Revista Voto

Sonhos de Pedra

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Uma das maiores obras da engenharia marítima, só rivalizand­o com a abertura do Canal do Panamá, ganha um livro à altura. Ao longo de 240 páginas, o jornalista Klécio Santos retrata a epopeia que foi a construção dos molhes em Rio Grande (RS), que começou a ganhar impulso em 1883, com a chegada do engenheiro Honório Bicalho, e só foi concluída cerca de três décadas depois. Em 1º de março de 1915, o navio-escola Benjamin Constant cruzava rumo ao novo porto de Rio Grande. Era o fim de uma longa jornada que culminou num sonho em forma de dois braços de pedra, em um dos locais mais inóspitos do Brasil. Da região de Capão do Leão e Monte Bonito, em Pelotas, saíram as pedras da construção, um inferno a céu aberto, que merece um capítulo à parte.

O gigantismo da obra é medido pelos personagen­s envolvidos, como o ex-senador Ramiro Barcellos que, após dois mandatos, assumiu como coordenado­r das obras de construção da Barra do Rio Grande – anos depois, ganhou fama ao escrever o poemeto campestre sobre o anti-herói Antônio Chimango (na verdade, Borges de Medeiros), sob o pseudônimo de Amaro Juvenal.

Figuras de proa da engenharia mundial desembarca­ram em Rio Grande, como John Hawkshaw – amigo de Charles Darwin e hoje nome de um pub em Londres –, o primeiro a considerar a construção dos molhes, ou “quebra-mares”, uma alternativ­a para solucionar o tráfego marítimo em Rio Grande. Boa parte do dinheiro investido veio de Percival Farquhar, magnata cujos tentáculos se estendiam de Norte a Sul. A partir de então, a operação ganhou uma grife: o norte-americano Elmer Lawrence Corthell, celebridad­e mundial da engenharia hidráulica.

Sonhos de Pedra (Stone Dreams) levou três anos de pesquisas e é rico em iconografi­a, com mapas, cartões-postais e documentos raros, além de relatos de viajantes. A edição – da Cabrion, selo criado por Santos e pelo designer Valder Valeirão em homenagem à antiga Folha Ilustrada, que mesclava literatura e sátira social no século 19 – é bilíngue, com tradução de Adriano Migliavacc­a. O patrocínio é da Celulose Riogranden­se (CMPC), com apoio dos Práticos da Barra do Rio Grande.

O livro está à venda no site da Livraria Vanguarda (www.livrariava­nguarda.com.br).

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