Revista da Cerveja

Da Origem ao Copo

- Foto: Divulgação Albanos/Thiago Henrique

Sabores de Minas pela Albanos

O projeto Da Origem ao Copo, da Cervejaria Albanos (MG), é uma expedição pelo rico universo do interior mineiro, histórico e caracterís­tico pelos seus sabores artesanais — doces, cafés, frutas —, para gerar novas cervejas. Tendo como parceiros os produtores locais, cada trilha resulta em uma cerveja genuinamen­te mineira.

Responsáve­l pelo marketing e Pesquisa e Desenvolvi­mento (P&D) da Albanos, Rodrigo Greco conta que o projeto surgiu da vontade da cervejaria de criar uma linha de cervejas que tivesse o DNA de Minas Gerais. O objetivo? “Conhecer cada vez mais e melhor a cultura, tradição e gastronomi­a do nosso estado. Conhecer os microprodu­tores, os ingredient­es locais que tanto dizem sobre uma cidade ou região.” Ele afirma, porém, que as expedições são uma das últimas etapas do projeto. Anterior a isso, existe toda uma pesquisa feita pela equipe de desenvolvi­mento de produtos (formada por ele, Pablo Carvalho, mestre-cervejeiro, e Fabiana Arreguy, curadora de conteúdo) que define a região, estuda a história, identifica os produtores e só então coloca o pé na estrada. Outro produto do projeto, além das cervejas, são os vídeos que montam uma espécie de websérie para cada uma das viagens — que, possivelme­nte, no futuro, se transforme­m em um livro.

Cultura local

“Procuramos sempre fortalecer e fomentar a cultura local com esse projeto. Os produtores que buscamos são normalment­e famílias que tiram seu sustento daquele produto há décadas, que estão na quarta ou quinta geração daquele negócio.” Um dos grandes pontos para o projeto é levar em conta o contato e conversas com os produtores locais para gerar as receitas a partir das expedições. “Nas expedições, viajamos sem saber qual seria o estilo da cerveja e, às vezes, com mais de um produtor/produto na agenda para conversar e entender melhor sobre as possibilid­ades. Ao conversar com o produtor, que tem décadas de manuseio daquele produto, se aprende muito e, com certeza, mais possibilid­ades se abrem. A partir do conhecimen­to adquirido, entendemos melhor o que podemos extrair daquele produto. E só daí conseguimo­s começar a pensar no que iremos produzir”, resume Greco.

Surge a primeira cerveja

Até agora, foram três expedições, portanto, três cervejas lançadas. A primeira cerveja foi a D.O.C (Da Origem ao Copo) Stout Chocolate com Compota de Laranja-da-Terra, lançada em 2019 e desenvolvi­da em parceria com o doceiro Edu Tijolo, de São Bartolomeu, distrito de Ouro Preto/MG. “Nosso time esteve em São Bartolomeu, onde tivemos a oportunida­de de, inclusive, participar da produção do secular doce produzido por eles!” A cerveja tem 40 IBU e 6,3% ABV e o estilo Chocolate Stout, definido pelo mestre-cervejeiro Pa

blo Carvalho, serve como base para receber o doce de laranja-da-terra. Ela tem notas torradas que lembram café e chocolate e é complement­ada pelo sabor cítrico e levemente amargo da laranja-da-terra, descreve Greco, acrescenta­ndo que é uma cerveja sazonal, lançada em chope e lata de 473mL — teve apenas um lote lançado, mas uma nova edição está sendo planejada.

A tradição da jabuticaba

A segunda incursão trouxe à cena a realidade da jabuticaba, fortíssima em MG, mais especifica­mente na histórica cidade Sabará. Para se ter ideia da importânci­a da jabuticaba na cidade, informa Greco, existe redução/ isenção de impostos com cálculo baseado na quantidade de pés da planta que a pessoa tem em casa. Foi a partir de conversas com Meire Ribeiro, produtora local proprietár­ia da Sabarabuçu, empresa de produtos derivados da fruta, e presidente da Associação de Produtores de Derivados da Jabuticaba de Sabará (Asprodejas), que a equipe da Albanos definiram qual o segundo produto da linha. Surgia então, em 2020, a D.O.C. Catharina Sour com Jabuticaba, com 8 IBU e 4,7% ABV.

“Aqui, nossa ideia foi representa­r ao máximo a fruta em sua essência. E a sacada do nosso mestre-cervejeiro, de trazer a jabuticaba para uma Catharina, foi perfeita. O estilo combina muito com a fruta — que deu à cerveja uma coloração linda, rosada — e seu sabor, levemente doce, se equilibrou perfeitame­nte à acidez caracterís­tica do estilo.” Este rótulo já está no terceiro lote, disponibil­izado em chope e latas de 473 mL.

O café entra em cena

A terceira cerveja é a D.O.C. IPA com Café do Cerrado, de 5,6% ABV e 58 IBU, disponível apenas em lata, devido às restrições da modalidade chope durante a pandemia. Foi lançada em dezembro de 2020. Neste caso, a parceria foi com café Topázio do produtor Bruno Souza, proprietár­io da Fazenda Esperança, em Campos Altos, na região do Alto Paranaíba. “Utilizamos o café do Bruno, um grande parceiro nosso, cuja família está na 4ª geração de produtores de café. A microrregi­ão de Campos Altos está em processo de certificaç­ão de origem e o clima de lá oferece condições incríveis para o cultivo do café.”

Não foi, contudo, a primeira experiênci­a com café em cerveja da Albanos, mas o cervejeiro acredita ter sido a mais assertiva. “A seleção do café da variedade Topázio se deu pelas suas caracterís­ticas cítricas e frutadas, que entraram em perfeita harmonia com os lúpulos americanos escolhidos pelo Pablo. Uma bela combinação para quem gosta do amargor das IPAs e dos cafés.”

Novos rótulos

Por enquanto não existem perspectiv­as de um novo rótulo dentro do projeto, porém, recentemen­te, a cervejaria lançou um produto, fruto de uma outra expedição, desta vez para a cidade de Mariana, a primeira da história de MG. Realizada em homenagem aos 300 anos do estado, o resultado foi uma Lager com Doce de Leite, que teve seu nome escolhido pelas redes sociais da cervejaria: Uai Minas 300 anos.

Ações na pandemia

Como todas as cervejaria­s, a Albanos foi afetada pela pandemia de Covid-19. A D.O.C. Jabuticaba, porém, foi lançada exatamente um mês antes do início da crise sanitária. “O único rótulo desenvolvi­do e lançado durante a pandemia foi a D.O.C. IPA com Café. Antes já estávamos conversand­o com o produtor sobre a nossa vontade de produzir uma cerveja com os cafés dele e, de repente, pandemia. Foi um momento de readequaçã­o.” A expedição foi feita, esclarece, de forma virtual, por meio de algumas conversas on-line com o produtor, que passou boa parte do isolamento em sua fazenda em Campos Altos. “Também realizamos a prova e seleção dos cafés na Academia do Café, cafeteria, torrefação e escola de café, também de propriedad­e do produtor e sua família, aqui em BH. Dessa maneira, viabilizam­os mais uma edição do projeto.”

Processo, mercado e perspectiv­as

O processo de elaboração das receitas é meticulosa­mente estudado e coordenado por Pablo, informa Greco. Ele também é o responsáve­l pela sua execução, acompanhan­do todo o processo de fabricação. Já as análises durante a fermentaçã­o e maturação, até o pós-envase, são feitas por ele e Fabiana. “A ideia é garantir que o produto saia da maneira que pensamos. Após os testes e definição do estilo-base, prima-se pela total adequação às guidelines do estilo e pelo total respeito ao ingredient­e selecionad­o para a receita.”

Satisfeito, Greco diz que o mercado vem respondend­o bem ao projeto e, a cada lançamento (ou relançamen­to), é possível ampliar ainda um pouco mais a área de atuação, atingindo mais pessoas e gerando novas experiment­ações. A expectativ­a é retomar o plano do projeto que previa, ao menos, seis cervejas com seis produtores diferentes na primeira fase. “Estamos ansiosos para voltar a colocar o pé na estrada. A motivação é a nossa vontade de trazer toda a mineiridad­e para nossas receitas e, assim, poder compartilh­ar um pouco do que é Minas Gerais e sua imensidão de ingredient­es e tradições.”

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