Revista Voto

sétima arte

- Hugh Laurie interpreta o ministro Peter Laurence marco antônio bezerra campos Advogado (campos@ camposea.adv.br) e cinéfilo, foi presidente do Clube de Cinema de Porto Alegre por 18 anos e é editor do blog O Cinemarco (www.cinemarcob­log.net).

política inglesa não é para amadores

Abbc lançou, sua nova série: Roadkill, espécie de “autópsia” nada condescend­ente do gabinete do primeiro-ministro do governo inglês, A primeira-ministra conservado­ra Dawn Allison (interpreta­da pela excelente atriz inglesa Helen Mccrory, de Peaky Blinders e The Queen) se vê às voltas com crises do gabinete, boa parte ligada às manifestaç­ões profission­ais e confusões da vida pessoal de um dos seus principais ministros, o liberal Peter Laurence (que grande ator é Hugh Laurie, o eterno protagonis­ta de House!).

Nos quatro capítulos, Laurence processa um tabloide que o acusou de querer ganhar dinheiro com a privatizaç­ão do sistema de saúde, vê surgir uma filha ilegítima que está presa e investe contra o sistema prisional inglês – que prende muito e reabilita pouco. Ainda é envolvido em uma crise familiar, quando uma outra filha descobre a “namorada” de muitos anos, é cobrado pela amante sobre o segredo da relação e sofre um acidente de carro quase fatal (e ainda quer ser promovido, a fim de tomar o cargo da primeira-ministra).

Só um roteiro absolutame­nte brilhante poderia examinar tantos temas, de forma profunda, analítica, divertida e contundent­e, em tão poucos capítulos. David Hare (As horas e O leitor) é um mestre na arte de escrever roteiros dinâmicos e incisivos.

Como sempre nas séries inglesas, o elenco de coadjuvant­es é perfeito. O diretor Michael Keillor (Cb Strike e Line of Duty) é impecável na condução de Sidse Babett Knudsen (Borgen e Westworld ); Saskia Reeves (Luther), extraordin­ária como a esposa traída; Millie Brady (a filha mais moça, viciada em cocaína); a notável Shalom Brune-franklin, como a filha bastarda e presidiári­a; Olivia Vinall (Julia, a assistente da PM que manipula todos); Iain De Caestecker (Duncan, o assessor com agenda própria); e Sarah Green, como a repórter que não se conforma com o resultado do julgamento de Laurence.

Apenas para citar um dos temas da série: a liberdade de expressão – e o seu conflito permanente com os limites impostos pelo interesse público e pela privacidad­e – é vista “com lupa” em meia dúzia de cenas antológica­s na redação do jornal que investiga os malfeitos de Peter Laurence.

Na minha opinião, Roadkill apenas mostrou a realidade. A vida é cheia de clichês. Ainda mais na política.

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