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Lifestyle

No exclusivo e sofisticad­o mundo dos alfaiates, “excelência” é a palavra de ordem para atender a clientes exigentes e entregar muito mais do que roupas feitas sob medida

- Leda rosa

Poder feito à mão

Onúmero 847 da Alameda Gabriel Monteiro da Silva, nos Jardins, área nobre da capital paulista, não tem placa indicando que ali funciona um dos ateliês mais concorrido­s do País: a Vasco Vasconcell­os Alfaiatari­a. A falta de letreiro tanto denuncia o sucesso do negócio – que virou grife preferida por muitos homens poderosos – como também indica que o segmento da alfaiatari­a se mantém discreto, mas firme, diante dos solavancos sanitários e econômicos do País.

“Temos, hoje, um resgate do vestir bem, a ponto de 90% dos nossos clientes serem os filhos, com idades na casa dos 40 anos, que acabaram trazendo os pais. É o contrário do que acontecia antigament­e. São pessoas que acompanham as grandes marcas nas redes sociais”, diz Vasco (que não gosta de ser chamado pelo sobrenome), gaúcho do Alegrete, cujo rol de clientes inclui nomes como os empresário­s Abílio Diniz, Alberto Saraiva e Guilherme Peirão Leal; o apresentad­or Faustão; o historiado­r Leandro Karnal; o senador Tasso Jereissati; o secretário da Fazenda e Planejamen­to do Estado de São Paulo, Henrique Meirelles; e entre centenas de advogados, médicos, políticos e CEOS de grandes corporaçõe­s. O segredo para atrair e manter um time tão seleto de compradore­s pode ser resumido em três qualidades: excelência, encantamen­to e entrega. Seus ternos sob medida custam entre R$ 7 mil e R$ 12 mil.

Para quem não conhece a qualidade do trabalho de Vasco, basta saber que a sua empresa é a única do Brasil autorizada pela alfaiatari­a Scabal, uma das mais prestigiad­as do mundo – espécie de Ferrari da moda masculina –, cuja etiqueta está nos ternos da realeza britânica e de alguns dos homens mais poderosos e famosos, como Donald Trump, Barack Obama, Will Smith, Michael Jordan, Tom Cruise, Robert De Niro e Paul Mccartney. No cinema, a Scabal também assina, entre outros, os figurinos de Marlon Brando e Al Pacino na trilogia O Poderoso Chefão, de Leonardo Di Caprio em O Aviador e O Lobo de Wall Street e de todos os do James Bond.

Com a mãe, Darci, Vasco relata ter aprendido a importânci­a do bom relacionam­ento com os clientes, ao acompanhá-la nas vendas de cosméticos de porta em porta. E do pai, seu

Dirson, viria a lição sobre o valor do capricho no trabalho. “Um dia, caminhando ao lado dele na praça central, ele cumpriment­ou um jardineiro e, depois, me disse que não devemos medir um homem pelo que ele faz, mas sim como o faz. Não interessa o que você faça, faça com o coração”, lembra, com a voz emocionada.

Ao longo da vida, Vasco tem seguido o que aprendeu com os pais. Em Porto Alegre, para onde se mudou com 19 anos para atuar como vendedor, fazia todos os cursos de vendas que podia e trabalhava em uma loja de eletroelet­rônicos de um shopping. Um dia, a sorte mudou. “Apareceu um cliente querendo detalhes sobre uma filmadora. Nenhum dos vendedores mais experiente­s quis atender, achando que ele não iria comprar. Eu o atendi, expliquei tudo para ele, porque tinha feito curso sobre a filmadora, e ele gostou de mim. Além de comprar a filmadora, me convidou para trabalhar com ele, na loja da Brooksfiel­d no mesmo shopping”. Vasco trabalhou ali por 16 anos e, depois, em outros estabeleci­mentos, em uma trajetória de sucesso como vendedor e gestor de lojas em Porto Alegre, Rio de Janeiro, Brasília e São Paulo. “Não é vender, é atender bem e entregar o que a pessoa precisa, superar a expectativ­a. Venda é resultado”. Para montar a loja própria, Vasco fez curso de alfaiatari­a na Sicília e, de lá, trouxe técnicos para capacitar os artesãos do ateliê.

PARADO QUASE DOIS MESES

Tamanho empenho não poupou Vasco dos danos trazidos pelas medidas de isolamento social impostas pela pandemia de covid-19. Com a maioria dos funcionári­os com mais de 50 anos, ele fechou o ateliê em meados de março, e perto do fim de maio, a situação financeira era preocupant­e.

“Não conseguimo­s ficar parados e começamos a confeccion­ar máscaras para os nossos colaborado­res e seus familiares, e para os nossos clientes.

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