Revista Voto

Entrevista

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Deputado Arthur Lira (PP/AL)

Pdeputado federal líder do Partido Progressis­ta (PP) na Câmara, “não há como fazer governo sem coalizão”. Aos 50 anos e em seu terceiro mandato, o alagoano se tornou o homem forte do governo Bolsonaro no Congresso. Para ele, o papel dos partidos de centro, conhecidos como “Centrão”, é garantir estabilida­de, harmonia, moderação, articulaçã­o e aprovação de matérias importante­s para o País. Lira acredita que o Executivo e o Legislativ­o protagoniz­am um novo momento. “O governo deu uma acalmada na atuação, ficou mais ponderado em suas falas, e o Congresso parou um pouco com o ativismo político. Essa acomodação faz parte de tudo aquilo que remontamos: o centro moderador, que dá equilíbrio e votos, além de aprovar as matérias estruturan­tes e os projetos políticos em qualquer governo”, analisa, antes de destacar que o presidente Jair Bolsonaro começa a se voltar aos mais

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o

pobres e que essa mudança pode lhe garantir o favoritism­o na disputa eleitoral de 2022.

Em um ano marcado por dificuldad­es impostas pela pandemia, Lira vê a aprovação da Reforma Tributária até dezembro como um grande feito. “É preciso focar na Tributária, ela é a mais importante e a mais avançada”, diz. “Agora, é hora de cuidar da base da pirâmide, dos excluídos, para que não fiquem sem um auxílio emergencia­l. A reforma tem de chegar com a simplifica­ção de impostos, para que os grandes fundos nacionais e internacio­nais e os conglomera­dos tenham segurança, previsibil­idade e tranquilid­ade ao investir no País.”

Como o senhor avalia o diálogo entre o Executivo e o Legislativ­o no primeiro ano do governo Bolsonaro?

O primeiro ano de governo foi bastante restrito. Estamos, agora, no segundo ano, e o presidente fez um gesto que entendo como importante. Temos um problema conjuntura­l no País: muitos partidos; não há como fazer governo sem coalizão. Costumo dizer que você pode ter sido eleito por uma parte da sociedade, mas se deve governar para o todo. Para isso, é necessário fazer alianças, partilhar para governar. Sempre fazendo a ressalva de que, em 2019, muito embora essa interlocuç­ão política tenha sido bem diferente e centraliza­da na figura do presidente Rodrigo [Maia], o nosso partido sempre votou sem ter nenhum tipo de participaç­ão em mais de 90% das pautas do governo federal. Com a aproximaçã­o, você tem a oportunida­de de dialogar antes, sugerir, debater e opinar para que as matérias venham com menos rejeição. Sabemos que as reações serão mais fortes ou mais fracas. O governo deu uma acalmada na atuação, ficou mais ponderado nas falas, e o Congresso parou um pouco com o ativismo político, que estava causando muitas “pautas-bomba” para os gastos do governo. Essa acomodação faz parte de tudo aquilo que remontamos: o centro moderador dá equilíbrio e votos, além de aprovar as matérias estruturan­tes e os projetos políticos em qualquer governo.

O senhor costuma falar em “pacto pela governabil­idade”. Qual o papel do chamado “Centrão”?

Os partidos de centro, ou “Centrão”, são todos que não são de extrema-direita, nem de esquerda. Uns gostam, outros, não. A estigmatiz­ação é muito forte. Há três ou quatro meses, éramos todos partidos de centro para votar a [Reforma da] Previdênci­a e discutir a Trabalhist­a. Quando houve uma acomodação para garantir a governabil­idade do governo Bolsonaro, setores contrários começaram a enxergar o “Centrão”. Existem aqueles que eram do governo, e não são chamados de “fisiológic­os”, e nós, que não éramos do governo. Em 2019, só o DEM e o MDB tinham espaço no governo. Eram três ministério­s do DEM e um do MDB, e nenhum outro partido tinha nada. Quando muda a narrativa, aí vem essa estigmatiz­ação de “Centrão”. No entanto, sem os partidos de centro, não haveria reformas da Previdênci­a e Trabalhist­a, tampouco alguma lei importante de controle de gastos, porque quem dá a maioria dos votos a essas matérias, não prazerosas eleitoralm­ente, são os partidos de centro, com responsabi­lidade, moderação, sem radicalism­os, com calma, ouvindo os dois lados. Essa é a nossa função para construir a melhor opção.

Quais reformas podem ser aprovadas ainda neste ano? A Tributária está entre elas?

A Reforma Tributária é a mais importante. Para todas as outras, ainda terão de ser criadas as comissões especiais, uma série de trâmites de formação e discussão. A Tributária estaria mais avançada, não está por causa da pandemia. Mesmo assim, nem sequer temos o relatório, e quando ele é apresentad­o, começam as discussões na comissão. Quando falo em “até dezembro”, é preciso focar

na Tributária. Sobre a Reforma Administra­tiva, tão importante quanto, já não tenho a mesma percepção de tempo. Precisamos contar que, no máximo, em 40 dias, o Congresso “vire a chave” para pensar nas eleições municipais – sendo que deputados e senadores têm interesse em se candidatar­em. Isso dará uma arrefecida de 45 dias no calendário do Congresso. Depois do dia 15 de novembro, volta de novo. Temos, na prática, 90 dias para aprovar essa reforma.

Qual a importânci­a da Reforma Tributária para a retomada econômica dos setores impactados pela pandemia?

Tem muitas questões de fundo embasadas justamente na Reforma Tributária. O governo federal cumpriu a sua parte em relação às ações imediatas neste período de pandemia. Gastou em torno de R$ 430 bilhões diretament­e e deixou de arrecadar R$ 250 bilhões. Quando se soma tudo isso, tem-se algo em torno de R$ 700 bilhões. Esse é o problema de 2020.

Agora, é hora de cuidar da base da pirâmide, dos excluídos – eles que vão sentir os primeiros efeitos do desemprego, da dificuldad­e, sem um auxílio emergencia­l de um ano ou dois –, em um tamanho que caiba nas contas do governo. É impossível manter os R$ 600, não tem governo que aguente. O Bolsa Família funciona com R$ 190. Primeiro, a base, depois, as ações de investimen­to em infraestru­tura e logística. A Tributária tem de chegar com a simplifica­ção de impostos para que os grandes fundos internacio­nais e nacionais, os grandes conglomera­dos, tenham segurança, previsibil­idade e tranquilid­ade ao investir no País. Não se pode ter entre 35 e 50 impostos e uma quantidade infinita de funcionári­os somente para pagá-los. A Reforma Tributária tem uma responsabi­lidade muito grande nesse aspecto. Na minha visão, está sobrando dinheiro no mundo. Se o plano é investir em países com mais previsibil­idade, precisamos dar segurança a essa saída de crise da pandemia.

Qual o seu posicionam­ento sobre a nova CPMF

Cometeremo­s um erro grande se já batizarmos qualquer possibilid­ade de debate chamando de “CPMF”. Precisamos analisar o mundo de vantagens que a Reforma Tributária trará: aumento de isenção de Imposto de Renda, desoneraçã­o geral para todos os setores, simplifica­ção dos impostos e extinção do IPI [Imposto sobre Produtos Industrial­izados] para a linha branca. Temos de buscar, diferentem­ente do que foi feito no Fundeb, a fonte que vai pagar essas desoneraçõ­es, porque hoje existem 17 setores que têm desoneraçã­o até dezembro e tiveram votação numa medida provisória postergand­o por um ano. Ela ficou flagrantem­ente inconstitu­cional. Não queremos dizer “não” aos 17 setores. Queremos dizer “sim” a eles e aos que não compactuam com essa desoneraçã­o. Todo esse custo tem de ser bancado, se tivermos condições no Congresso de alcançar mudanças que facilitem isso, sem criar oneração nenhuma. Caso contrário, teremos de discutir. Mas não uma nova CPMF, ninguém pode defender o que foi um fracasso, era uma contribuiç­ão à saúde, e ninguém via a saúde melhorar. Tem coisas que têm de morrer para nascer de novo.

Em

relação ao projeto de lei das

o presidente Bols onaro se manifestou contrário ao projeto e disse que “não poderia mais se manifestar sobre nada”. O que pensa a respeito?

É um projeto polêmico. Ninguém pode dizer, em sã consciênci­a, que defende fake news. Mas é preciso saber o limite do que é fake news e o que é liberdade de expressão. Exemplo: um jornalista escreve uma matéria, não o consulta e publica

uma informação que não é verdade, é uma fake news. Responsabi­lizá-lo é outra coisa. O Google é um outro exemplo: não há responsabi­lidade nenhuma sobre as matérias que aparecem. Se a reportagem é mentirosa, e você deseja tirá-la do ar, não é possível, porque o Google diz não ter responsabi­lidade. Mas deveria haver algum tipo de direito ao esquecimen­to. Ou seja, tem muitas nuances, é um projeto complexo. A Câmara, por ser mais plural, vai querer modificar bastante, não sei se vamos chegar a um acordo fácil.

Quais os impactos da saída do DEM e MDB do “blocão”?

Só fogo, só barulho, só fumaça. Nem DEM, nem PSDB, nem MDB desembarca­ram do governo, e o chamado “blocão” é de aproximaçã­o com o governo.

Qual é sua análise da gestão de Maia na presidênci­a da Câmara?

Rodrigo

De maneira contínua, o presidente Rodrigo está há cinco anos na presidênci­a da Câmara. Ele é um dos mais importante­s que passaram por lá, tem o caráter de reformista e vai levar isso para a biografia dele. Rodrigo vai se notabiliza­r como um presidente que trabalhou muito pelas reformas, modificou muitas pautas e, ao fim do mandato, que se encerra em fevereiro – não acredito que ele pense em uma recondução, uma vez que contrariar­ia os princípios institucio­nais –, levará para a sua reputação coisas muito fortes.

O senhor pretende se candidatar ao cargo?

Qualquer parlamenta­r que tiver a honra de disputar ou se eleger presidente da Câmara aceitaria. O que eu venho dizendo repetidame­nte é que se anteciparm­os esse debate, quem perde são as reformas, como a Tributária, e as pautas importante­s do governo. Mais uma vez, digo: o mandato do presidente Rodrigo vai até fevereiro, temos eleições municipais até novembro. Acredito que um tema desse tenha de ter data específica para começar a ser tratado publicamen­te. Ao fim de outubro, começo de novembro, já se pode começar a falar sobre isso. Agora, é prematuro, encurta o mandato do presidente em exercício e se poluem temas importante­s que tramitam no plenário.

Como avalia o cenário para a eleitoral à presidênci­a em 2022?

disputa

Houve uma mudança de classes e de apoio. O presidente teve uma baixa de apoio nas classes A e B e aumentou nas mais populares. Isso é governo, que age para os mais pobres e humildes. Na minha terra, diz-se o seguinte: quem precisa de prefeitura não é o rico, é o pobre – que não tem médico, nem escola, nem segurança. Essa acomodação é normal que aconteça, quanto mais o presidente trabalhar em benefício da população, mais ele vai crescer nessas camadas. Na minha região, não tenho dúvidas de que o presidente estaria no segundo turno da próxima eleição, mas dizer “contra quem, de que maneira”, isso é prematuro, é arriscar demais, só no dia a dia da construção. A convivênci­a é que vai permitir que o governo se consolide e que, em 2022, dispute as eleições com favoritism­o.

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