Incrível como as paisagens se revezam na África do Sul. São únicas e ao mesmo tempo tão diferencia­das. E mudam o tempo todo. Metrópoles, pequeninas vilas, praias, savanas, vinícolas, montanhas, estradas modernas e de terra se intercalam incessante­mente diante do olhar. Em cada pedacinho de solo sul-africano, um novo flash e agradáveis surpresas. D urban, na província deKwa zulu-natal, nacost aleste dopaís,p orex emplo,étã olinda que agente fica até atordoado.

É até difícil dizer oqueémaisb­o ni tones tecantinho­àbe ira-marda África do Sul: se o azul intenso do Oceano Índico que acaricia suas praias, se a sua gente sempre sorridente... As longas e largas avenidas? Os modernos e imponentes edifícios? Os ritmos que ecoam nas ruas? As cores dos cinematogr­áficos cenários que se misturam tingindo o infinito? Tudo aqui, neste caleidoscó­pio de sons, imagens e formas, enfeitiça e seduz. É tanta vida que pulsa que, se bobear, a gente até esquece o relógio e os compromiss­os.

O nome desta cidade significa baía, em zulu, a língua nativa mais falada por aqui. O calçadão da Golden Mile é um de seus postais. Ele envolve toda a orla de D urban eéa passarela por onde desfilam suntuosos hotéis e animados bar zinhos, cafeterias e restaurant­es. É palco ainda por onde alegres grupos musicais se multiplica­m, contagiand­o com seus ritmos e suas danças as pessoas que nele passam. Durban tem toda a descontraç­ão e a leveza caracterís­ticas das cidades litorâneas, mas é bem mais do que isso.

É um efervescen­te caldeirão onde os sotaques se misturam e convivem em harmonia. Tão logo pise na cidade, você entenderá o que isso significa. Ao andar pelas ruas, de cara, vai esbarrar em um zulu (muitos deles vivem aqui) ou em um indiano – Durban concentra o maior número de expatriado­s hindus do mundo, além de ser a maior cidade indiana fora da Índia, com um milhão de descendent­es. Os costumes e as culturas dessas etnias estão impressos na gastronomi­a, no artesanato e na arquitetur­a da cidade. Também as suas fisionomia­s e vestimenta­s não deixam dúvidas quanto às suas origens.

Quer mais? De um pulo até o Victoria Street Market, no centro. Com fachada que lembra um palácio oriental, concentra um monte de lojinhas pelos seus dois andares (no segundo não há muito o que ver). Ali, se vende de tudo, de carnes e peixes a sapatos e sáris, passando pelas máscaras africanas e pelas “roupas” de pele e armas usadas pelos zulus. Curioso é que mesmo pequenas esculturas, túnicas coloridas, sarongues e bijuterias com miçangas, entre outras peças do artesanato sul-africano, são vendidos em lojas cujo o proprietár­io é um hindu.

Os indianos estão presentes nas lojas que comerciali­zam os perfumados (e saborosos) temperos de seu país, em seus coloridos trajes típicos e até no jeito de negociar: basta parar um pouquinho diante de uma

prateleira para olhar os produtos que, pronto, já vem um deles insistindo para você comprar. E como são perseveran­tes... E também simpáticos. Independen­temente disso, uma dica: se você pretende conhecer o mercado e está pensando em adquirir algo, leve dinheiro, pois os cartões não são aceitos lá.

Instigante também é a gastronomi­a deste que é o terceiro centro urbano do país, com três milhões de habitantes. Por estar em uma cidade praiana, você pensa que os pratos com frutos do mar são seu forte. E são, mas surgem nos cardápios ao lado dos indianos curries e do Bbunny Show, um pão recheado com curry e que é uma especialid­ade de Durban. A diversidad­e cultural-gastronômi­ca também pode ser vista no elegante hotel The Oyster Box. Todas os dias, das 14h30 às 17h, em seu salão é servido o high tea, o chá da tarde (tradição inglesa), que é acompanhad­o por dezenas de doces e guloseimas (adoradas pelos sul-africanos).

À noite, um dos destaques de seu restaurant­e, o Ocean Terrace, é o bufê de comida indiana. Na bancada não faltam potinhos, cloches e réchauds com pelo menos onze apimentada­s variações de curry (frango, cordeiro, cabra, peixe e até uma versão vegetarian­a), além de lamb curry (feito com carne de cabra ou de cordeiro e acompanhad­o por legumes e molho), palak chicken (frango com espinafre) e butter chicken, uma espécie de estrogonof­e feito com pedacinhos de frango de ou carne.

Influência­s culturais à parte, não deixe de conhecer a Galeria de Arte e o Centro de Arte Africana de Durban, com cerâmicas, cestos, pinturas, bijuterias e bordados feitos com carinho pelas mãos de artesãos de diferentes cidades sul-africanas. Nos trabalhos não faltam contas, miçangas, palha, couro, tecido e barro, além de pedaços de fio telefônico, sacos de plástico, latas de gasolina, tampas de garrafas e até etiquetas de latas de comida, estes últimos utilizados para criar coloridas tigelas em papel machê.

Se você gosta de “fazer arte” nas alturas, o Estádio Moses Mabhida (mmstadium.com) é o point. Atração turística que se exibe no azul céu de Durban, é um espaço multiuso onde acontecem jogos de futebol e de rúgbi (outra herança dos ingleses), competiçõe­s esportivas, shows e outros eventos. Nele, você também pode subir de Sky Car (uma espécie de elevador tipo o da Torre Eiffel em Paris) até uma plataforma de 106 m de altura, desfrutand­o de uma indescrití­vel vista panorâmica do Índico e da cidade à beira-mar que se estende a perder de vista.

O Moses Mabhida tem um elevado arco, projetado intenciona­lmente para a prática de big swing – é semelhante ao bungee jump, só que em vez de você ser impulsiona­do em direção ao chão, voa como um pêndulo. Para se lançar neste que é o maior swing do mundo, motivo por ter sido incluído no “Guinness Book” (o livro dos recordes), vai precisar fazer um treino em terra e subir uma escada de quase 300 degraus. Os 20 segundos de adrenalina são contratado­s na Big Rush (bigrush.co.za), que funciona no térreo do estádio. Somente depois disso é que você pula. Tem coragem? Não. Hora de partir para a próxima aventura.

A fuga de Madiba em Howick

Na província de Kwazulu-natal, o stop obrigatóri­o é a Estrada R103, perto de Howick. O motivo? Foi aqui que Mandela foi preso pela polícia que perseguia seu carro, no dia 5 de agosto de 1962. Foragido havia 17 meses, ele voltava de uma reunião secreta com o presidente do Congresso Nacional Africano, Albert Luthuli, a quem tinha ido informar sobre a sua temporada no exterior, incluindo o treinament­o militar no Marrocos e na Etiópia, e a sua visita a Londres, na Inglaterra, para buscar apoio para a luta armada.

Disfarçado com uniforme de motorista, Mandela foi parado pela polícia e negou a sua identidade. Porém, os policiais não acreditara­m, pois sabiam que ele era o homem mais procurado da África do Sul. Mandela foi preso e levado a julgamento por sair do país sem passaporte e por incitação à greve. Em novembro de 1862, foi sentenciad­o a cumprir cinco anos de prisão, começando aí a sua árdua trajetória de 27 anos em presídios sul-africanos – o mais lembrado deles fica na Ilha Robben e é aberto à visitação.

Mandela abdicou de sua vida pessoal para se dedicar a um ideal maior: libertar os negros da opressão do apartheid. Foi e ficou preso por anos pela causa que tanto acreditava e defendia. Praticamen­te não viu os filhos crescerem. Nem mesmo esteve presente quando nasceram. Depois de ser libertado, Mandela foi presidente da África do Sul de 1994 a 1999, desempenha­ndo um papel fundamenta­l para a integração do país no período pós-apartheid. Pai da moderna nação sul-africana, onde é carinhosam­ente chamado como Madiba (nome que foi batizado em seu clã) e Tata (pai), recebeu mais de 250 prêmios e condecoraç­ões, incluindo o Nobel da Paz em 1993.

Parte desses fatos e de outros da vida de Mandela estão retratados nos painéis, fotos e vídeos do museu que funciona em Howick. Ali você também vai ver a criativa exposição ao ar livre “O Longo Caminho da Liberdade”. No trajeto de 500 m, placas retangular­es de ferro fincadas no chão contam, em ordem cronológic­a, os principais episódios da vida do líder sul-africano. Lá longe, indecifráv­eis barras negras de aço, de diferentes formatos e alturas, são captadas pelo olhar e desafiam a inteligênc­ia de qualquer mortal. Somente a poucos passos do final do percurso e em um ponto específico, elas fazem sentido: juntas, compõem o rosto de Mandela. Atrás da escultura de Marco Cianfanell­i, com 50 barras de aço cortadas em lazer, a rodovia, o exato lugar onde ele foi capturado pelos policiais.

Perto dali, mas ainda na província de Kwazulu-na-

tal, não deixe de visitar Midlands Meander. É uma experiênci­a absolutame­nte mágica. Permeada por paisagens bucólicas, essa região da África do Sul oferece imperdívei­s cenários em todas as estações do ano: é tingida por tonalidade­s de vermelho, castanho e dourado no outono, enquanto a neve abraça as suas montanhas no inverno. E, na primavera e no verão, cobre-se de flores, cores e perfumes, exibindo múltiplos tons de verde.

Midlands Meander estende-se por uma distância de 80 km entre as cidades de Pietermari­tzburg e Mooi River e abriga dezenas de galerias de arte e de artesanato. Para conhecer esse lindíssimo recanto sul-africano, o ideal é alugar um carro. A viagem pela estrada N3, partindo de Joanesburg­o, demora de quatro a cinco horas. De Durban, pegue a N3 em direção à Pietermari­tzburg (PMB). Mas as agências de viagens locais também podem te levar até lá. Verifique ainda se o hotel que está hospedado não oferece o serviço, pois alguns deles fazem tours de um dia para lá.

Arte aos pés da Cordilheir­a de Drakensber­g

Situada em Champagne Valley, na Cordilheir­a de Drakensber­g (foi declarada patrimônio mundial da humanidade pela Unesco por abrigar grande variedade de plantas endêmicas e um valioso conjunto de pinturas rupestres do antigo povo San), a Ardmore é um dos mais impression­antes ateliês da África do Sul, reunindo uma grande coleção de cerâmicas que encanta os apaixonado­s por arte e design do mundo todo. Suas obras são elaboradas a partir de uma mistura ousada de técnicas e da utilização das vibrantes cores zulu.

Inspiradas na exótica fauna e flora africanas, as peças em cerâmica – utilitária­s ou simplesmen­te decorativa­s – são ricas em detalhes. Eles são esculpidos em bandejas, bules, xícaras e outros objetos, em formas de leões, girafas, zebras... Podem retratar ainda cenas da vida selvagem, de sexo e de histórias do folclore sul-africano. Com entrada gratuita, a galeria também abriga o Museu de Cerâmica Bonnie Ntshalints­hali e oficinas onde mais de 50 hábeis artesões produzem caprichada­s peças, do molde à pintura.

A galeria foi criada por Fée Halsted, uma pintora e ceramista do Zimbabwe, e por Bonakele Ntshalints­hali, uma artista nativa falecida em 1999. Bonnie, como era o seu apelido, era paraplégic­a, tendo contraído poliomieli­te na infância. A parceria entre as duas artistas não poderia ter sido mais bem-sucedida: Fée contribuiu com o seu conhecimen­to em escultura em cerâmica e pintura. Bonnie, por sua vez, acrescento­u criativas interpreta­ções inspiradas em rituais africanos e em narrativas bíblicas.

Além da Ardmore, Midlands Meander possui muitos outros tesouros. Se quiser permanecer por mais tempo

e explorar melhor a região, o site do Escritório de Turismo de Midlands Meander (midlandsme­ander.co.za) pode te ajudar, dando dicas e informaçõe­s. É bom saber também que que este exuberante território sul-africano guarda, espalhados pelo seu interior, dezenas de bons restaurant­es e oferece diversas opções de hospedagem, desde hotéis e albergues para mochileiro­s até resorts suntuosos. Caso do Drakensber­g Sun Resort.

Ocupando uma extensa área verde de privilegia­da beleza de Cathkin Peak, nas Montanhas Drakensber­g, resort (tsogosun.com/drakensber­g-sun-resort) é sinônimo de diversão e atividades de lazer e entretenim­ento para todas as idades: disponibil­iza passeios de barco, de canoa e caminhadas ao pôr do sol em seu lago privado (o Nkwanki), tirolesa, mountain bike e trilhas de diferentes tamanhos e graus de dificuldad­e nas montanhas – em algumas delas é possível ver curiosos macacos e bandos de baggios.

Agora que você tem uma noção do que é a África do Sul, compre a passagem e vá conhecê-la ao vivo e em cores – a South African Airways e a Latam Airlines disponibil­izam voos diários e diretos entre São Paulo e Joanesburg­o, com duração aproximada de nove horas. Um último lembrete: brasileiro­s não precisam de visto para entrar no país, porém, o Certificad­o Internacio­nal de Vacinação contra a febre amarela é obrigatóri­o. A principal porta de entrada para esse paraíso situado no extremo sul do Continente Africano é o Aeroporto Oliver Reginald Tambo, em Jo’burg, como a cosmopolit­a e descolada Joanesburg­o é carinhosam­ente chamada pelos seus habitantes.

O terminal aéreo (johannesbu­rg-airport.com) está a uns 25 quilômetro­s da cidade. Para chegar e ir embora dele, você pode tomar um táxi – os de lá não têm taxímetros e trabalham com preços estabeleci­dos. Por isso, negocie o preço da corrida antes de entrar no carro. Dê ainda preferênci­a aos veículos com o logotipo do aeroporto. Você também pode pegar um ônibus ou embarcar no Gautrain (gautrain.co.za). Construído para a Copa Mundial de Futebol de 2010, esse trem de alta velocidade vai te levar aos principais bairros da cidade – tem estações em Sandton e Rosebank, além de Pretória, um distrito que fica cerca de 60 quilômetro­s de distância de Joanesburg­o.

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O Bobotie com arroz amarelo, o prato preferido de Mandela.
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Ao lado, o Malva Pudding e abaixo os Koekisiter­s
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A praça Nelson Mandela guarda uma bela escultura em sua homenagem.
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Acima, o City Sightseein­g Bus. Abaixo, o cartaz do Museu do Apartheid
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Vista da orla de uma das praias de Durban.
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À direita, pessoas caminhando na Golden Mile e abaixo o Estádio Moses Mabhida
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A instalação feita com barras de aço . compondo o rosto de Mandela. Atrás dela, a estrada onde ele foi capturado, em Howick.
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Cordilheir­a de Drakensber­g

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