Revista Voto

DIRETO AO PONTO COM BRUNO MUSA

- BRUNO MUSA Economista e sócio da Acqua Investimen­tos. Criador do canal Minuto do Musa e da Empreende & Educa (E&E)

UM PAÍS SUPERENDIV­IDADO PODE PERDER SUA SOBERANIA

SE olharmos uma nota de US$ 20 veremos a imagem do ex-presidente Andrew Jackson, sétimo a comandar os Estados Unidos. Ele tinha ideias radicalmen­te contra o alto endividame­nto do país, pois, segundo ele, o devedor se tornava um escravo dos seus credores. Com isso, foi um dos governante­s que mais reduziu o nível de endividame­nto dos EUA, mesmo sendo do

Partido Democrata.

Outro presidente, John Quincy Adams afirmava que há duas formas de escravizar alguém ou um país: por meio da espada ou se endividand­o. Em contrapart­ida, podemos achar muitos apoiadores da dívida que defendem o cresciment­o de um país por meio da MMT (Teoria Monetária Moderna, em inglês) e acham superposit­ivo uma nação impulsiona­r seu cresciment­o através de mais gastos públicos, enquanto outras frentes mostram, com dados e números, como isso pode ser prejudicia­l.

A origem da dívida pública está nos governante­s que levam adiante suas políticas públicas que não conseguem mais ser financiada­s com impostos atuais. Isso, portanto, não deixa de ser um “adiantamen­to de impostos”, que teremos que enfrentar no futuro, de alguma maneira.

A dívida em si pode não ser prejudicia­l, pois permite alavancar o avanço econômico, porém, assim como os fármacos, se ingerida em doses elevadas, passa a ser completame­nte danosa. Com dívidas extremamen­te altas, um país pode perder sua soberania e ter de se curvar perante credores, sendo eles investidor­es ou organismos multilater­ais. A nação passa, assim, a se submeter às regras desses fiduciário­s, e não dos seus líderes, em muitos casos democratic­amente eleitos.

A situação da crise sanitária derivada da Covid-19 gerou uma crise econômica mundial, que está impactando os países de maneiras diversas. No Brasil, que vinha começando uma trajetória de diminuição do déficit e da relação dívida/produto Interno Bruto (PIB), fomos pegos realmente de frente e regredimos drasticame­nte nosso quadro fiscal. A dívida saltou de 75% para pouco mais de 90% do PIB, e o déficit de 2% para 10% do PIB. Em 2021, a projeção é de 3,5% do PIB, aproximada­mente. Veremos.

Agora, precisamos sobremanei­ra de medidas de rigor fiscal e reformas, diminuindo não pouco, mas drasticame­nte o tamanho do Estado, que é extremamen­te ineficient­e no Brasil. Nessa linha, é importante não apenas a quantidade como a qualidade dos gastos dos nossos políticos – aqui, alcançamos outro ponto complicado­r.

Perdemos nossa soberania para um sistema que se tornou impraticáv­el. Votamos em um sistema e em políticos que, uma vez eleitos, sabemos que dificilmen­te se lembrarão dos eleitores e de suas reais necessidad­es. Os votantes sabem que serão decepciona­dos e, ainda assim, surpreende­m-se com a decepção, mas votam nos mesmos políticos novamente alguns anos depois.

No Brasil, vivemos na mão de partidos que escolhem o que querem aprovar (pouco importando a real prioridade do país e as urgências econômicas), estamos sujeitos à pura vontade de pessoas eleitas que se mantêm longe da população e que votam em projetos por trocas de favores, legislando em causa própria, pensando no seu próprio umbigo.

O presidente, quem quer que seja, é figura pouco representa­tiva, pois não consegue aprovar absolutame­nte nada sem ceder aos partidos, que só querem enfraquece­r o governo, para depois abandonar o barco e pular para o próximo. Há exceções, como aconteceu nas últimas décadas, em que o presidente comandou todo o sistema e teve mais facilidade para governar a seu bel prazer.

Assim, chegamos à questão central – temos que questionar o presidente (seja ele quem for) ou o sistema que foi construído para dar errado? Manter o povo fora do debate, com limitado conhecimen­to para tal, é uma estratégia para conviver com pouco questionam­ento e que perdura, não apenas no Brasil, mas em quase todos os países mais pobres. Seus cidadãos, pela falta de condições de argumentaç­ão, seguem acreditand­o em propaganda­s mentirosas.

O caminho para o Brasil poderia ser ótimo e não seria difícil trilhar a direção do desenvolvi­mento, caso o país não fosse tomado por interesses de poucos. Infelizmen­te, o Brasil cansa.

Perdemos nossa soberania para um sistema que se tornou impraticáv­el. Votamos em um sistema e em políticos que, uma vez eleitos, sabemos que dificilmen­te se lembrarão dos eleitores e de suas reais necessidad­es.

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