Quarentena, home office, isolamento e as cervejas
Em meio a todas essas dificuldades, que não são exclusividade de ninguém, nosso setor recebe o impacto da perda dos pontos de venda, alguns por fechamento e outros tantos que tiveram os seus horários alterados por questões de leis locais.
Os PDVs que continuaram na batalha ganharam uma dificuldade extra: a concorrência das próprias cervejarias. Em uma época de exceção, com tanques e estoques cheios, cada um teve que se virar para conseguir minimamente honrar os seus compromissos. Muitas cervejarias passaram a vender ao consumidor final, com preços que, muitas vezes, eram inferiores aos oferecidos aos seus revendedores parceiros.
De forma recorrente pudemos assistir à grande mídia falando do aumento do consumo de bebidas alcoólicas como consequência do isolamento. Poderíamos entender, então, que teríamos praticamente uma explosão de vendas, mas não foi bem isso que aconteceu.
Vimos e ouvimos relatos de consumo até exagerado de álcool e, entre aventuras na cozinha e panificação, drinks eram vistos nas redes sociais, mantendo o clima do faça você mesmo. Fazer cerveja em casa é um pouco mais complicado.
Desenvolvemos um mercado baseado em variedade e lançamentos contínuos. Muitas dessas novidades são consumidas em pequenas doses, como half pint, ou até doses de degustação de 100 mL e, de uma hora para outra, o consumidor acostumado a não repetir cerveja ou tomar grandes volumes da mesma cerveja teve que se contentar com growlers, se ainda quisesse o chope, ou as tradicionais latas e garrafas.
As cervejas mais caras e alcoólicas têm uma dificuldade extra para serem vendidas em uma unidade de 1 L e, por mais que você goste de uma Pastry Stout, é bem pouco provável que tome 1 L, sem contar a disposição de desembolsar R$ 70 ou R$ 80 para isso.
A produção da maior parte das cervejarias parou ou diminuiu muito e, com tanta incerteza sobre reaberturas e volta dos custos de manutenção, o risco de perda financeira não permitiu que muitos cervejeiros continuassem no ritmo anterior.
Os lançamentos continuaram, em marcha muito lenta, mas continuaram, e foram imediatamente absorvidos. As cervejarias que não abortaram os seus projetos de lançamento se deram muito bem nesse período. O mercado e o consumidor sedento por novidades não permitiram que houvesse recompras junto às cervejarias, esgotando rapidamente.
Alguns perceberam esse sinal e reiniciaram as suas produções. O improviso, visto em rótulos brancos só com as informações obrigatórias por lei, são um grande exemplo dessa corrida para retomada de vendas. Improvisou, mas vendeu tudo.
E daqui para a frente? Adoraria ter resposta precisa para essa pergunta, que me foi feita tantas vezes nesse período. Algumas mudanças estão claras que vieram para ficar por mais tempo, cervejas com custo mais baixo e maior drinkability, volta das latinhas menores, uma manutenção de consumo caseiro, ou fora do tradicional ambiente de bar ou restaurante; linhas de cervejas não sazonais voltam a ter destaque, mas as novidades continuam desejadas; quem baixou muito os seus preços está tendo uma certa dificuldade de voltar ao seu antigo patamar.
Outro detalhe, as adegas caseiras estão desfalcadas e precisarão ser recompostas. O mercado vai continuar, vai reagir e, em breve, estaremos comemorando bons números novamente. Saúde.