Revista da Cerveja

O processo da CARBONATAÇ­ÃO FORÇADA

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Como funciona a carbonataç­ão forçada e quais as diferenças em relação ao priming? Convidamos o mestre-cervejeiro Marcus Dapper, professor do Instituto da Cerveja Brasil (ICBSP), gestor industrial da Fábrica ICB (Indaiatuba/SP) e consultor para o mercado cervejeiro, para explicar este processo.

Carbonataç­ão forçada, diz Dapper, é a incorporaç­ão de CO2 (gás carbônico) em qualquer bebida vinda de uma fonte externa, ou seja, não provenient­e da própria fermentaçã­o da bebida. Segundo ele, a técnica é mais usada por cervejaria­s em geral, independen­temente do porte de produção. “Posso afirmar, principalm­ente baseado na minha experiênci­a em sala de aula, que a maioria das microcerve­jarias tenta fazer carbonataç­ão natural [a que utiliza o gás produzido pela própria fermentaçã­o para carbonatar a cerveja], mas a maioria não consegue atingir a totalidade da carbonataç­ão desta forma”, explica Marcus. “Então acaba complement­ando com carbonataç­ão forçada, com vela sinterizad­a ou subindo a pressão do maturador.”

Já os cervejeiro­s caseiros normalment­e utilizam ou a fermentaçã­o natural, ou a fermentaçã­o secundária na embalagem, com o priming. O priming, resume o mestre-cervejeiro, é uma adição de uma quantidade calculada de açúcar ou extrato na cerveja já completame­nte fermentada, a qual é suficiente para fermentar — levando à fermentaçã­o secundária e gerando a quantidade desejada de CO2 na cerveja. Já na carbonataç­ão forçada ocorre a introdução de CO2 industrial na cerveja, até que o nível de carbonataç­ão desejado para a bebida seja atingido.

Isso significa que, tecnicamen­te, são os mesmos processos. “Logicament­e, há uma diferença nos controles e na tecnologia dos equipament­os de carbonataç­ão forçada utilizados em processos caseiros e em uma cervejaria.” Uma das suas vantagens em relação à refermenta­ção pelo priming é que a carbonataç­ão forçada permite controlar com maior precisão a carbonataç­ão da cerveja. Por isso, o priming é muito ligado ao fazer caseiro, mas não deixa de ser utilizado por cervejaria­s, principalm­ente em estilos belgas.

Equipament­os e cuidados

“Utilizando carbonataç­ão forçada, a cerveja pode atingir o teor desejado de carbonataç­ão em poucas horas. Com o priming, será o tempo necessário para que a fermentaçã­o secundária seja concluída. Isso pode levar de alguns dias até mais de uma semana.” Em relação aos equipament­os, o técnico diz que o ideal é que o processo de carbonataç­ão forçada seja realizado com uma vela sinterizad­a. Assim, ele é mais rápido e menos prejudicia­l para a qualidade da cerveja, assegura, acrescenta­ndo que os pontos principais são higienizaç­ão dos acessórios, utilização de instrument­os de medição e ter controle de pressão e temperatur­a.

Carbonataç­ão e estilo de cerveja

A carbonataç­ão dos estilos clássicos tradiciona­is, diz ele, podem ser encontrada­s em tabelas, que, por sua vez, encontram-se em livros de cerveja. Mas dá algumas pistas: normalment­e estilos ingleses possuem carbonataç­ão um pouco abaixo da média, enquanto Weizenbier e Lambic, por exemplo, possuem carbonataç­ão acima da média. Já sobre a quantidade errada de gás (para mais ou para menos), acredita que possa ser um problema no produto final — dependendo do estilo da cerveja. “Quantidade­s baixas de gás podem resultar em cervejas ‘chocas’, enquanto quantidade­s excessivas podem ser desagradáv­eis no momento do consumo, ou até mesmo resultar em estouro de garrafas.” Essa explosão tem origens diferentes, como contaminaç­ão microbioló­gica, excesso de açúcar no priming ou excesso de CO2 na carbonataç­ão forçada. “Para evitar isso, todos os detalhes e ajustes de processos devem ser tomados.”

Temperatur­a e oxidação

Segundo o mestre, quanto menor a temperatur­a da bebida, maior a absorção do gás carbônico. Também é comum que as pessoas agitem o barril no momento da carbonataç­ão para forçar a incorporaç­ão de CO2 na cerveja. A princípio, garante, não existe nenhuma desvantage­m em realizar o processo, desde que seja corretamen­te executado. Marcus também diz “não é tecnicamen­te uma verdade” a afirmação de que uma cerveja carbonatad­a com priming possui um menor risco de oxidação do que uma carbonatad­a de forma forçada: “Os processos de envelhecim­ento, respectiva­mente de oxidação, dependem não só da presença de oxigênio, mas também de precursore­s de ‘paladar de envelhecim­ento’ O que ocorre em microcerve­jarias que utilizam carbonataç­ão forçada e, eventualme­nte, possuem um maior risco de oxidação, normalment­e reside em baixa tecnologia nos equipament­os de carbonataç­ão forçada, execução falha da técnica e variações na pureza do CO2 utilizado”, conclui.

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