Hunsrück
Hunsrück Cumprindo o legado da tradição alemã
Especialistas compartilham as expectativas para o mercado
Com fortes ligações com as origens germânicas, a cervejaria da cidade gaúcha de Dois Irmãos vem, há mais de uma década, cultivando os costumes cervejeiros alemães, principalmente no conceito artesanal de cerveja. Mas, ao mesmo tempo, está aberta a inovações e modernidades cervejeiras.
Acervejaria tem Mauri Reis e Miguel Engelmann como sócios-proprietários e diretores, este último também cervejeiro. “Nosso contato com a cultura cervejeira iniciou há cerca de 13 anos, quando a cerveja artesanal ainda era um mundo novo, pouco explorado e pouco acessado aqui em nossa região, e mesmo no país. Experimentar o diferente na cerveja era algo em comum entre o Mauri e eu e foi o que nos motivou”, diz Miguel. Nos encontros de amigos, em churrascos, o assunto era dominante. Até que resolveram começar a visitar cervejarias que já existiam na época, conhecer o processo, etapas e insumos.
“Assim, em conjunto, decidimos iniciar o projeto de uma cervejaria em nossa cidade. Até, então, poucos estilos eram conhecidos e, como é sabido culturalmente aqui no país, a Pilsen era o que mais se consumia, sem chance para outras cervejas aparecerem com mais expressão.” Mesmo hoje, reconhece, a Pilsen continua sendo a mais consumida. Porém, diz ele, é perceptível que estilos como APA, Bock, Dunkel, IPA, Schwarzbier e Weiss também aparecem, assim como outros.
Origens e nome
O resultado de todas essas conversas, encontros e buscas foi a fundação da Cervejaria Hunsrück Ltda. em março de 2010, no Bairro Travessão, a poucos quilômetros do centro da cidade, em meio a muito verde. Em um primeiro momento, num pequeno pavilhão, com alguns testes e poucas brassagens, até que se definiu local e forma de comercialização para, depois, mudar para o endereço atual, lembra o sócio, que explica o significado do nome da cervejaria: “Hunsrück carrega no nome a origem dos primeiros colonizadores que vieram da cidade homônima localizada no Sudoeste da Alemanha, por volta de 1825. Eles deixaram o seu legado e costumes na região.”
Proposta e estrutura
Uma cervejaria com alma alemã que se identifica com sua região, cultura e costumes e que tem olhos no mundo, nos diversos estilos e tendências do mercado: é como o sócio define a proposta da Hunsrück. A cervejaria é compacta, com espaço para loja junto à fábrica. Além da sala de brassagem e espaço dos tanques, possui uma pequena área para envase e pasteurização. E também tem dois contêineres, um destinado ao estoque de insumos, e outro, uma câmara fria para estoque de barris.
Atualmente, informa Miguel, reformas preparam a transformação da área externa para receber os visitantes com mais estrutura e conforto. “O pátio cervejeiro visa proporcionar uma atmosfera acolhedora e uma experiência cervejeira em meio às árvores, ao lado da cervejaria, um bar com torneiras de chope, música, mesas, bancos, banheiros, espaço kids, food trucks, luzes/iluminação e ambiente verde e florido.”
Produção e estilos
Segundo o cervejeiro, o desenvolvimento de novas receitas é feito de acordo com o que o público consumidor deseja e as tendências de mercado. A produção atual, tocada com o auxílio de cinco funcionários, gira em torno de 15 a 20 mil L/mês, entre barris, garrafas de 500 e 600 mL e growlers. O RS é o principal mercado, mas acontecem vendas esporádicas para outros estados e, além disso, exportação também já está em estudos. São produzidos 22 estilos, e as cervejas são divididas em três categorias: linhas Tradicional, linha Lúpulo, Frutas e Especiarias e linha Histórica. Na primeira estão cervejas que seguem os parâmetros determinados pelos guias de estilos, e os sócios procuraram tirar o máximo de cada estilo que produzem, em termos de qualidade. Compõem essa linha as cervejas: American IPA, American Pale Ale, Bock, Dunkel, English Pale Ale, Helles, Oktoberfest, Pilsen, Pilsen Extra, Porter, Red IPA, Vienna e Weiss.
Já a linha Lúpulo, Frutas e Especiarias é composta por cervejas cujas receitas elaboradas possuem ingredientes alternativos e “uma identidade ímpar”, trazendo as cervejas British Imperial Stout, Fruit Beer Bergamota, New England IPA, Saison Pimenta e Wheat Wine. E, por fim, a linha Histórica, que tem como guia receitas pouco co
muns e quase esquecidas. Algumas delas levam ao pé da letra os parâmetros dos seus respectivos estilos, garante Miguel, e outras o toque de personalidade da Hunsrück: Grodziskie, Leipzig Gose, Lichtenhainer e Sahti.
Estímulo para dedicação
No total, foram 17 prêmios conquistados pela cervejaria, desde ouros, pratas e bronzes no Concurso Brasileiro de Cervejas (CBC) até medalhas em concursos internacionais, como a Copa Cervezas de América e o World Beer Awards, desde 2016 para cá. As premiações servem como estímulo para continuar com todo o cuidado e dedicação diariamente na produção das cervejas. “É um reconhecimento de que estamos no caminho certo e reforça nosso compromisso em oferecer cervejas com qualidade.” E mais: eles dão um respaldo positivo entre o público consumidor, que passa a valorizar ainda mais as cervejas, atestando a sua qualidade, acredita. “A procura pelos rótulos premiados aumenta no período de divulgação dos respectivos prêmios, e as cervejas premiadas chegam a um público mais amplo.”
Qualidade e terceirização
Esse patamar de qualidade cervejeira, que resulta, inclusive, em prêmios, se conquista no dia a dia, levando a sério e prezando pelo padrão atingido, receita Miguel, principalmente por identificar pontos a serem melhorados em cada nova produção. Ele faz questão de lembrar de fatos que marcam a história da cervejaria: em 2015 ter sido o chope oficial do Kerb da cidade gaúcha de Dois Irmãos (o maior Kerb de rua do país); as duas primeiras medalhas conquistadas no CBC em 2016, para as cervejas Lichtenhainer e English Pale Ale; o ouro para a Weiss no CBC 2019 e as duas cervejas mais premiadas da marca, a Grodziskie e a Sahti.
A cervejaria está aberta à terceirização para receber produções ciganas, embora isso não seja uma prática constante. Para este ano, além das novidades da estrutura da fábrica, as cervejas da linha Tradicional também já estão sendo gradualmente renovadas, ganhando uma cara nova através do visual dos novos rótulos, em comemoração aos 10 anos da Hunsrück.
Cultura cervejeira e mercado
Para Miguel, cerveja artesanal é transpor ou colocar em uma bebida a identidade, os costumes, o gosto, a tradição de uma região e de seu povo. Vê o mercado em ascendência, com cervejarias menores proporcionando diversidade de estilos para o consumidor. Entre as maiores conquistas do setor no Brasil coloca o respeito à produção do pequeno produtor. Já entre os desafios está o de encontrar e manter o seu público-alvo. Aos cervejeiros que estão começando, recomenda conhecer e visitar cervejarias de vários tamanhos para decidir bem o início da cervejaria. “Pé no chão e manter qualidade desde o princípio”, conclui.