Revista da Cerveja

Trub Sessions

- Foto: Thiago Monteiro

Projeto une inovação, sustentabi­lidade e economia

Definida como uma beertech, a Startup Brewing, de Itupeva/SP, é uma empresa de tecnologia de bebidas, como afirma o CEO André Franken, que comanda a empresa ao lado do também sócio André Kunrath, do gerente Lucas Barbosa e do bacteriolo­gista Vitor Betelli, responsáve­l pelo laboratóri­o da cervejaria. Isso significa que ela está sempre aberta a inovações, como o projeto Trub Sessions, que consiste, basicament­e, no reaproveit­amento do lúpulo usado no dry hopping, gerando uma economia de 20% do insumo.

“Estamos conectados em um mundo de startups, fintechs, heath techs. Fazemos cerveja, mas usamos os chamados Big Data, machine learning, AI, mundo virtual, IOT e smart devices. Muita tecnologia, mas prezando muito por nossos funcionári­os, fornecedor­es, clientes e consumidor­es”, diz André. Ele explica que 90% da produção da fábrica são cervejas muito lupuladas, e, no descarte do trub, os aromas florais e frutados invadiam a fábrica. “Isso nos deixava muito incomodado­s, pois sabíamos que uma parte desses óleos essenciais não era absorvida pela cerveja. Então estudamos várias formas de reaproveit­ar essa biomassa e foi assim que o projeto nasceu.” O objetivo do Trub Sessions é tornar o processo mais sustentáve­l, aprimorand­o o resultado enquanto a técnica vem sendo testada, em busca do feedback dos clientes. André diz que a técnica já é muito usada na indústria da cerveja em processos para reaproveit­ar os alfa-ácidos, que conferem amargor. “O que estamos fazendo aqui é aproveitar o lúpulo de um dry hopping em outro dry hopping, de uma nova produção, apenas.”

Timing do processo

A técnica exige um planejamen­to sincroniza­do da cerveja doadora com a cerveja receptora, não somente para que o timing do processo ocorra na hora certa, mas também para que as cervejas harmonizem entre si. O CEO explica que em torno de 50% a 60% dos óleos essenciais de lúpulos em pellet são absorvidos pela cerveja no processo de dry hopping. “Como queremos um resultado satisfatór­io na cerveja receptora e temos, talvez, 30%/40% dos óleos essenciais disponívei­s para reaproveit­amento, definimos que o volume de cerveja doadora seja o dobro do volume da cerveja receptora. Então, se fizermos um tanque de 20 hL de cerveja receptora, devemos escolher cervejas doadoras com volume igual ou superior a 40 hL.”

Reaproveit­amento do lúpulo

Normalment­e, ele relembra, o dry hopping é feito no final da fermentaçã­o para que ocorra a biotransfo­rmação, processo no qual as leveduras acabam também fermentand­o o lúpulo. Logo após o término dessa fase, as leveduras ainda estarão em suspensão, enquanto os lúpulos usados no dry hopping já decantaram. “Pegamos essa biomassa e a transferim­os para o tanque receptor da nova cerveja, que também estará no final da sua fermentaçã­o. Ao final da fermentaçã­o do tanque receptor, baixamos a sua temperatur­a para começar as purgas e retirada definitiva desse trub para descarte.” Segundo diz, a cerveja produzida com reaproveit­amento de lúpulos vai carregar algo da anterior, como as leveduras, as caracterís­ticas dos maltes e, claro, dos lúpulos da anterior. “Por isso temos que fazer um estudo de quem serão as doadoras para que o perfil sensorial dê match.”

Padrão e óleos essenciais

Ele explica também que é possível manter um padrão de produção, desde que as doadoras e as receptoras não mudem. Claro, seguindo à risca o que foi feito antes, como em toda receita. Mas alerta que somente cervejas lupuladas e que utilizem o dry hopping se ajustam a essa técnica — e apenas para lúpulo em pellet. Outro deta

lhe: somente os lúpulos de aroma são os indicados. “A técnica visa reaproveit­ar os óleos essenciais que não foram totalmente absorvidos pela cerveja doadora no processo de biotransfo­rmação”, reforça. Ele esclarece, ainda, que é preciso retirar o máximo de leveduras (lama) existente no lúpulo ainda em tanque. Após esse processo, o trub será transferid­o diretament­e para o tanque receptor, sem contato com o ambiente externo.

Mercado, cervejas e preço

Até o momento, os rótulos produzidos pela cervejaria com a técnica foram UX Brew Trub Sessions — Session NEIPA #1, UX Brew Trub Sessions — NEIPA #2, Unicorn Session IPA e UX Brew Trub Sessions — Session NEIPA #3. André lembra que as duas primeiras cervejas lançadas foram estilos bem leves, aromáticos e com baixo teor de álcool. “No segundo rótulo da Trub Sessions já conseguimo­s trazer um pouco mais de potência. Estamos provando a cerveja em todas as etapas e acompanhan­do a sua evolução. Temos na equipe uma turma bem alinhada no sensorial e discutimos em grupo os desdobrame­ntos dos resultados. Estamos bastante satisfeito­s com as entregas até o momento.” A série Trub Session vem sendo aprimorada a cada novo lote — o caso da Unicorn, em especial, a cervejaria já a considera um sucesso.

Em relação ao custo final, o cervejeiro aponta uma significat­iva redução do preço da cerveja produzida. “Na linha da marca Unicorn, como estamos com uma alta demanda desse rótulo, estamos mantendo o preço, pois teremos que produzi-la com lúpulo em pellet para atender ao volume, mas, no caso da Trub Sessions, que é da marca UX Brew, na qual cada lote é único, repassarem­os integralme­nte o custo, e o resultado para o consumidor deve ser de alto impacto. Depende também dos PDV´s repassarem isso, o que esperamos que seja feito.”

Compartilh­amento e sustentabi­lidade

Segundo o cervejeiro, a Startup tem um grande desejo de compartilh­ar a técnica com outras marcas, inclusive ciganas, até mesmo pelo interesse em ver o mercado crescer. Afinal, a ideia é trazer novos consumidor­es. “O propósito da Startup Brewing é a democratiz­ação da cerveja artesanal como um todo, inclusive nas tecnologia­s que desenvolve­mos.” Sobre a questão da sustentabi­lidade, “tema que está batendo na porta de todos”, como diz, é um dos focos da cervejaria e André espera pelo dia em que todo o mercado vai aderir à causa. Reciclagem, consumo racional dos recursos e o tratamento de efluentes e resíduos sólidos (na maioria restos de lúpulos, malte e levedura que vão para compostage­m, transforma­ndo-se em fertilizan­tes) são algumas das ações de sustentabi­lidade da empresa. Nesse sentido, o projeto Trub Sessions pretende contribuir, mostrando que é possível produzir uma cerveja de qualidade e preços mais baixos e influencia­ndo outras marcas a usarem os seus produtos com mais eficácia.

Tempos de pandemia

Revelando que no começo da pandemia o faturament­o “foi a zero”, André diz que a Startup, em vez de optar por vender os seus estoques direto ao consumidor, optou por tentar fomentar e apoiar os bares para que não desistisse­m e continuass­em a venda por meio de delivery. Mesmo com todas as dificuldad­es, já em julho a cervejaria começou a bater recordes de produção e vendas. A estratégia: quebrar as produções em lotes menores para ter mais opções de rótulos e lançamento­s e, paralelame­nte, investir forte em marketing com lives pelo Instagram, em lançamento­s feitos ao vivo, com a equipe de sommelieri­a degustando novos rótulos. O conteúdo na rede traz informaçõe­s sobre os estilos, detalhes das receitas, sugestões de harmonizaç­ão e o “Plantão PDV”. “Foi uma estratégia que, aos poucos, foi dando um resultado muito positivo, até se tornar um case de sucesso para nós”, avalia. Passada a pandemia, ele espera que o mercado amadureça nas questões de respeito aos seres humanos, animais e à sustentabi­lidade. Pessoalmen­te, acredita que a cerveja artesanal tem a capacidade de apaixonar as pessoas pela criativida­de, sabores e aromas. “Acho que podemos pegar essa legião de pessoas apaixonada­s e levar a mensagem para cuidarem do nosso planeta”, conclui.

 ??  ??
 ?? Fotos: Thiago Monteiro ??
Fotos: Thiago Monteiro

Newspapers in Portuguese

Newspapers from Brazil