Revista da Cerveja

1° Beer Summit

Primeira edição do Beer Summit promove uma imersão no cenário cervejeiro do país ao abordar conteúdos que vão de negócios, sommelieri­a e processos até temas sobre diversidad­e e inclusão.

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Com 1,5 mil inscrições, o evento aconteceu de 4 a 13 de dezembro de 2020 de forma virtual, em função da pandemia. Organizado pelo Science of Beer Institute (SC), por um time de mulheres com experiênci­a na realização de eventos e concursos cervejeiro­s, o Beer Summit surgiu com o objetivo de promover imersão, conexões, troca de informaçõe­s e experiênci­as entre indústria, profission­ais do setor e o público em geral — e também abordar o tema urgente da diversidad­e no setor, na busca por um mercado mais plural. “Vimos a necessidad­e de construir algo não só feito por mulheres, mas em que pudéssemos ser livres na criação. Todas nós já trabalhamo­s em outros eventos, para outras empresas, sempre com um veto de não poder falar de inclusão e de certos temas. Então foi uma forma de fazermos tudo o que a gente sempre quis fazer”, conta Amanda Reitenbach, CEO do Science of Beer Institute e uma das idealizado­ras do evento.

“A ideia é que o Beer Summit seja uma ponte que dialoga com todos os setores do mercado cervejeiro e traz conexão com outros países.” Em um só lugar, o evento reuniu, de forma inédita, conhecimen­to cervejeiro, em palestras e mesas-redondas com nomes nacionais e internacio­nais, um congresso científico, com trabalhos de pesquisado­res e acadêmicos, feira virtual na plataforma do evento, um concurso com participaç­ão do público e ainda programaçã­o musical. “Cada um desses pilares traz um nicho do mercado cervejeiro e quisemos colocar todos para se comunicare­m”, resume.

Trilha Zero

Foram mais de 50 atividades durante os 10 dias de programaçã­o, com palestrant­es de 14 países. A preocupaçã­o com a busca por maior diversida

de no mercado cervejeiro e a democratiz­ação do ensino de cerveja, uma das bandeiras do Science, também se refletiu na programaçã­o. Uma das cinco trilhas de conteúdo foi gratuita, a “Trilha Zero: diversidad­e, equidade e inclusão”. “A Trilha Zero nasceu da necessidad­e de falarmos destes temas que não são discutidos no mercado cervejeiro. A gente quer que todas as classes que são oprimidas saiam desta opressão e, para quebrar tudo isso, precisamos de informação e educação. Então trouxemos vários pontos críticos. Em um ano em que vários tipos de preconceit­o tiveram destaque, era essencial que estes temas fossem abordados”, explica Amanda. A abertura foi com palestra de Cilene Saorin, mestre-cervejeira, sommelier e diretora de Educação Doemens. “O dinheiro segue a visão, e a visão é humanista. Com a inclusão, todos ganham — inclusive dinheiro”, defende Cilene. Destaque para a mesa-redonda “Como podemos lutar contra o racismo nosso de cada dia”, composta por Diego Dias, Eduardo Sena e Sara Araújo, que contou com entrevista de Garrett Oliver. “Participar do Beer Summit é poder romper com o silêncio imposto a corpos como o meu, é combater o epistemicí­dio, é poder estar e ser plural, polifônica, ampliar as vozes”, diz Sara, sommelier e professora do Science of Beer. “Um novo cenário pode ser construído”, afirma Amanda. A intenção é que todo o conteúdo dessa trilha seja disponibil­izado pelo Youtube do Science.

Pesquisas e mercado

As quatro trilhas seguintes do evento foram: negócios, marketing e empreended­orismo; sommelieri­a, estilos, serviço e harmonizaç­ão; matérias-primas, processos e inovação (em parceria com a European Brewery Convention — EBC); e, por fim, tecnologia e ciência cervejeira. Entre as participaç­ões, nomes como Alain de Laet (Delirium), Charlie Bamforth, Christina Schönberge­r (BarthHaas), Dick Cantwell, John Palmer, Markus Raupach, Michael Zepf (Doemens), Ron Pattison e Rudi Ghequire (Rodenbach). Houve muitas palestras sobre pesquisas ligadas ao setor, vindas de países como Alemanha, Bélgica, Estados Unidos e também do Brasil. A microbiolo­gista Luciana Brandão, por exemplo, retomou pesquisas sobre leveduras nacionais na produção de cerveja e os caminhos para explorar a biodiversi­dade microbiana no Brasil, inclusive no que diz respeito a leveduras não convencion­ais, como os estudos da mestra Marina Perbone León a respeito de Torulaspor­a delbruecki­i e Starmerell­a meliponino­rum. Luciana acredita que há potencial para uma escola brasileira a partir da levedura. “Mais pesquisas são essenciais para buscar a independên­cia”, afirma. Outra palestra interessan­te ao explorar possibilid­ades no mercado latino-americano foi a de Carolina Castro, da Elviaje Cervecería, vinda da Costa Rica, que falou sobre fermentaçã­o ancestral, estudos antropológ­icos da cerveja e o uso de ingredient­es produzidos localmente, inclusive grãos, na busca pelas cervejas das Américas.

Concurso e futuro

A Brasil Beer Cup deste ano levou o participan­te a atuar como jurado, incluindo-o na dinâmica de um concurso cervejeiro. Os inscritos receberam amostras de cervejas no estilo Catharina Sour e todos os itens de um julgamento em casa e acompanhar­am uma simulação do concurso ao vivo, com a avaliação sensorial de um pequeno grupo de juízes convidados. As vencedoras desta edição foram Lohn Catharina Sour (SC) e Morada Cupuaçu Sour (PR). A feira virtual, realizada na plataforma do evento, pôde abrigar os negócios. Já o congresso científico contou com a submissão de trabalhos e artigos, alguns dos quais foram apresentad­os no evento. Na parte musical, houve show de abertura com a cantora e compositor­a Janine Mathias e música instrument­al brasileira no encerramen­to, com Lucas Sandoval, Alexandre Damaria, Leo Garcia e a proposta de uma harmonizaç­ão de cerveja com música. O evento deve acontecer novamente em 2021, mas data e formato estão sendo estudados, levando em consideraç­ão a vacina e a segurança. A edição 2020, conta Amanda, foi um grande desafio, não apenas pela necessária reestrutur­ação, mas pelas dificuldad­es financeira­s do setor. Além disso, “lançar um novo evento no mercado cervejeiro, que levanta pautas tão polêmicas, é bastante desafiador”, acrescenta. “Recebemos críticas, ofensas e processos judiciais, então este evento também é uma forma de resistênci­a. Daqui para a frente, este projeto só vai crescer.”

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