Bares e restaurantes
A conta da crise e as ações da Abrasel
Todos os segmentos econômicos sentiram, como um todo, os impactos da crise do coronavírus, mas um dos mais visíveis (e atingidos) foi o de bares e restaurantes, sem dúvida. Paulo Solmucci, presidente-executivo da Associação Brasileira de Bares e Restaurantes (Abrasel), conta aqui um pouco da luta da entidade na defesa da sua categoria.
“Osetor de bares e restaurantes foi um dos mais duramente atingidos pela pandemia, e vem há mais de um ano sofrendo com os fechamentos e medidas de restrição, que variam bastante entre os municípios e estados, sem seguir qualquer lógica e, muitas vezes, sem embasamento científico”, dispara presidente. O resultado disso, afirma, foi uma perda grande de empregos e empresas, com o setor pagando junto com outros poucos uma conta injusta e desproporcional para o bem-estar da sociedade.
“Para se ter uma dimensão do estrago, até março de 2020 existiam 1 milhão de negócios do setor, empregando diretamente 6 milhões de brasileiros. Desses, 300 mil fecharam as portas em definitivo e mais de 1,2 milhão de trabalhadores foram demitidos no último ano. Nos primeiros quatro meses de 2021, mais 100 mil empregos foram perdidos e mais 35 mil empresas fecharam as portas.”
Ações da Abrasel
Diante desse dramático quadro, algumas ações foram tomadas. O presidente revela que a entidade tem trabalhado incansavelmente em três verticais para garantir o melhor cenário possível para o setor: “Na primeira, estivemos, desde o começo da pandemia no Brasil, focados em assegurar a solvência das empresas. No dia 17 de março, me reuni com o presidente [Jair] Bolsonaro e o ministro [Paulo] Guedes para tratar de uma ajuda para as folhas de pagamento. Duas semanas depois, foi sancionada a MP dos salários, que virou lei e foi reeditada este ano. Essa medida foi fundamental para evitar uma crise ainda mais profunda no setor, embora a reedição tenha vindo com grande atraso.”
Linhas de crédito
Além disso, o esforço para que as linhas de crédito chegassem na ponta, por meio de uma parceria com a Caixa Econômica Federal (CEF) para acessar o Programa Nacional de Apoio às Microempresas e Empresas de Pequeno Porte (Pronampe), e pressão pela extensão do programa
em 2021. “Buscamos diferimento de impostos nas três esferas, trabalhamos pela garantia da operação com delivery e ‘para levar’ [take away] e buscamos ajudas específicas nas contas de água, luz e gás”, acrescenta. Na segunda vertical, que ele chama de reabertura do comércio, foi cobrada transparência com relação aos critérios das prefeituras e estados para se manter o comércio fechado ou aberto, contribuindo com subsídios para as tomadas de decisão e, até mesmo, com a construção de protocolos de reabertura.
Temas para a retomada
Na terceira vertical, também chamada de retomada das atividades, foram elencados temas como: acesso a financiamento e crédito; gestão de caixa; questões trabalhistas; gestão tributária; resiliência mental para superar a crise; planejamento para retomada das atividades; negociação de contratos, fornecedores e aluguéis; delivery e para levar; vendas, retenção de clientes; marketing e oportunidades digitais — sendo disponibilizados gratuitamente nos canais da Abrasel cartilhas, webinars, eventos, cursos e fóruns de discussão a respeito desse tema.
O presidente cita, ainda, a Rede Abrasel, criada antes da pandemia, que durante a crise “deu um salto”. Hoje são mais de 10 mil usuários conectados em busca de informações, orientações e dicas sobre aspectos diversos da gestão do negócio.
Diálogo permanente e reparação
O executivo afirma que a Abrasel está em constante diálogo com governo federal, governadores, prefeitos, indústria, bancos e fornecedores, buscando todas as alternativas possíveis para apoiar o setor. “Um dos grandes pontos é a reparação que os bares e restaurantes pleiteiam junto aos governos estaduais e municipais, já que pagaram uma conta muito mais alta que outros setores. Alguns estados já entenderam isso e criaram isenção ou diminuição de impostos, além de criarem auxílios emergenciais específicos para trabalhadores do setor. Queremos ampliar o entendimento de que este setor precisa urgentemente de medidas de apoio especiais.” Segundo ele, há ações nacionais, mas cada estado e município têm grau de autonomia para projetos e ações locais.
Cartilha, delivery e take away
Comprometidos em apoiar o setor, já no início da pandemia a Abrasel lançou a cartilha “Como ter sucesso nas operações de delivery e take away”, quando boa parte do setor não estava preparada para atender a demanda por esses canais. “Lançamos essa e outras cartilhas para orientar os bares e restaurantes no que era mais urgente e estratégico naquele momento”, diz, acrescentando que não há uma “regra de ouro”, e que o planejamento varia entre os modelos de negócio.
Na sua avaliação, o importante é cada um conhecer seu público, saber calcular os custos envolvidos, adaptar o cardápio para o delivery, entender quais são os canais disponíveis e quais combinam mais com o seu negócio. “Para alguns, faz muito sentido manter ainda o atendimento por telefone, já para outros, o foco quase exclusivo passa a ser o digital. Na nossa cartilha, a gente explica os modelos de operação — delivery, ‘para levar’ e drive-thru, com as vantagens e desvantagens de cada, pontos de atenção e dicas.”
Desdobramentos e apoio
Na realidade, foi feita uma série de cartilhas com foco no delivery — tanto na operação quanto na gestão e marketing digital, assim como webinars com foco no aumento da presença digital. “Importante dizer que a Abrasel tem uma plataforma de qualificação online e gratuita, a Conexão Abrasel, onde qualquer pessoa interessada pode se inscrever e acessar mais de 30 cursos. Basta acessar abrasel.com.br/conexao e escolher as videoaulas.”
Além disso, acrescenta o presidente, na Rede Abrasel (redeabrasel.com.br), os empresários conseguem acessar facilmente uma área chamada “Apoio para retomada”, onde estão reunidos artigos, cartilhas, cursos, webinars e uma série de ferramentas de apoio nesse e em todos os momentos.
Atualização e transformações
Passado já quase um ano, as dicas seguem valendo, mas Paulo assinala que é importante ressaltar alguns pontos: o consumidor hoje está muito mais familiarizado com as compras digitais do que no começo da pandemia; novas formas de pagamento estão surgindo a todo instante e é importante entender se, e como, há espaço para eles no seu negócio — com a reabertura, a tendência é que haja migração do consumo on-line para o presencial. “É um mercado onde a velocidade das transformações é intensa e exige que os empresários estejam atentos e se adaptem rapidamente.”
Experiência e retorno
A avaliação é que, ainda que o faturamento e a presença do delivery não tenham sido suficientes para evitar o prejuízo, esses canais mantiveram as empresas operacionais e ajudaram a segurar os empregos. Para Paulo, o uso dessas ferramentas de vendas é uma tendência que veio para ficar, e os negócios do setor devem estar atentos aos custos envolvidos, adaptando a operação (cardápio, etc.) ao modelo de delivery ou ‘para levar’. “E é possível continuar encantando os clientes à distância”, receita.
Ele afirma que tais ferramentas ajudaram, sim, a manter os negócios de pé, mas combinadas com outros fatores, como acesso aos programas de auxílio — a ajuda para pagar os salários (Benefício Emergencial de Preservação do Emprego e da Renda — BEm) e Pronampe. Os negócios que sobreviveram até aqui também passaram por grandes transformações, alguns até do próprio modelo de negócio — e, certamente, uma revisão da operação, em busca de enxugar custos e aumentar a produtividade, avalia.
Outras estratégias
Além do delivery tradicional, com entrega na casa do cliente, Paulo destaca que existem outras modalidades de operação “off premises” (fora das instalações): drive-thru, em que as refeições são pedidas e retiradas de uma
janela drive-thru instalada no restaurante; take away, já conhecido dos cervejeiros, em que os pedidos são feitos com antecedência ou no local; coleta/entrega na calçada, quando os clientes fazem os pedidos com antecedência e se dirigem até o restaurante. “No caso de entrega sem contato, nenhum contato físico é feito entre o motorista de entrega e o cliente.”
Perspectivas
Após o fim das restrições, Paulo avalia que, certamente, a participação das plataformas delivery e take away cairá em termos relativos quanto ao faturamento, mas jamais deixará de ser importante. São modelos de negócio complementares que se manterão, constata. “Já tinha uma tendência de crescimento, e o consumidor se acostumou e aprendeu a usar melhor os aplicativos. Então essa participação será mais importante do que era.”
Ele também considera que existem muitas oportunidades atualmente no Brasil. Primeiramente, diz, 50% das vendas ainda são feitas por canais diretos, como grupos de WhatsApp e telefone, havendo espaço para evoluir, desde que haja mais conforto com as taxas e com os serviços. “Há uma possibilidade enorme de expansão geográfica, já que muitas cidades não têm uma atuação importante dessas plataformas. Pouco mais de 5% dos municípios têm a cobertura de soluções full service (que inclui a entrega), e há uma parcela de, no máximo, 50% das cidades brasileiras com bom acesso aos serviços de marketplaces.”
Ou seja, segundo ele, há muito espaço para crescimento. “Estamos trabalhando no open delivery para facilitar e haver ganhos de eficiência operacional, ampliar a concorrência e melhorar o serviço ao cliente. E também para reduzir todas as ineficiências que os sistemas operantes acarretam hoje e, assim, buscarmos melhorar a rentabilidade e tornar os preços mais acessíveis.”