SÉTIMA ARTE
UMA NOITE EM MIAMI: FICÇÃO MAIS DO QUE ATUAL
AO filme Uma Noite em Miami, da cineasta Regina King, traz para as telas a peça teatral de Kemp Powers sobre um fictício encontro entre Muhammad Ali, Malcolm X, Jim Brown e Sam Cooke para discutir o tratamento discriminatório dado aos negros americanos nos anos 60.
Nós, brasileiros, conhecemos muito mais Muhammad Ali, Jim Brown e Malcolm X. Mas o músico Sam Cooke é idolatrado pelos americanos há décadas como “O Rei do Soul”. Foi morto em 1964, em um tiroteio em Los Angeles.
Em sua 1 hora e 54 minutos, o filme traz discussões, brigas, afagos, elogios, dúvidas, mentiras e promessas das quatro figuras icônicas do ativismo racial nos EUA. Há certo excesso de diálogos, embora a qualidade do texto seja magnífica. Há muitos pensamentos brilhantes nas conversas entre os quatro protagonistas.
As falas sobre a carreira cinematográfica de Jim Brown pós-nfl e os comentários sobre Bob Dylan e Blowin’ in the Wind são memoráveis.
Kingsley Ben-adir (Malcolm X), Eli Goree (Cassius Clay), Aldis Hodge (Jim Brown) e Leslie Odom Jr. (Sam Cooke) estão muito bem em seus papéis. Conseguem recriar as figuras reais com perfeição.
A diretora Regina King, ganhadora do Oscar em 2019, como atriz coadjuvante, por sua atuação no filme Se a Rua Beale Falasse e que fez a irmã do Presidente Palmer na sexta temporada de 24 Horas, se sai muito bem nesta prova de fogo. Depois de vários episódios de séries e telefilmes, ela chega à maioridade em um filme denso, difícil, provocador, mas extremamente bem dirigido.
Como se sabe, a questão da discriminação racial, infelizmente, segue nos noticiários mesmo sete décadas depois dos fatos narrados no filme.
Já se anuncia que Uma Noite em Miami deverá estar entre os filmes com mais indicações ao Oscar de 2021. Por sua criatividade, excelência de realização e atualidade extrema de seu tema, será muito merecido.
Por isso, a importância de filmes como esse. Black Lives Matter.
A questão da discriminação racial, infelizmente, segue nos noticiários mesmo sete décadas depois dos fatos narrados no filme.