sétima arte
política inglesa não é para amadores
Abbc lançou, sua nova série: Roadkill, espécie de “autópsia” nada condescendente do gabinete do primeiro-ministro do governo inglês, A primeira-ministra conservadora Dawn Allison (interpretada pela excelente atriz inglesa Helen Mccrory, de Peaky Blinders e The Queen) se vê às voltas com crises do gabinete, boa parte ligada às manifestações profissionais e confusões da vida pessoal de um dos seus principais ministros, o liberal Peter Laurence (que grande ator é Hugh Laurie, o eterno protagonista de House!).
Nos quatro capítulos, Laurence processa um tabloide que o acusou de querer ganhar dinheiro com a privatização do sistema de saúde, vê surgir uma filha ilegítima que está presa e investe contra o sistema prisional inglês – que prende muito e reabilita pouco. Ainda é envolvido em uma crise familiar, quando uma outra filha descobre a “namorada” de muitos anos, é cobrado pela amante sobre o segredo da relação e sofre um acidente de carro quase fatal (e ainda quer ser promovido, a fim de tomar o cargo da primeira-ministra).
Só um roteiro absolutamente brilhante poderia examinar tantos temas, de forma profunda, analítica, divertida e contundente, em tão poucos capítulos. David Hare (As horas e O leitor) é um mestre na arte de escrever roteiros dinâmicos e incisivos.
Como sempre nas séries inglesas, o elenco de coadjuvantes é perfeito. O diretor Michael Keillor (Cb Strike e Line of Duty) é impecável na condução de Sidse Babett Knudsen (Borgen e Westworld ); Saskia Reeves (Luther), extraordinária como a esposa traída; Millie Brady (a filha mais moça, viciada em cocaína); a notável Shalom Brune-franklin, como a filha bastarda e presidiária; Olivia Vinall (Julia, a assistente da PM que manipula todos); Iain De Caestecker (Duncan, o assessor com agenda própria); e Sarah Green, como a repórter que não se conforma com o resultado do julgamento de Laurence.
Apenas para citar um dos temas da série: a liberdade de expressão – e o seu conflito permanente com os limites impostos pelo interesse público e pela privacidade – é vista “com lupa” em meia dúzia de cenas antológicas na redação do jornal que investiga os malfeitos de Peter Laurence.
Na minha opinião, Roadkill apenas mostrou a realidade. A vida é cheia de clichês. Ainda mais na política.