Resenha de “Lúpulo”, de Stan Hieronymus
Livro de Stan Hieronymus aborda diversas facetas desta flor cervejeira, do aroma à história, do mercado ao cultivo.
“Sou simplesmente um jornalista”, declara Stan Hieronymus. “Escrever sobre cerveja é divertido porque diversas pessoas se importam muito com o assunto.” Entre os cervejeiros, no entanto, Stan é uma autoridade conhecida e seu livro “Lúpulo: guia prático para o aroma, amargor e cultivo de lúpulos” é um marco definitivamente importante, ao condensar inúmeros dados relevantes para o setor.
O livro, traduzido para o português pela Editora Krater, é parte da Brewing Elements Series da Brewers Publications, setor editorial da Brewers Association (BA), publicado originalmente com o título “For the love of hops”. A produção caiu nas mãos de Stan quase por acaso: “Quando terminei ‘Brewing with wheat’, o editor sugeriu alguns outros tópicos que poderiam me interessar. Enquanto eu estava considerando essa ideia, o cervejeiro que iria escrever ‘For the love of hops’ percebeu que simplesmente não tinha tempo. Eu estava (e estou) interessado no assunto, então montei uma proposta”, conta. A isso seguiram-se 18 meses de muito foco. A sua maior dificuldade e preocupação era garantir que os dados científicos estivessem atualizados. “E que o que escrevi fosse útil tanto para os cervejeiros mais técnicos quanto para os menos experientes.”
Habilidade narrativa
Parece que ele conseguiu. O autor costura toda a pesquisa envolvida na produção da obra com grande habilidade narrativa, tornando o livro extremamente acessível para quem está começando, ao mesmo tempo em que fornece informações interessantes a quem já está há tempos de cabeça no setor. Os 10 capítulos, mais a introdução e o epílogo, são construídos com muitas fontes bibliográficas e entrevistas de profissionais do lúpulo de diversos países, em especial EUA, Alemanha e Inglaterra. Todo o livro é permeado pela importância da relação entre produtores de lúpulo e cervejeiros, que são seus principais clientes.
A centralidade do aroma
Aroma é o primeiro capítulo e, como Stan escreve, o livro começa falando dele “assim como a maioria das conversas atuais sobre lúpulo”. É um trecho técnico e se embrenha na questão dos óleos essenciais, incluindo listas de compostos de aroma e toda a complexidade do tema. O autor compartilha que este foi o capítulo que exigiu mais do seu tempo: “Porque havia tantas pesquisas novas. Não existiam livros que mencionavam biotransformações ou a descoberta que os tióis contribuíam aos aromas e sabores ‘exóticos’ que cervejeiros e apreciadores achavam tão atraentes”. Ao mesmo tempo, é seu capítulo favorito. “Aprender sobre aroma foi quase divertido”, brinca. “O assunto continua a me fascinar, acabei outro livro de 700 páginas sobre o assunto.”
Uma rede, do cultivo ao copo
O livro segue e o autor vai contando histórias relacionadas a cada tema. É feita uma rica recuperação histórica — apesar de Stan deixar claro que isso daria um livro por si só. A plantação e os cruzamentos para novas variedades, o cultivo e a característica geracional dos produtores, com famílias inteiras envolvidas ano após ano na produção, a colheita e a secagem — incluindo as mudanças ao longo do tempo — são alguns dos tópicos ligados ao cultivo. Os formatos disponíveis, com um resumo de 105 variedades de lúpulo, introduzem a seção sobre o uso direto do lúpulo pelos cervejeiros e os caminhos do amargor, do dry hopping, da qualidade do lúpulo e a da relação que seria ideal entre cervejeiros e produtores: uma relação próxima e com comunicação, a exemplo do Hop Quality Group.
São muitas referências citadas, que mostram o caminho para ampliar o conhecimento sobre o lúpulo. Como em outras obras da editora, esta não conta com um índice de termos, dificultando um pouco a consulta — o sumário acaba servindo de guia. Dentre tantos temas possíveis sobre a preciosa flor cervejeira, o livro destaca ainda muitas pesquisas na área, informações como os 10 passos para cultivar lúpulo em casa e um roteiro para o cervejeiro avaliar lúpulos. Por fim, traz 16 receitas de cervejeiros famosos, de diferentes partes do mundo, inserindo lúpulo no contexto mais interessante: o da cerveja no copo.
O que diria a seus leitores brasileiros?
Apesar de eu ter falado muito sobre aroma e todo mundo estar empolgado com IPAs e sabores exóticos, eles devem lembrar que o lúpulo desempenha muitos outros papéis importantes na cerveja. Isso inclui tanto amargor quanto espuma. E devem lembrar que existem outros estilos além da IPA. Cervejas conhecidas mais pelas suas nuances são melhor produzidas com lúpulos que igualmente têm nuances.
Você gostaria de ver algum outro livro seu traduzido para o português?
Seria ótimo ver todos eles traduzidos [risos]. Devo destacar para aqueles no Brasil que falam italiano que tanto “Brew like a monk” quanto “Brewing with wheat” foram traduzidos para o italiano.
Qual a sua avaliação da cena cervejeira nos EUA neste período de pandemia?
Muitas pessoas preveem que mais cervejarias serão fechadas agora. Espero que elas continuem erradas. Já sabíamos que as cervejarias tornam as comunidades mais vibrantes, mas isso está mais claro para ainda mais pessoas agora.
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