O que define um cervejeiro ou cervejeira caseira?
Por Thiago Luis Zolet, associado da Acerva Mineira
o volume produzido? É o fato de fazer cerveja em casa per se? É não precisar trocar a cerveja por reais que serão trocados por feijão e arroz? É sanitizar com iodo e depois passar álcool 70° para tirar a “espuminha” devido ao medo de ela dar gosto medicinal? É ter perfil de consumo no nível pão duro plus master?
Acredito que todos os fatores anteriores se adequam à nossa persona. Mas eu gostaria de citar outro fator: liberdade!
Temos a liberdade de ousar, testar, inventar. Não que o pessoal que faz da cerveja a sua profissão não tenha também, mas sim o fato de que nós a colocamos em prática com mais frequência. Fruta? Vira cerveja. Especiaria do norte da Polinésia? Vira cerveja. Usar 12 tipos de malte, milho em flocos e lúpulo de safra de cinco anos atrás? Vira cerveja também! (Essa eu mesmo fiz em homenagem a uma marca que divulgou usar dois maltes e, modéstia à parte, a minha ficou ótima!). Eu sou advogado da “Filosofia do Baldinho”. Ser caseiro é ter um baldinho (ou dois, ou três), seja de cinco, seja de 10 litros, e, em cada um, fazer vários experimentos malucos sem comprometer o volume total. Sejamos honestos, várias ideias de gênio, que iriam revolucionar a indústria da bebida, na maioria das vezes viram líquidos diferentões que dão tonturinha e uma foto legal no Instagram. Nada de errado nisso, ser caseiro/a é compartilhar com o mundo a nossa liberdade artística!
Todo mundo sabe que sou fã do Brülosophy, tanto que repliquei o modelo deles, pois representa a liberdade de experimentar e pôr à prova as discussões homéricas sem fim que acontecem nos grupos brasucas de caseiros do WhatsApp. Em duas edições, a variável testada foi o fator “pão-durice”. E, sim, o caseiro e a caseira são mãos de vaca. Tô mentindo?
Na primeira edição, fiz duas cervejas iguais, mudando apenas a marca do malte. Não minta para o tio Zolet, você entra na brewshop e sempre compra o malte Pilsen mais barato, não é? Especialmente para você, segue o resultado: os participantes do teste cego conseguiram identificar a diferença. Na outra edição, a variável foi a quantidade de levedura usada. Em uma cerveja, foi usado o equivalente a um pacote para 20 L e, na outra, um pacote para 30 L... Sabe o resultado? O teste cego resultou em diferença estatística relevante novamente. Um detrator nesse caso foi que, em ambas as cervejas, foi notada alguma falha de fermentação, em maior ou menor grau (pacote para 30 L vs 20 L, respectivamente).
Seja orgulhoso e orgulhosa da liberdade de serem caseiros. Usem o baldinho e não economizem (muito), principalmente na fermentação. E se a coisa começar a ficar muito séria, a ponto de perder a alegria... Bom, hora de repensar o hobby. Cerveja caseira é experimentar coisas novas, mas é sobretudo diversão!