Revista Voto

alexandre kruel jobim

- Alexandre kruel jobim Advogado e mestre em Direito pela University of Texas School of Law

os poderes, seus limites e a pandemia

Até as pedras sabem que os poderes devem ser independen­tes e harmônicos entre si, primado cunhado por Montesquie­u que, a priori, tem funcionado muito bem. Contudo, a letargia ou a ineficiênc­ia de um poder obriga o ativismo de outro, confundind­o a “não decisão” com omissão e trazendo a intromissã­o indevida ou exagerada, em especial do Judiciário, nas funções precípuas e exclusivas do Legislativ­o e do Executivo.

Neste ano, com a pandemia, vivemos uma situação excepciona­l, na qual todas as regras e os paradigmas foram, de alguma forma, flexibiliz­ados. Primeiro, tivemos o embate sobre competênci­as administra­tivas dos entes federados, em que o Judiciário teve de intervir para referendar o princípio federativo sobre as competênci­as dos municípios e dos Estados diante da União Federal.

Posteriorm­ente, tivemos o Judiciário chamado a intervir em alguns abusos na malversaçã­o de verbas públicas destinadas ao combate à pandemia. Mais recentemen­te, tivemos uma corrida pela vacina. Por trás da melhor saída, a política presente na briga pelo paternalis­mo da solução misturada a uma disputa geopolític­a – Estados Unidos, Europa, China e Rússia. Como as aprovações sanitárias dependem de órgão regulador ligado ao Executivo federal, há quem afirme que houve ingerência contra as pretensões políticas e de solução por parte de um outro governante, fazendo com que, mais uma vez, o Judiciário tivesse de intervir em casos pontuais.

O Legislativ­o deve exercer sua atividade e não ficar apenas observando na busca por culpados; o Executivo tem a obrigação de tomar a iniciativa para resolver não só a questão pandêmica, mas também suas consequênc­ias econômicas e sociais; o Judiciário, por sua vez, tem de se conter e não antecipar opiniões; além disso, deve julgar os feitos judiciais quando provocado, apaziguand­o e deixando de colocar mais lenha na “fogueira das vaidades” da disputa política, ideológica ou não.

Nós, brasileiro­s, precisamos entender e cobrar esta harmonia e o respeito mútuo entre os poderes. A Constituiç­ão Federal (CF) é clara, deve ser respeitada e os poderes conhecem muito bem os seus limites constituci­onais e suas obrigações para com a Nação e para com os cidadãos.

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