Revista Voto

SÉTIMA ARTE

UMA NOITE EM MIAMI: FICÇÃO MAIS DO QUE ATUAL

- Marco antônio bezerra campos Advogado (campos@ camposea.adv.br) e cinéfilo. Foi presidente do Clube de Cinema de Porto Alegre por 18 anos e é editor do blog O Cinemarco (www.cinemarcob­log.net)

AO filme Uma Noite em Miami, da cineasta Regina King, traz para as telas a peça teatral de Kemp Powers sobre um fictício encontro entre Muhammad Ali, Malcolm X, Jim Brown e Sam Cooke para discutir o tratamento discrimina­tório dado aos negros americanos nos anos 60.

Nós, brasileiro­s, conhecemos muito mais Muhammad Ali, Jim Brown e Malcolm X. Mas o músico Sam Cooke é idolatrado pelos americanos há décadas como “O Rei do Soul”. Foi morto em 1964, em um tiroteio em Los Angeles.

Em sua 1 hora e 54 minutos, o filme traz discussões, brigas, afagos, elogios, dúvidas, mentiras e promessas das quatro figuras icônicas do ativismo racial nos EUA. Há certo excesso de diálogos, embora a qualidade do texto seja magnífica. Há muitos pensamento­s brilhantes nas conversas entre os quatro protagonis­tas.

As falas sobre a carreira cinematogr­áfica de Jim Brown pós-nfl e os comentário­s sobre Bob Dylan e Blowin’ in the Wind são memoráveis.

Kingsley Ben-adir (Malcolm X), Eli Goree (Cassius Clay), Aldis Hodge (Jim Brown) e Leslie Odom Jr. (Sam Cooke) estão muito bem em seus papéis. Conseguem recriar as figuras reais com perfeição.

A diretora Regina King, ganhadora do Oscar em 2019, como atriz coadjuvant­e, por sua atuação no filme Se a Rua Beale Falasse e que fez a irmã do Presidente Palmer na sexta temporada de 24 Horas, se sai muito bem nesta prova de fogo. Depois de vários episódios de séries e telefilmes, ela chega à maioridade em um filme denso, difícil, provocador, mas extremamen­te bem dirigido.

Como se sabe, a questão da discrimina­ção racial, infelizmen­te, segue nos noticiário­s mesmo sete décadas depois dos fatos narrados no filme.

Já se anuncia que Uma Noite em Miami deverá estar entre os filmes com mais indicações ao Oscar de 2021. Por sua criativida­de, excelência de realização e atualidade extrema de seu tema, será muito merecido.

Por isso, a importânci­a de filmes como esse. Black Lives Matter.

A questão da discrimina­ção racial, infelizmen­te, segue nos noticiário­s mesmo sete décadas depois dos fatos narrados no filme.

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