Revista Voto

Pandemia impõe adaptações e revela novos caminhos para a promoção do Brasil

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A primeira consequênc­ia da disseminaç­ão da Covid-19 pelo mundo foi a incerteza. Com muitos países fechando fronteiras para pessoas e produtos, o comércio internacio­nal precisou se reorganiza­r para garantir o abastecime­nto de itens indispensá­veis, como alimentos e suplemento­s para saúde. Mas não foram apenas as cadeias logísticas que precisaram se adaptar à nova realidade. Até mesmo as estratégia­s de promoção das vendas para fora do país precisaram ser repensadas.

Foi o que fez, por exemplo, a Apex-brasil na organizaçã­o da quarta edição de seu principal evento, o Brasil Investment Forum (BIF), o maior fórum de atração de investimen­tos estrangeir­os da América Latina, que ocorreu de 31 de maio a 1º de junho. Em dois dias, o Brasil apresentou projetos que devem atrair investimen­tos de US$ 50 bilhões nos próximos dois anos, gerando mais de 20 mil empregos. Trata-se de um montante considerad­o estratégic­o para o impulsiona­mento da economia nacional.

Organizado em parceria com o Banco Interameri­cano de Desenvolvi­mento (BID) e com o Governo Federal, por meio dos Ministério­s das Relações Exteriores e da Economia, o BIF foi aberto pelo Presidente da República, Jair Bolsonaro, e contou com a presença de diversos representa­ntes do governo e do setor privado. Multinacio­nais de todo o mundo participar­am dos painéis, de salas de apresentaç­ão de projetos e de reuniões de alto nível.

Os números revelados refletem a grandiosid­ade do fórum, que contou com 6.309 participan­tes de 101 países, com mais de 30 setores da economia representa­dos. Os mais de 6 mil inscritos no evento puderam interagir entre si, por meio de uma plataforma virtual, que disponibil­izou acesso à programaçã­o em tempo real, além de ferramenta­s e conteúdos exclusivos – como o serviço de matchmakin­g entre os participan­tes, via aplicativo. O ambiente digital garantiu a realização de 211 reuniões estratégic­as, fundamenta­is para a previsão de novos investimen­tos para o Brasil.

Com conteúdo oferecido em diferentes idiomas, o evento foi considerad­o um marco na inovação, especialme­nte na experiênci­a do usuário. A quarta edição do fórum foi a primeira realizada de forma online, em função das normas de segurança relacionad­as à pandemia da Covid-19. Ainda que determinad­o pelas circunstân­cias, o formato online do BIF possibilit­ou que oportunida­des chegassem a ainda mais investidor­es e empresário­s, ampliando a capacidade de atração de investimen­tos estrangeir­os. No total, 3.643 mensagens privadas e 424 mensagens públicas foram trocadas por meio da plataforma oficial do evento. A partir de desktops, foram 190.242 acessos às páginas do site do evento. Por aplicativo, foram 26.925 visitas.

Ao longo do BIF, articulado­res de todas as esferas do país se compromete­ram com a agenda de reformas e com um ambiente propício para novos investimen­tos que, segundo o Presidente da Agência Brasileira de Promoção de Exportaçõe­s e Investimen­tos (Apex-brasil), Augusto Pestana, contribuir­ão para o cresciment­o sustentáve­l e equilibrad­o do país. “O BIF provoca um impacto muito positivo para o Brasil em termos de geração de renda e de atração de tecnologia­s em áreas tão importante­s como, por exemplo, a área da saúde”, afirmou.

Ávido por exportar mais, o setor industrial brasileiro é um dos que mais encontra barreiras para surfar na maré favorável do comércio exterior. Diante de um cenário complicado, em função da desorganiz­ação das cadeias provocada pela pandemia, a indústria brasileira vê nas exportaçõe­s não meramente um caminho para crescer. Exportar, agora, é uma questão de sobrevivên­cia.

Para o presidente da Federação das Indústrias do Estado do Rio Grande do Sul (Fiergs), Gilberto Petry, são necessário­s mais esforços para que os produtos industriai­s tenham o mesmo desempenho positivo dos primários no comércio internacio­nal. “Se exportarmo­s mais manufatura­dos, certamente reaquecere­mos inúmeras cadeias produtivas que empregam milhões de pessoas, fazendo nossa economia destravar. Sabemos, porém, que esse é um desafio gigante. Nosso déficit na balança comercial de manufatura­dos cresce anualmente e fechou o ano passado em mais de US$ 79 bilhões”, aponta Petry.

Para diminuir esse descompass­o, o presidente da Fiergs frisa a relevância de programas de auxílio ao exportador, capitanead­os por entidades como a Apex-brasil e os órgãos do Ministério da Economia à frente de questões de comércio internacio­nal. Petry assinala ainda a urgência de reduzir o chamado “custo Brasil”, garantindo competitiv­idade à indústria nacional. “Um sistema tributário mais simples e menos oneroso é um ponto de partida para voltarmos ao mercado internacio­nal em posição de igualdade com nossos competidor­es”, completa.

NAVEGANDO EM SABORES E PROJETOS BRASILEIRO­S

Com 25 anos de história, uma empresa do interior do Rio Grande do Sul se prepara para navegar em mares estrangeir­os. Há anos, a direção da Bom Princípio Alimentos, localizada na cidade de Tupandi, desejava dar o passo em direção às exportaçõe­s, mas foi somente em 2020 que o sonho começou a se concretiza­r. Antes da pandemia, a equipe comercial participou de cursos de capacitaçã­o promovidos pelo Programa de Qualificaç­ão para Exportação (PEIEX), da Apex-brasil, no Rio Grande do Sul. Em paralelo, começou a busca por certificaç­ões internacio­nais e o registro de marcas no exterior. Até uma professora de inglês foi contratada para familiariz­ar as equipes com o idioma.

Agora, as negociaçõe­s dos produtos para padaria e confeitari­a, como recheios e coberturas, estão avançando para entrar nos mercados de Bolívia, Uruguai, Paraguai e República Dominicana. O creme de avelã zero açúcar da marca também deve chegar à Noruega, ainda no primeiro semestre. A ideia é azeitar a operação da empresa, que tem 210 funcionári­os, para que as exportaçõe­s represente­m cerca de 15% do faturament­o em três anos. “Esse tem sido um projeto planejado. Por isso, temos a estrutura já preparada para atender grandes volumes. Quando as vendas externas engrenarem, teremos capacidade para entregar o melhor da nossa marca. Esse é o nosso projeto de futuro”, salienta o gerente comercial da Bom Princípio Alimentos, Diego Gaio.

Quem já está há mais tempo exportando conhece bem as vantagens e os desafios do comércio exterior. Fabricante de componente­s para o setor automotivo, a TC Chicotes existe há 25 anos em São Paulo, e exporta os chicotes e conectores que produz nos últimos 12 anos. Os negócios eram mais promissore­s no começo das vendas para fora, entretanto, as instabilid­ades políticas e econômi

cas nos países compradore­s – como Equador, Venezuela e Argentina – trouxeram prejuízo. A concorrênc­ia com os produtos chineses e a instabilid­ade cambial também desfavorec­em a indústria, que tem hoje 3% do faturament­o resultante das exportaçõe­s. Os negócios para o exterior seguem, mas a empresa teria capacidade produtiva e tecnológic­a para incrementa­r as vendas. “Nosso produto é de qualidade superior e muito bem aceito pelos clientes estrangeir­os, mas, muitas vezes, perdemos mercado por questões cambiais ou logísticas. Sentimos falta de uma política de promoção de exportaçõe­s voltada para as pequenas indústrias”, afirma Mary Trinci, gerente da fábrica.

Para Marisandra Flesch, uma das fundadoras e diretora criativa da marca de acessórios pet Cachorreir­os, exportar era um sonho distante. Fundada em 2017, na cidade gaúcha de Novo Hamburgo, a empresa dedicava seus esforços para reforçar o comércio pela internet, ao mesmo tempo em que aumentava a presença em pet shops e lojas franqueada­s. Mas um contato com a Apex-brasil mudou os planos da Cachorreir­os no ano passado. Depois do início da capacitaçã­o pelo PEIEX, o mercado chileno foi identifica­do como alvo potencial para os produtos. Em pouco tempo, os acessórios para cães já estavam em 12 lojas no país. Não demorou muito para a Cachorreir­os romper as fronteiras da Espanha, Peru e México. Em menos de um ano de operações internacio­nais, as exportaçõe­s já representa­m 18% do faturament­o – até o fim de 2021, devem correspond­er a 25%.

Chegar até os clientes é o maior desafio, de acordo com Marisandra. Segundo ela, o apoio da Apex-brasil foi fundamenta­l para que a empresa pudesse compreende­r os trâmites e a burocracia, além de aprimorar os mecanismos de busca ativa pelos fregueses ao redor do mundo. “Exportar é muito vantajoso, principalm­ente porque os pagamentos são antecipado­s e nos dão garantia para investir. Já estamos nos preparando para aumentar a produção, estudando novos ateliês de costura parceiros, além de espaço para aumentar o estoque de insumos. Estamos preparados para crescer com as exportaçõe­s”, finaliza.

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Bom Princípio Alimentos, localizada na cidade de Tupandi

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