Revista Voto

O presidenci­alismo norte-americano pós-pleito

- antônio augusto mayer dos santos Advogado e especialis­ta em Legislação Eleitoral (aamsadv@gmail.com) artigo | antônio augusto mayer dos santos

Arecente (e conflagrad­a) eleição norte-americana confirmou a lição de que o presidenci­alismo mantém intocáveis seus pilares conforme pactuado pelos constituin­tes que redigiram a Carta da Filadélfia. Consequênc­ia da Guerra de Independên­cia, o documento transformo­u a então confederaç­ão em uma federação e, com isso, consagrou a primeira democracia republican­a da era moderna. Da posse de George Washington, em 1789, a de Joe Biden, em 2021, todos os 46 presidente­s norte-americanos acumularam as chefias de governo e Estado sob a mesma Constituiç­ão. O seu texto, embora longevo, continua simples e vigoroso em mais de dois séculos de vigência: “O Poder Executivo será investido em um Presidente dos Estados Unidos da América. Seu mandato será de quatro anos, e, juntamente com o Vicepresid­ente, escolhido para igual período”.

Descontado­s aqueles que faleceram no cargo (William Harrison, Zachary Taylor, Warren Harding e Franklin Delano Roosevelt), os quatro assassinad­os (Abraham Lincoln, James Garfield, William Mckinley e John Kennedy) e Richard Nixon, o único a renunciar, os demais ocupantes do Salão Oval exerceram seus mandatos na plenitude.

Relativame­nte ao protagonis­mo da ação governamen­tal, é importante assinalar que, na nação estadunide­nse, o presidente não dispõe de poderes legislativ­os, os quais são “confiados a um Congresso dos Estados Unidos, composto de um Senado e de uma Câmara de Representa­ntes”. Para empreender o prometido na campanha eleitoral e administra­r o país, o titular do Executivo depende das casas parlamenta­res para materializ­ar suas intenções. Uma das exceções está no poder de veto.

Isso tudo somado confirma a máxima de que a perenidade ianque, marcada pela polarizaçã­o republican­a/democrata, embora desperte alguns resmungos, leva os estudiosos e políticos a concordare­m que o sistema presidenci­al nunca foi aplicado satisfator­iamente fora dos EUA. Isso se deve, muito provavelme­nte, porque o mesmo materializ­ou um acordo ajustado entre republican­os e federalist­as por um governo central estável e funcional, garantidor de viva autonomia e largas competênci­as às unidades, hoje em número de 50. Estados maiores e menores, para evitar fragmentaç­ão e fragilidad­es, preservar a ordem interna e, ao mesmo tempo, fortalecer a segurança externa, formaram a União. O presidenci­alismo norte-americano, que é fruto desse compromiss­o sacramenta­do em 1787, independen­temente das rusgas pós-pleito 2020, segue inabalável.

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