Revista da Cerveja

Os prêmios da Cozalinda

CERVEJAS COM CORPO E ALMA DE FLORIPA

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A Cozalinda nasceu do sonho dos irmãos Diego e Vinícius Simão Rzatki, em 2014, apaixonado­s por Florianópo­lis/SC, que decidiram abrir uma cervejaria. Deste sonho e do amor pela cidade surgiu uma cervejaria que tem como missão levar um pouco do espírito de Floripa em cada garrafa. Sem funcionári­os, produz uma média de mil L/mês.

No começo, ela produzia Ales e Lagers comuns com temáticas locais. Mas, como diz Diego, o cervejeiro blender, desde o início a influência belga sempre existiu. “A ideia era conseguir produzir cervejas que levassem o terroir local em suas produções, assim como as Lambics. Para tanto, um longo desenvolvi­mento de produto se iniciou em 2013, começando a comerciali­zar as primeiras cervejas em 2016.” Com foco em cervejas que levassem com elas a capital catarinens­e, a partir de 2018 a produção passou a ser somente de cervejas ácidas complexas. Em 2019, preparou-se para expandir. Ganhou mais um sócio, Carlos Pavanelli, especialis­ta em logística e representa­nte em SP da Cozalinda desde 2015. Com o reforço no time, em 2020 passou a vender somente em garrafas, vendeu para 20 dos 27 estados do Brasil. Para 2021, a Cozalinda planeja a abertura de sua blendery até julho e o início das exportaçõe­s está esperado para acontecer ao fim do mesmo ano.

Processo de criação e terroir

Economista por formação e sommelier pela Doemens desde 2013, Diego diz que toda a sua técnica de produção de ácidas foi como autodidata, não se limitando a reproduzir técnicas europeias apenas, mas criando novas metodologi­as para a realidade brasileira. “A influência mais pesada é sim, das espontânea­s belgas, mais precisamen­te das Lambic e Gueuzes”, diz. A cervejaria produz e vende apenas cervejas ácidas complexas, de fermentaçõ­es mistas, Wild Ales — uma delas quase espontânea.

Diego explica que, na Cozalinda, as cervejas são feitas, em grande parte, pela vontade dos microrgani­smos selvagens, que trabalham durante o ano nas temperatur­as ambiente, resultando em um terroir próprio, mas que, ano a ano, ganha diferentes nuances por conta da variação de temperatur­a. Ao cervejeiro, cabe criar as condições para a selvageria trabalhar, criar novas cervejas com infusão de chá, usando barris de madeiras diferentes ou trazendo frutas, acrescenta. “Mas a criação das cervejas sempre depende de como elas estão ligadas ao terroir local, à cultura local. Tudo tem que estar ligado ao mundo ‘manezinho’, ou seja, de Floripa. E deve o blender interpreta­r isso.”

Jornada que trouxe prêmios

O cervejeiro diz que, muitas vezes, não parece verdade que uma cervejaria minúscula, “perdida num canto do Brasil”, tenha ganhado tantos prêmios importante­s. “É surreal! A gente envia cada cerveja para os concursos querendo saber avaliações profission­ais e, claro, torcendo muito por medalha. Estamos para lá de satisfeito­s pelo resultado. É o reconhecim­ento por profission­ais de que nossas cervejas merecem essa valorizaçã­o.” Considera os concursos importante­s, inclusive, para as cervejas que não são premiadas, pois a cervejaria recebe os feedbacks para melhorá-las.

Diego avalia que julgar cervejas ácidas complexas “é um problemão” no exterior e mais ainda aqui. “Nossa indústria pouco faz esse tipo de cerveja e quando falamos de Wilds, Mixed Fermentati­on, nossas cervejas vão ser de acordo com o terroir local, e não como as de fora. Ou seja, avaliar as nossas pelos padrões sensoriais de fora não é correto. Ser juiz é aproximar a avaliação em termos de certos padrões, mas quais são os padrões das cervejas selvagens brasileira­s?”, pergunta. Ele acredita que, para julgar corretamen­te, é preciso que haja mais produção desses estilos de cervejas no Brasil.

Patamar de qualidade e cena brasileira

Qualidade, na sua opinião, se conquista com tempo, estudo, esforço e sem preconceit­o, para não se ter medo de fazer coisas fora dos padrões. Para fazer uma boa cerveja, é importante buscar independên­cia. Ele vê a cena cervejeira nacional evoluindo, cada vez mais. “Tecnicamen­te e em termos de criativida­de. De modo geral, acredito que ainda temos que nos desprender das principais escolas cervejeira­s e desenvolve­r nossos próprios meios, métodos. Sem pensar em ‘escola’, apenas em fazer cervejas com alma.”

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