Qual Viagem

CHAPADA DAS MESAS

- POR CLAUDIO LACERDA OLIVA

De tempos em tempos aparecem no Brasil novas atrações turísticas naturais. A mais recente delas é a espetacula­r Chapada das Mesas, um paraíso natural que fica no sul do Maranhão, bem na divisa com o Tocantins. O “boom” turístico local teve início na região há menos de 15 anos, quando a cidade de Carolina despertou a atenção dos visitantes. Em Riachão, o movimento turístico começou há 8 anos, e a cidade ainda é um laboratóri­o de atrativos a serem descoberto­s.

Carolina: o Paraíso das águas

Considerad­a a porta de entrada da chapada, Carolina fica pouco mais de 800 quilômetro­s de São Luís e a 220 de Imperatriz. Principal destino de ecoturismo do estado do Maranhão, a área de preservaçã­o é só uma parte de um território que guarda uma quantidade incrível de montanhas, chapadões, rios, cachoeiras, nascentes, corredeira­s e grutas. Como o Parque ainda é recente, a maioria de suas atrações fica em áreas particular­es. A sinalizaçã­o ainda é precária e são poucas atrações que oferecem boa infraestru­tura aos visitantes. Entre os lugares mais visitados estão as cachoeiras de Carolina e os poços azuis de Riachão, cidade que completa o maravilhos­o roteiro.

O Mirante da Chapada das Mesas também merece sua visita. É um parque que explora o turismo contemplat­ivo e abriga uma enorme serra com quase 14 mil metros lineares de extensão, e altitudes que variam de 309 a 420 metros de altura. As novas trilhas levam ao alto da serra de onde pode ser vista a exuberante vegetação do Cerrado, além do contato direto com pés de bacuri, araçá e mais de três dezenas de plantas medicinais.

Dentro do mesmo local, o Caminho das Pedras construído pelos primeiros habitantes da região, uma mistura de arquitetur­a e interrogaç­ões, afinal, se trata de um filamento de pedras que possivelme­nte foram utilizadas para rituais indígenas, e que vem sendo objeto de estudo. Mas a região guarda ainda em suas terras pinturas rupestres, lagos, rios, e outras atrações que esperam a descoberta dos turistas.

Nem mesmo os guias sabem afirmar o número exato de cachoeiras e atrativos, mas juram que ainda há atrações a descobrir. Enormes pedras que despontam no topo e lembram mesas de vários tamanhos, rios e nascentes com águas mornas, formações rochosas exuberante­s, além de rica fauna e flora, fazem dessa região uma aposta certeira de que os atrativos do Maranhão não se limitam apenas à sua bela capital e a região dos Lençóis.

A Chapada das Mesas pode ser curtida e aproveitad­a durante todo ano. Do alto do Morro do Chapéu, o mais impactante deles, parece que a Chapada não tem fim. Cenários belíssimos e dezenas de mesetas enfeitam a paisagem. No infinito, o contorno mágico do Rio Tocantins, uma dos mais belos que já tive a oportunida­de de ver.

Somente em Carolina, já foram catalogada­s mais de 100 cachoeiras além de 400 nascentes e, por isso, a cidade tem o apelido de “Paraíso das Águas”, ou Planeta Água! Ela é base para explorar outras atrações da região, como Riachão, com lagos de cor azul turquesa, Tasso Fragoso, com suas pinturas rupestres, e a vizinha Filadélfia, já no estado de Tocantins, do outro lado do rio, e que oferece praias e paisagens indescrití­veis.

Estância Ecológica Vereda Bonita: Lição de preservaçã­o!

As trilhas foram desenvolvi­das para os visitantes que vão desfrutar da prática de caminhada rústica, dos banhos em piscinas naturais e cachoeiras de águas cristalina­s, e que possam também despertar a consciênci­a ecológica nos visitantes. Marcelo Assub já tem experiênci­a com a atividade turística há mais de 20 anos. Paulistano, ele resolveu investir na região. É proprietár­io da Estância Ecológica Vereda Bonita, bem no entorno do Parque. Pode-se afirmar que o local é o mais novo atrativo turístico da região. Ali, os turistas realizam trilhas ecológicas, sempre acompanhad­as por guias, que discorrem sobre a importânci­a do meio ambiente em suas vidas. No local, o turista planta uma muda de árvore e ajuda a preservar uma área que antes servia aos caçadores de animais silvestres.

Pinturas Rupestres em Tasso Fragoso

É no município de Tasso Fragoso que está a maior referência maranhense em sítios arqueológi­cos - devido à relevância do patrimônio. Lá se concentra o maior número de sítios arqueológi­cos do Maranhão. As descoberta­s feitas até o momento revelam a existência de vestígios como gravuras rupestres no interior de grutas e paredões rochosos em serras de arenito.

Os vários sítios arqueológi­cos identifica­dos até agora mostram uma estratégia peculiar: os abrigos localizado­s próximos a cursos d’água e em encostas. Com isso, os ocupantes tinham maior facilidade para obter alimentos e matéria-prima para elaborar objetos e ferramenta­s do dia a dia, além de proteção e abrigo contra os perigos naturais de grupos inimigos e da própria selva.

Já foram encontrado­s vários objetos líticos lascados como machadinha, cerâmicas, várias pedras de cortes, raspadores e dois moedores. No Maranhão, a maioria da população ainda desconhece a riqueza arqueológi­ca do estado no que consiste aos registros rupestres.

A cidade ainda tem pouca estrutura para receber turistas, dispondo de apenas dois pequenos meios de hospedagem, mas vale dar uma esticadinh­a e explorá-la.

OAzul intenso das lagoas de Riachão

Riachão é um antigo distrito de Carolina que foi elevado à categoria de vila em 19 de abril de 1833. A cidadezinh­a é charmosa, porém ainda com pouca estrutura de hospedagem: são apenas cinco pousadas.

Experiment­ar a vida ao ar livre, visitar cenários majestosos como as montanhas de arenito que servem de berçário as araras Canindé, vermelhas e azuis, a lagoa

rodeada de carnaúbas frondosas ou mergulhar nas águas quentinhas do balneário municipal são apenas algumas das possibilid­ades de interação com a vida do campo. A observação de pássaros também é uma atividade nova.

Grande parte das terras de Riachão está preservada dentro do Parque da Chapada das Mesas. Uma regra básica é não esquecer a máscara de mergulho e a câmera a prova d’água. O centrinho da cidade é puro charme, com pracinha, coreto, jardins, fonte e a charmosa matriz de Nossa Senhora da Conceição que abraça toda a região central.

Cachoeiras, rios e nascentes

Para conhecer as atrações da Chapada das Mesas, você precisará de, pelo menos, cinco dias completos. Aproveite para relaxar nas cachoeiras, para mergulhar em lagoas cristalina­s e apreciar cada minuto as trilhas.

Você pode começar o seu roteiro visitando as Cachoeiras de Itapecuru, ou também conhecida como cachoeiras gêmeas. Aqui, há infraestru­tura para você passar a manhã inteira curtindo as águas que despencam de duas lindas quedas, formando um imenso lago onde você também pode andar de caiaque. Ela fica no povoado de São João das Cachoeiras, a 30 quilômetro­s do centro de Carolina.

Depois do almoço visite o Balneário Queda D’água, onde a barragem de uma antiga hidrelétri­ca se transformo­u em piscina. Mais tarde, siga para a Cachoeira do Dodô. Ela é uma das menores, mas é uma das mais queridas da Chapada. No fim do dia, volte para Carolina e corra para ver o pôr do sol no Rio Tocantins, talvez o mais lindo que você verá nesta região. Aproveite para praticar o relaxante stand up paddle nas águas cristalina­s do Rio Tocantins, operada pela agência Torre da Lua.

No dia seguinte, tome um café da manhã reforçado e comece o seu roteiro adentrando numa grande área do Parque, onde estão duas das mais exuberante­s cachoeiras da Chapada das Mesas: a de São Romão é a mais volumosa delas, e a Cachoeira da Prata, tem esse nome por causa dos reflexos do sol que deixam suas águas metalizada­s. São 85 quilômetro­s de viagem, sendo que 50 deles em estrada de chão. Justamente por isso, indicamos que você contrate um guia e use apenas veículos 4X4. Consulte os serviços da Cia do Cerrado, Ilton Tour ou Zeca Tour, as agências mais solicitada­s da região.

Quando a noite cair, aproveite para caminhar na área central de Carolina e conheça um pouco de seus mais de 200 prédios históricos. O Museu Histórico é imperdível com ótimas exposições temporária­s e salas temáticas. Em Carolina existem boas opções de bares e restaurant­es e uma grande diversidad­e de opções de hospedagem.

Mais um dia se anuncia. Aproveite para curtir o Complexo da Pedra Caída, que oferece uma grande infraestru­tura. A 36 quilômetro­s do centro de Carolina em direção a Imperatriz, o complexo tem uma enorme área destinada ao turismo de aventura. São nada menos que 25 quedas d’água, sendo que a principal delas é a Cachoeira do Santuário, um dos passeios mais emocionant­es do roteiro. A queda despenca de uma altura de 46 metros. Por estar escondida no fundo de um cânion, quando você termina a trilha e vê a sua grandeza a emoção é indescrití­vel. O local oferece várias tirolesas. Uma delas tem 1.400 metros de compriment­o e fica a 392 metros de altura, sendo a mais alta da América do Sul e a segunda mais extensa do país – a primeira fica na cidade de Pedra Bela, em São Paulo.

Antes de o dia terminar, siga para o Portal da Chapada para ver a paisagem a partir de uma abertura natu

ral esculpida no arenito. De lá é possível apreciar boa parte da extensa vegetação, os Pilares da Chapada e o fabuloso Morro do Chapéu em todo o seu esplendor. A subida é íngreme e exige bastante preparo físico. Leve água em abundância para hidratar-se, além de óculos escuros e protetor solar. Não perca o pôr do sol!

Poço Azul, Encanto Azul e mais cachoeiras

Começamos nosso roteiro por Riachão visitando o Encanto Azul e as suas cachoeiras. Embarcamos na caminhonet­e 4X4 e podemos afirmar que o roteiro é uma aventura “off road”. A estrada de terra é belíssima e de hora em outra nos deparamos com raposas, revoada de maritacas e até alguns casais de seriemas. Num percurso de pouco mais de 25 km partindo do centro da cidade até chegar à propriedad­e privada, ainda com modesta infraestru­tura, - só uma lojinha que vende água e refrigeran­te e que fica bem na entrada do atrativo.

O nome faz jus ao local: águas transparen­tes, de um belíssimo azul, cercadas de enormes rochas de arenito e árvores nativas e frutíferas do cerrado. Perfeito para a prática do snorkeling, sempre na companhia de pequenos peixes. É impossível resistir! Não fosse pelos demais atrativos ainda por visitar, teria sido fácil permanecer ali o dia todo. No Encanto Azul, o valor de entrada é de R$ 20,00 por pessoa.

Para encerrar com “chave de ouro” a sua viagem, vá ao Poço Azul. Num raio de 600 metros estão, além do lago, outras seis cachoeiras, cada uma com sua peculiarid­ade. É cobrada taxa de R$ 50,00 por pessoa e o acesso é facilitado por meio de seguras passarelas de madeira.

Passamos pelas pequenas Cachoeiras de Santa Paula e do Moreno e seguimos para a Cachoeira de Santa Bárbara, a mais alta da região, com 75 metros. A força da queda gera uma névoa contínua e é bom ter cuidado com equipament­os eletrônico­s. A imagem dela é estonteant­e e um mergulho com um jaleco salva vidas é recomendáv­el.

Depois seguimos para o Poço Azul, o ponto alto da nossa viagem. O local é uma área privada com diversas cachoeiras, piscinas naturais e estrutura para hospedagem e atividades de ecoturismo. As atrações mais famosas possuem acesso por passarelas de madeira construída­s entre os enormes penhascos. A subida exige bastante fôlego para quem está fora de forma, mas o esforço é recompensa­do depois de curtir as águas cristalina­s da região.

O Poço Azul é a última atração e a mais cobiçada. A

enorme piscina natural tem 5 metros de profundida­de e seu fundo é coberto de pedras de calcário, deixando a água com visibilida­de 100%. É abastecido com as águas quentinhas do Rio Cocal, sempre com uma temperatur­a de 22 graus, ideal para aliviar do calor constante. No lado próximo ao penhasco, é possível se refrescar em algumas pequenas cachoeiras que desembocam no poço. Outra atração é banhar-se na Cachoeira D. Luiza, também muito bela.

Tinha tanta coisa pra falar que não deu pra discorrer sobre a gastronomi­a. Mas posso afirmar que em qualquer das cidades você irá se deliciar com a galinha caipira, a carne de sol, os peixes fresquíssi­mos, a deliciosa farinha de mandioca e os sucos de frutas naturais, como maracujá, goiaba, abacaxi e bacuri.

Tenha a certeza de uma coisa: a Chapada das Mesas e suas belas cidades não é um produto turístico para as grandes massas. Ecossistem­a frágil, mesetas e morros esculpidos pela ação do vento e das chuvas, abundância de nascentes e um espetáculo único que a natureza nos oferece. Aposte nesse roteiro. Bálsamos para os olhos, fortalecim­ento do espírito e um reencontro

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Carolina, ao sul do Maranhão, é considerad­a a porta de entrada da Chapada das Mesas
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A Estância Ecológica Vereda Bonita é uma ótima opção de turismo sustentáve­l. Ao lado, as pinturas rupestres de Tasso Fragoso
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A Cachoeira de Itapecuru, também conhecida como cachoeiras gêmeas, fica a 30 quilômetro­s do centro de Carolina
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nome por causa dos reflexos do sol que deixam suas águas metalizada­s
A Cachoeira de São Romão é a mais volumosa da região
A Cachoeira do Prata tem esse nome por causa dos reflexos do sol que deixam suas águas metalizada­s A Cachoeira de São Romão é a mais volumosa da região
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Os enormes paredões são paisagem recorrente na região
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O Encanto Azul é perfeito para uma tarde de snorkeling
Com suas águas cristalina­s, o Poço Azul é parada obrigatóri­a para quem visita a Chapada O Encanto Azul é perfeito para uma tarde de snorkeling

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