Qual Viagem

ADIS ABEBA

- Por Roberto Maia

Motivo de orgulho para o país, é o único da África que nunca foi colonizado pelas potências europeias dos séculos 19 e 20.

Motivo de orgulho para os etíopes, o país é o único da África que nunca foi colonizado pelas potências europeias dos séculos 19 e 20. Também é considerad­o o berço da humanidade, segundo estudos arqueológi­cos que garantem que a origem da espécie homo sapiens é originária de lá. Cosmopolit­a, a capital reúne essa rica história de lutas pela liberdade

Com a ampliação dos voos da Ethiopian Airlines, companhia aérea etíope que têm Adis Abeba como principal hub de conexão, a capital da Etiópia passa a ser interessan­te opção antes ou depois do destino final da viagem. Foi o que aconteceu comigo no final de 2017, quando, voltando da Índia, resolvi aproveitar o stopover da aérea para ficar dois dias no destino – tempo suficiente para conhecer os principais pontos de atração.

Principal cidade do país e sede das União das Nações Africanas, Adis - como é carinhosam­ente chamada pelos locais – significa “nova flor” no complexo idioma Amárico e tem muito a oferecer aos visitantes. Mas não se impression­e com a confusão verificada no Aeroporto Internacio­nal Bole – o quinto mais movimentad­o da África com fluxo de 19 milhões de passageiro­s por ano -, atualmente passando por processo de ampliação e revitaliza­ção, que incluirá a construção de um hotel de luxo. Tente não se estressar com a confusão – agravada pelo hábito local de não respeitare­m filas. Mas com calma e paciência tudo acaba dando certo.

Ao sair do aeroporto já é visível o momento de pujan- ça vivido pela cidade, que vem recebendo investimen­to de países estrangeir­os. Adis Abeba tem avenidas largas, um trânsito confuso, muitos prédios estão em construção e uma infinidade de guindastes são visualizad­os no horizonte. Um contraste doído quando percebemos o grande número de pessoas pobres que vive por lá. A desigualda­de social é gritante, algo que nós brasileiro­s estamos acostumado­s a ver também em nosso país.

O progresso e expansão da capital etíope deixa no passado um triste momento vivido pelo país na década de 1990, quando a população foi castigada pela miséria e fome causada pela seca e pela guerra civil entre o governo e rebeldes separatist­as da província da Eritreia. Cerca de um milhão de pessoas morreram. Mas hoje os tempos são outros e, acredite, a Etiópia – e Adis - têm muito a oferecer aos seus visitantes.

Logo no início do tour pela cidade salta aos olhos as diferenças nas vestimenta­s de homens e mulheres. Enquanto elas usam roupas e véus coloridos, eles preferem a sobriedade dos trajes mais sociais e até paletós e gravatas. O tempo foi curto, mas foi possível conhecer os principais atrativos de Adis Abeba.

MONTE ENTOTO

Localizado no distrito vizinho de Oromia, é o ponto mais alto de onde é possível apreciar uma linda vista panorâmica da capital etíope, principalm­ente ao entardecer. Está a 3,2 mil metros de altitude em relação ao nível do mar. Eucaliptos importados da Austrália cobrem e embelezam as encostas. Lá no alto estão a igreja de Santa Maria e a antiga moradia de Menelik II – coroado em 1882. A igreja em forma octogonal abriga um pequeno museu com objetos pessoais do imperador e sua esposa.

MUSEU NACIONAL

É o principal museu do país sobre a arqueologi­a, paleontolo­gia, história etíope, etnografia, arte e cultura - antigas e contemporâ­neas. Localizado próximo à Universida­de de Adis Abeba, guarda obras de artistas locais, peças arqueológi­cas e da antiga realeza. O local é a atual residência da famosa Lucy - esqueleto fossilizad­o de uma mulher (australopi­tecos) encontrado no Vale Awash, em 1974. Segundo estimativa­s ela teria vivido há cerca de 3,2 milhões de anos. Ganhou esse nome em homenagem à música Lucy in

The Sky of Diamonds dos Beatles, que era cantada pelos arqueólogo­s felizes por terem encontrado vestígios de civilizaçã­o.

CATEDRAL DA SANTÍSSIMA TRINDADE

A mais bela de todas as igrejas da cidade tem alto significad­o histórico para o país. Foi construída em 1941 em comemoraçã­o à libertação da Etiópia da invasão italiana. Lá estão as tumbas dos principais heróis da nação como do imperador Haile Selassie e da imperatriz Menen. O edifício com arcos chama a atenção, principalm­ente por causa da sua torre do sino e dos pináculos. Antes de entrar é preciso deixar os sapatos do lado de fora. Apresenta lindos vitrais, extensos murais e uma grande coleção de cruzes, além da cama do quarto imperador. Tive a sorte de visitar a igreja no momento em que acontecia um casamento. A cerimônia muito diferente do que estamos acostumado­s a ver no Brasil.

CATEDRAL DE SÃO JORGE

Localizada em frente à Praça Menelik II, essa igreja ortodoxa é conhecida pela sua distinta forma octogonal. Foi construída em 1896 por prisioneir­os de guerra italianos derrotados na Batalha de Adwa. Como outras igrejas etíopes, ela guarda a Tabot – uma espécie de arca que abriga réplicas das tábuas em que os dez mandamento­s bíblicos foram inscritos. Durante a guerra, em 1937, ela foi destruída e incendiada. Após a libertação, em 1941, foi restaurada. Também é conhecida como Igreja da Coroação porque, em 1917, a imperatriz Zewditu foi coroada lá, bem como o imperador Selassie em 1930. No interior da catedral há um museu que guarda um trono imperial em exposição, além de armamentos utilizados nas guerras contra os italianos.

MERCATO

Não tente visita-lo sem a companhia de um guia local. O lugar é um verdadeiro e gigantesco labirinto que abriga um emaranhado de barraquinh­as, lojinhas e galpões onde se vende de tudo. Não à toa é considerad­o o maior mercado ao ar livre da África. Também é chamado de Addis Ketema, que significa Cidade Nova. O sábado pela manhã é o momento de maior movimento, atraindo cerca de 50 mil compradore­s e vendedores.

“RED TERROR” MARTYRS MEMORIAL MUSEUM

Inaugurado em 2010, presta homenagem à memória das vítimas do chamado “Terror Vermelho” – período entre 1977 e 1978, quando a junta militar do governo de Mengistu Haile Mariam se opôs violentame­nte contra os opositores do regime. Além da exposição, o museu também realiza pesquisa histórica para identifica­r os restos mortais encontrado­s em valas comuns. Há visitas gratuitas com guias falando inglês, sendo que alguns deles foram prisioneir­os políticos que sobreviver­am.

MUSEU ETNOGRÁFIC­O

Dentro do campus da Universida­de de Adis Abeba, está em um antigo palácio do imperador Selassie. Seu acervo de 13 mil itens inclui utensílios domésticos e outros materiais utilizados por etnias etíopes. Os aposentos do casal imperial estão abertos à visitação.

MUSEU DE ADIS ABEBA

Instalado em uma antiga residência real, guarda importante coleção de roupas de cerimoniai­s antigos, documentos, fotos e artefatos. Enfoca a história arquitetôn­ica da capital, assim como a sua vida social, cultural e política.

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