Conclusão do caso Backer
Em junho, foi anunciada a conclusão do caso envolvendo a cervejaria Backer (MG), que investigou a ocorrência de síndrome nefroneural relacionada às cervejas da marca entre novembro de 2019 e janeiro de 2020.
Oinquérito da Polícia Civil de Minas Gerais indiciou 11 pessoas após concluir que houve relação entre os atingidos pela síndrome nefroneural e a ingestão de cervejas contaminadas. Foram 10 vítimas fatais e 19 pessoas com sequelas graves, além de 30 denúncias que seguem em investigação. Os crimes atribuídos foram de lesão corporal, homicídio culposo (quando não há intenção) e intoxicação de produto alimentício, entre outros. Dez dos indiciados são pessoas ligadas diretamente à Backer: quatro engenheiros, um químico, um bioquímico e um agrônomo, além dos três donos da cervejaria. O 11º indiciado é uma testemunha, que responderá por extorsão e falso testemunho.
A constatação foi de que a contaminação ocorreu por monoetilenoglicol e dietilenoglicol, substâncias refrigerantes anticongelantes que não poderiam ter entrado em contato com as cervejas. “Ambas as substâncias são tóxicas. É verdade que o dietilenoglicol tem o nível de toxicidade maior que o mono, mas ambos são igualmente tóxicos e causam a síndrome nefroneural”, afirmou Thales Bittencourt, superintendente de Polícia Técnico-Científica e Médico-Legista, no site da Polícia Civil de MG. É recomendado que cervejarias utilizem propilenoglicol e álcool etílico potável nos sistemas de refrigeração.
Conforme o inquérito, houve contaminação culposa, que ocorreu durante a produção na cervejaria devido à presença de furos no alinhamento da solda dos tanques da cervejaria. “A questão a se destacar não é a ocorrência do vazamento, é o uso de uma substância tóxica dentro de uma planta fabril destinada à alimentação. Ela não poderia ocorrer, por uma simples análise de elementos técnicos nos equipamentos usados”, explicou o delegado Flávio Grossi, responsável pelas investigações. “Bastaria uma simples análise, uma simples leitura de três linhas [no manual do fabricante do equipamento] para saber que aqueles equipamentos deveriam funcionar com anticongelantes não tóxicos.” A Polícia alega que os técnicos possuíam conhecimento teórico e prático para saber o que acontecia dentro da fábrica, mas que passaram o manuseio do monoetilenoglicol para um funcionário sem qualificação.
Detalhes do inquérito
A Backer afirma que sempre comprou monoetilenoglicol puro, porém, foi encontrada uma adulteração na substância de um fornecedor de São Paulo — o que fez chegar o dietilenoglicol à cervejaria. A substituição dos líquidos, por parte da fornecedora, será alvo de uma segunda investigação. Mas, para a Polícia, é indiferente a presença de uma ou de outra substância, pois ambas são tóxicas e causam efeitos similares nas vítimas.
Durante a investigação, foram realizadas mais de 100 perícias e coletados 70 depoimentos, resultando em quatro mil páginas de inquérito. Mesmo após a conclusão, a Polícia Civil esteve na sede da empresa novamente no início de agosto, após a conclusão do relatório final do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa), para coletar documentos que integrarão o inquérito. O Mapa informou que as contaminações por mono e dietilenoglicol não estão restritas a lotes que passaram pelo tanque defeituoso, ocorrendo também em cervejas elaboradas anteriormente à instalação desse tanque na cervejaria. O Ministério também apontou falhas nos sistemas de controle interno da fábrica.
A cervejaria Backer segue interditada e o Mapa recolheu mais de 80 mil L de cervejas desde a identificação da contaminação. O inquérito foi encaminhado ao Tribunal de Justiça e, até o fechamento desta edição, estava com o Ministério Público de Minas Gerais. A empresa de equipamentos, Serra Inox (RS), não foi indiciada pelo caso e preferiu não se manifestar. A Backer não retornou o contato feito pela redação e divulgou uma carta aberta, na qual reitera: “não mediremos esforços para honrar com todas as nossas responsabilidades com as vítimas, os consumidores e a Justiça”. A empresa criou um canal para acompanhamento e atendimento dos consumidores: www.canalbacker.com.br.