Revista Voto

COMÉRCIO EXTERIOR

EMPRESAS DE VÁRIOS SETORES SE QUALIFICAM PARA DIVERSIFIC­AR A PAUTA DE EXPORTAÇÕE­S BRASILEIRA­S

- por patrícia lima

BALCÃO VIRADO PARA O MUNDO

Exportar é preciso. O trocadilho já enxovalhad­o com o místico verso de Fernando Pessoa pode ganhar, nesse tema, contornos rejuvenesc­idos, tendo em conta a importânci­a do comércio exterior para o equilíbrio da economia brasileira. De acordo com dados da Secretaria Especial de Comércio Exterior e Assuntos Internacio­nais do Ministério da Economia, somente de janeiro a maio de 2021, o Brasil exportou o equivalent­e a US$ 109 bilhões, contra US$ 81,5 bilhões de importação. Na prática, a diferença entre compras e vendas internacio­nais deixaram até agora US$ 27,5 bilhões dentro das nossas fronteiras. É a balança comercial positiva, que impulsiona o tão desejado cresciment­o econômico. Segundo dados do Ministério da Economia, a média diária de exportaçõe­s cresceu 46,5% em maio deste ano, em comparação com o mesmo período de 2020. Pelas previsões do Ministério, o superávit de 2021 deve fechar em alta de 75% em relação ao desempenho de 2020, um recorde na série histórica.

Em tempos de incertezas globais provocadas pela pandemia, o fortalecim­ento das exportaçõe­s brasileira­s se torna ainda mais imperioso. Em seu verso original, Pessoa dizia que navegar é preciso no sentido de necessidad­e, mas também com o significad­o de exatidão. Como no trocadilho, é necessário para o Brasil exportar. Mas as vendas internacio­nais também requerem precisão estratégic­a para que se diversifiq­uem e beneficiem mais setores e empresas.

Commoditie­s agrícolas e minerais estão entre os campeões das exportaçõe­s nacionais. Dados do Ministério da Economia demonstram que, no ano passado, a soja represento­u sozinha 15% de tudo o que o Brasil exportou, consolidan­do o país como o segundo maior produtor do mundo. Em segundo lugar, vem o minério de ferro, responsáve­l por 12% do total exportado. Petróleo, celulose, milho, carne de frango e açúcar estão entre os 10 produtos mais importante­s da pauta de exportaçõe­s.

Segundo o mesmo ranking, a China é o principal destino das commoditie­s e produtos brasileiro­s, tendo comprado US$ 70 bilhões do Brasil em 2020. Depois do país asiático, destacam-se como parceiros comerciais União Europeia, Estados Unidos e Argentina.

Mesmo com uma retração de quase 7% nas exportaçõe­s em 2020, a balança comercial brasileira apresentou um saldo de mais de US$ 50 bilhões – diferença positiva, já que exportamos mais do que compramos de fora. Em 2021, a tendência segue animadora, com um cresciment­o de 25,6% em relação ao mesmo período do ano passado. Números maiúsculos como esses podem dar a ideia de navegação em águas tranquilas, para permanecer­mos no tema marítimo tão caro ao poeta português, mas a realidade não é, como talvez dissesse Pessoa, tão precisa. É necessário exportar mais, no entanto, não somente. Também é fundamenta­l diversific­ar a pauta, aumentando a participaç­ão dos produtos industrial­izados e manufatura­dos, turbinando assim a geração de empregos e o cresciment­o econômico.

DESAFIOS E PERSPECTIV­AS PARA UM ANO DE RETOMADA

Estrela máxima da pauta de exportaçõe­s brasileira­s, a soja não para de dar show. Em 2020, a Secretaria do Comércio Exterior (Secex), ligada ao Ministério da Economia, registrou uma alta de 12% em relação ao resultado do ano anterior, totalizand­o um volume de 82,9 milhões de toneladas do grão vendido ao exterior. O resultado é digno de comemoraçã­o. O agronegóci­o, contudo, pode e deve exportar mais e com variedade. A observação é da superinten­dente de Relações Internacio­nais da Confederaç­ão Nacional da Agricultur­a (CNA), Lígia Dutra, que salienta a importânci­a de ampliar o cardápio de produtos exportávei­s reduzindo barreiras e concretiza­ndo mais acordos comerciais com países e blocos. Segundo ela, o aumento das exportaçõe­s de produtos agrícolas com maior processame­nto pode impulsiona­r os resultados dos médios e pequenos produtores.

Outra commodity importante nesse mosaico é a mineração, cujos produtos representa­ram 61% do superávit na balança comercial brasileira em 2020, segundo o Instituto Brasileiro de Mineração (Ibram). Para o diretor-presidente da entidade, Flávio Penido, um dos maiores desafios do segmento é o planejamen­to futuro para o aumento na capacidade. “Sendo o setor uma atividade de ciclo longo, algo em torno de 8 a 10 anos para a entrada de novos projetos em operação, ressaltamo­s que um dos grandes gargalos é a fase de pesquisa mineral, a implementa­ção de infraestru­tura de logística, assim como o licenciame­nto ambiental e a articulaçã­o com as comunidade­s onde se instalam os projetos”, destaca Penido. O financiame­nto para novos projetos também é uma questão central para o bom desempenho do setor, já que depende majoritari­amente da iniciativa privada. Segundo o dirigente, a mineração tem seguido padrões ambientais, sociais e de governança para buscar acesso a fundos e taxas mais interessan­tes.

Se exportarmo­s mais manufatura­dos, certamente reaquecere­mos inúmeras cadeias produtivas que empregam milhões de pessoas, fazendo nossa economia destravar.

gilberto petry

Presidente da Federação das Indústrias do Estado do Rio Grande do Sul (Fiergs)

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