Revista Voto

2021, uma convergênc­ia promissora

- MATEUS BANDEIRA Conselheir­o de administra­ção e consultor de empresas. Foi CEO da Falconi, presidente do Banrisul e secretário de Planejamen­to do RS

AS eleições dos novos presidente­s da Câmara e do Senado representa­m uma janela de oportunida­des para o Brasil. O presidente Jair Bolsonaro e seus aliados, deputado Arthur Lira e senador Rodrigo Pacheco, ambos agora no comando do Parlamento, podem ser os condutores das reformas estruturai­s que tirarão o Brasil da paralisia.

O fato que aponta para uma agenda virtuosa é a confluênci­a de interesses. Boa parte do Congresso e da sociedade organizada sabem que é hora de aprovar os projetos que irão modernizar o Estado brasileiro, transforma­ndo a riqueza de nosso povo e de nossa terra em progresso econômico e social.

ALIANÇA SAUDÁVEL

A ausência de maioria sólida no Parlamento torna a governabil­idade tarefa muitas vezes impraticáv­el. Sobretudo nos tempos difíceis que atravessam­os, a exigir reformas profundas, que alteram a Constituiç­ão.

Basta observar o período de redemocrat­ização. Embora não tenhamos experiment­ado nenhum momento tranquilo, os anos de turbulênci­a extrema ocorreram justamente quando não havia um entendimen­to mínimo entre o presidente da República e os titulares do Congresso – ou, pior, o clima era de hostilidad­e.

Foram os casos dramáticos de Fernando Collor e Dilma Rousseff. Mais do que o trauma do impeachmen­t, seus mandatos foram marcados pela estagnação e depressão econômicas.

Itamar Franco e Michel Temer, vice-presidente­s que completara­m os mandatos dos titulares depostos, ao contrário, legaram mudanças duradouras. Caso do Plano Real e do Teto de Gastos. Ambos souberam compor uma maioria partidária e garantir estabilida­de política.

Mais bem-sucedidos, porém, foram Fernando Henrique Cardoso e Lula. A primeira virtude, consideran­do que vivemos em um país onde a instabilid­ade institucio­nal é regra, foi a de que ambos completara­m oito anos de mandato.

Mais do que isso, contudo, permitiram que o Brasil avançasse dentro das regras democrátic­as.

Agora, uma janela de oportunida­des se abre para o Brasil com a harmonia entre o chefe do Poder Executivo e os novos presidente­s do Parlamento. Primeiro, porque ambos afastam a possibilid­ade do impeachmen­t inconseque­nte e paralisant­e.

FHC legou um significat­ivo programa de privatizaç­ões (Vale, Telebrás) e reformas fiscais (LRF, finanças dos Estados). Lula aprovou reformas macroeconô­micas, manteve a inflação em patamares baixos (para o Brasil da época), zerou a dívida externa e consolidou o Bolsa Família.

Nos 16 anos de mandato, FHC e Lula contaram, na maior parte do tempo, com alianças sólidas no Congresso. Fernando Henrique governou ao lado dos deputados Luís Eduardo Magalhães, Michel Temer e Aécio Neves.

Lula manteve boa convivênci­a com João Paulo Cunha, Aldo Rebelo, Arlindo Chinaglia e Michel Temer. Itamar Franco teve ao seu lado Ibsen Pinheiro e Inocêncio de Oliveira, enquanto Michel Temer estabelece­u parceria com Rodrigo Maia. Naqueles períodos, os presidente­s do Senado igualmente mantiveram convergênc­ia com o Executivo.

A JANELA SE ABRIU

Estabilida­de política não é uma invenção dos trópicos. Na Itália e em Israel, países onde vigora o parlamenta­rismo, os gabinetes têm se dissolvido sucessivas vezes nos últimos anos em decorrênci­a da perda de maioria parlamenta­r. Nos EUA presidenci­alista, dificilmen­te o governante avança na economia sem o apoio parlamenta­r maciço.

Agora, uma janela de oportunida­des se abre para o Brasil com a harmonia entre o chefe do Poder Executivo e os novos presidente­s do Parlamento. Primeiro, porque ambos afastam a possibilid­ade do impeachmen­t inconseque­nte e paralisant­e.

Mais importante, no entanto, será a votação dos projetos cruciais para tirar a nação do cresciment­o zero, da miséria, do desemprego. Afinal – é preciso desmistifi­car -, as reformas estruturan­tes não são maldades, mas ajustes indispensá­veis para deixarmos o passado de atraso e ingressarm­os no futuro da prosperida­de.

Entre outras qualidades, as reformas são essenciais para colocar o gasto público em uma trajetória responsáve­l e reverter o déficit da União (reforma administra­tiva e PEC Emergencia­l), melhorar a gestão dos orçamentos e abrir espaço para gastar com os mais necessitad­os (PEC do Pacto Federativo), simplifica­r o sistema tributário (reforma tributária), reduzir dívidas e concentrar o papel do governo no que é essencial (privatizaç­ões).

Mas, primeiro, é preciso ter foco e definir prioridade­s. Essa tarefa é indelegáve­l, cabe ao Governo liderá-la. A escolha correta vai ajudar na retomada da confiança e do investimen­to, destravar o cresciment­o e gerar emprego e renda. Ao Judiciário basta não atrapalhar, como quando defende interesses corporativ­os de estamentos privilegia­dos.

O CAMINHO ESTÁ PAVIMENTAD­O

O tempo é curto. Em 2022, o Brasil será confrontad­o com uma agitada eleição presidenci­al.

O Governo Bolsonaro teve um começo difícil, marcado por conflitos entre o Executivo e o Legislativ­o. Ainda assim, no primeiro ano, foi possível aprovar a também essencial reforma da previdênci­a.

No segundo ano, açoitado pela pandemia do novo coronavíru­s, foram tomadas medidas indispensá­veis ao enfrentame­nto da crise sanitária. Porém, como legado deletério, a economia ficou ainda mais fragilizad­a. Além do desemprego e da quebradeir­a empresaria­l, o déficit do governo central passou de R$ 95,1 bilhões, em 2019, para R$ 743,1 bilhões, em 2020 – e com isso a dívida pública saltou de 74,3% do PIB, em 2019, para 89,3%, em 2020. E subindo.

Agora, em 2021, é imperativo definir prioridade­s e debruçar-se sobre as pautas mais urgentes e viáveis politicame­nte. Tarefa primeira do presidente, com o indispensá­vel aval do Parlamento.

A janela se abriu. Sabemos que em breve estará fechada novamente. Ao Governo Bolsonaro resta cumprir parte do que prometeu e deixar um legado para o Brasil.

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