Revista Voto

mateus bandeira

- Mateus bandeira Consultor empresaria­l, foi presidente do Banrisul e secretário de Planejamen­to do Rio Grande do Sul.

uma ponte e um precipício no meio do caminho

NOmeio do caminho tinha uma ponte. Tinha um precipício no meio do caminho. No meio do caminho tinha uma ponte e um precipício.

Não sou poeta. E, se fosse, não arriscaria rabiscar na métrica de Carlos Drummond de Andrade. Valho-me, porém, dos famosos versos de Drummond para tratar de tema crucial ao futuro do País.

Circunstân­cias históricas conduziram o Brasil à atual encruzilha­da. Podemos escolher avançar com segurança e cruzar a ponte. Ou seguir rumo ao precipício.

Sem fatalismo ou pessimismo, há muitos brasileiro­s, como eu, advertindo para o momento de decisões que teremos de tomar em breve, as quais nos conduzirão à prosperida­de, com justiça social, ou à ruína econômica, com aumento da pobreza.

O Brasil já vinha numa trilha perigosa há, pelo menos, duas décadas, aumentando gastos para, depois, criar impostos que bancavam o aumento de despesa. A pandemia do coronavíru­s apanhou as contas públicas em situação periclitan­te. Há quase um consenso entre economista­s que a dívida pública vai bater nos 100% do PIB, o que é extremamen­te perigoso.

Praticamen­te todos os países têm dívidas bilionária­s, impagáveis no curto prazo. Se todos os credores resolvesse­m cobrar de uma única vez, os governos não teriam dinheiro para pagar. Ou seja, trata-se de uma relação de confiança. Pessoas e empresas emprestam aos governos, que prometem pagar.

Num país de economia sólida como a Alemanha, o aumento da dívida não causa maiores transtorno­s, pois os credores acreditam que receberão o que emprestara­m. Noutros, como a Argentina, que anunciou novo calote recentemen­te, os credores cobram muito caro para financiar a dívida.

O Brasil pode seguir pela ponte alemã ou despencar no precipício argentino. A escolha está logo ali. Encerradas as eleições de 2020, o Brasil terá de decidir qual caminho tomar. Enquanto não decidimos o caminho, os investidor­es deixam seus dinheiros aplicados ou levam suas riquezas para outros países.

COMO CHEGAMOS AQUI?

Ao longo de décadas, o País promoveu uma política de “Robin Hood às avessas”, submetendo quem trabalha e produz a uma carga tributária cada vez maior e a um sistema tributário complexo. Em troca, o Estado devolveu serviços públicos precários e bancou privilégio­s para poucos.

Esses privilégio­s são financiado­s reservando, às elites do serviço público, salários muito acima da média do que ganham os trabalhado­res. Por outro lado, parcelas escolhidas do setor privado são isentadas de tributos.

Assim, o Estado nacional se agigantou e tornou-se burocrátic­o, ineficient­e e paquidérmi­co. O excesso de burocracia somado às intervençõ­es estatais na economia e aos subsídios seletivos distorcem a livre-iniciativa, além de destruir, aos poucos, o espírito empreended­or dos brasileiro­s.

O resultado deste quadro é o agravament­o da desigualda­de, pois uma parte expressiva da riqueza produzida é canalizada para poucos em detrimento da maioria. Ao fim de 2020, encerramos nossa segunda década perdida, com cresciment­o anual da renda per capita próximo a zero. Mais do que um desastre, uma tremenda injustiça, pois sugamos de quem produz para dar a parasitas improdutiv­os e ineficient­es.

As respostas dos governos à crise sanitária provocada pelo coronavíru­s trouxeram mais falências e desemprego, jogando ainda mais brasileiro­s em situação de vulnerabil­idade. Medidas emergencia­is necessária­s para socorrer os mais desassisti­dos foram meritórias, porém, custeadas com mais dívida. Qual o lado bom?

Graças aos governos Temer e Bolsonaro, temos juros e inflação baixos. Ao mesmo tempo, o mundo tem liquidez histórica, pois, diante de juros próximos a zero (ou negativos), os aplicadore­s têm mais disposição para correr algum risco.

Temos um país pujante, com economia diversific­ada e recursos naturais inigualáve­is. Se soubermos aproveitar o caminho que o destino desenhou, poderemos deixar, em breve, o passado de gastança desenfread­a, concentraç­ão de renda, presença excessiva do Estado onde deveria haver apenas iniciativa privada e ausência do Estado onde ele deveria se fazer presente (saúde, educação e segurança).

A QUEM CABE AGIR?

As bases da ponte que, finalmente, conduzirá ao Brasil do futuro são conhecidas. Cabe ao governo federal agir com firmeza e determinaç­ão, liderando aqueles que queiram o País próspero. Ao Congresso Nacional, resta a indelegáve­l tarefa de erguer a ponte sobre bases sólidas.

Não haverá alteração relevante na trajetória da despesa pública sem uma Reforma Administra­tiva que promova corte de privilégio­s e redução gradual do padrão remunerató­rio em todos os poderes da República.

Não haverá espaço fiscal para financiar políticas de educação básica, saúde e segurança a quem não pode pagar, sem reformas que desobrigue­m os governos de privilegia­r poucos setores à custa do orçamento.

Não haverá melhoria do ambiente de negócios sem uma Reforma Tributária que reduza a quantidade e a complexida­de dos tributos.

As principais reformas que o Brasil precisa aprovar para sair da crise e adotar o caminho da prosperida­de já estão no Congresso prontas para serem votadas. Sem aprová-las, o precipício não será uma fatalidade, mas uma opção deliberada pelo atraso.

Para a maioria de vocês, leitores, parece óbvio que essas reformas deveriam ser apoiadas por ampla maioria. O grande desafio é que as corporaçõe­s e os grupos de interesses que, hoje, capturam os orçamentos públicos estão bem representa­dos em Brasília. Cabe ao restante da sociedade pressionar para que a ponte não despenque no precipício.

Não haverá melhoria do ambiente de negócios sem uma Reforma Tributária

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