COMÉRCIO EXTERIOR
EMPRESAS DE VÁRIOS SETORES SE QUALIFICAM PARA DIVERSIFICAR A PAUTA DE EXPORTAÇÕES BRASILEIRAS
BALCÃO VIRADO PARA O MUNDO
Exportar é preciso. O trocadilho já enxovalhado com o místico verso de Fernando Pessoa pode ganhar, nesse tema, contornos rejuvenescidos, tendo em conta a importância do comércio exterior para o equilíbrio da economia brasileira. De acordo com dados da Secretaria Especial de Comércio Exterior e Assuntos Internacionais do Ministério da Economia, somente de janeiro a maio de 2021, o Brasil exportou o equivalente a US$ 109 bilhões, contra US$ 81,5 bilhões de importação. Na prática, a diferença entre compras e vendas internacionais deixaram até agora US$ 27,5 bilhões dentro das nossas fronteiras. É a balança comercial positiva, que impulsiona o tão desejado crescimento econômico. Segundo dados do Ministério da Economia, a média diária de exportações cresceu 46,5% em maio deste ano, em comparação com o mesmo período de 2020. Pelas previsões do Ministério, o superávit de 2021 deve fechar em alta de 75% em relação ao desempenho de 2020, um recorde na série histórica.
Em tempos de incertezas globais provocadas pela pandemia, o fortalecimento das exportações brasileiras se torna ainda mais imperioso. Em seu verso original, Pessoa dizia que navegar é preciso no sentido de necessidade, mas também com o significado de exatidão. Como no trocadilho, é necessário para o Brasil exportar. Mas as vendas internacionais também requerem precisão estratégica para que se diversifiquem e beneficiem mais setores e empresas.
Commodities agrícolas e minerais estão entre os campeões das exportações nacionais. Dados do Ministério da Economia demonstram que, no ano passado, a soja representou sozinha 15% de tudo o que o Brasil exportou, consolidando o país como o segundo maior produtor do mundo. Em segundo lugar, vem o minério de ferro, responsável por 12% do total exportado. Petróleo, celulose, milho, carne de frango e açúcar estão entre os 10 produtos mais importantes da pauta de exportações.
Segundo o mesmo ranking, a China é o principal destino das commodities e produtos brasileiros, tendo comprado US$ 70 bilhões do Brasil em 2020. Depois do país asiático, destacam-se como parceiros comerciais União Europeia, Estados Unidos e Argentina.
Mesmo com uma retração de quase 7% nas exportações em 2020, a balança comercial brasileira apresentou um saldo de mais de US$ 50 bilhões – diferença positiva, já que exportamos mais do que compramos de fora. Em 2021, a tendência segue animadora, com um crescimento de 25,6% em relação ao mesmo período do ano passado. Números maiúsculos como esses podem dar a ideia de navegação em águas tranquilas, para permanecermos no tema marítimo tão caro ao poeta português, mas a realidade não é, como talvez dissesse Pessoa, tão precisa. É necessário exportar mais, no entanto, não somente. Também é fundamental diversificar a pauta, aumentando a participação dos produtos industrializados e manufaturados, turbinando assim a geração de empregos e o crescimento econômico.
DESAFIOS E PERSPECTIVAS PARA UM ANO DE RETOMADA
Estrela máxima da pauta de exportações brasileiras, a soja não para de dar show. Em 2020, a Secretaria do Comércio Exterior (Secex), ligada ao Ministério da Economia, registrou uma alta de 12% em relação ao resultado do ano anterior, totalizando um volume de 82,9 milhões de toneladas do grão vendido ao exterior. O resultado é digno de comemoração. O agronegócio, contudo, pode e deve exportar mais e com variedade. A observação é da superintendente de Relações Internacionais da Confederação Nacional da Agricultura (CNA), Lígia Dutra, que salienta a importância de ampliar o cardápio de produtos exportáveis reduzindo barreiras e concretizando mais acordos comerciais com países e blocos. Segundo ela, o aumento das exportações de produtos agrícolas com maior processamento pode impulsionar os resultados dos médios e pequenos produtores.
Outra commodity importante nesse mosaico é a mineração, cujos produtos representaram 61% do superávit na balança comercial brasileira em 2020, segundo o Instituto Brasileiro de Mineração (Ibram). Para o diretor-presidente da entidade, Flávio Penido, um dos maiores desafios do segmento é o planejamento futuro para o aumento na capacidade. “Sendo o setor uma atividade de ciclo longo, algo em torno de 8 a 10 anos para a entrada de novos projetos em operação, ressaltamos que um dos grandes gargalos é a fase de pesquisa mineral, a implementação de infraestrutura de logística, assim como o licenciamento ambiental e a articulação com as comunidades onde se instalam os projetos”, destaca Penido. O financiamento para novos projetos também é uma questão central para o bom desempenho do setor, já que depende majoritariamente da iniciativa privada. Segundo o dirigente, a mineração tem seguido padrões ambientais, sociais e de governança para buscar acesso a fundos e taxas mais interessantes.
Se exportarmos mais manufaturados, certamente reaqueceremos inúmeras cadeias produtivas que empregam milhões de pessoas, fazendo nossa economia destravar.
gilberto petry
Presidente da Federação das Indústrias do Estado do Rio Grande do Sul (Fiergs)