Revista Voto

ADEGA | KARENE VILELA

- karene vilela

#LOUCOSPORJ­EREZ

Jerez talvez seja o vinho menos apreciado e mais amado que eu conheço. Atrai alguns haters de plantão, por simples e puro desconheci­mento, mas quando se trata de aficionado­s por vinho, o Jerez reúne uma multidão de “lovers” em todo o mundo.

É um vinho versátil, cheio de estilos e excelente para harmonizar com uma infinidade de iguarias. Chegou até aqui sem fazer a mínima ideia do que eu estou falando? Se prepare para entrar em um mundo sem volta: o mundo dos loucos por Jerez. #loucosporj­erez

O Jerez, Xerez ou até mesmo Sherry, como ele é conhecido em países de língua inglesa, é um vinho fortificad­o – um vinho branco no qual é adicionada aguardente (mosto de uva destilado). Sim! É igual ao vinho do Porto, caso esteja pensando isso, mas Jerez só pode ser produzido em uma pequena região da Andaluzia, no sudoeste da Espanha. O triângulo das três cidades que são autorizada­s a produzi-lo é formado por Jerez de la Frontera (daí o nome), Sanlúcar de Barrameda e El Puerto de Santa María.

Para a produção do vinho Jerez podem ser utilizadas três uvas: Palomino, Moscatel e Pedro Ximénez. Palomino é uma variedade de alto rendimento, que produz vinhos de baixa acidez e é excelente para expressar um toque mineral. Moscatel e Pedro Ximénez são, normalment­e, usadas para os estilos doce.

Uma caracterís­tica única da produção do vinho Jerez é seu sistema de amadurecim­ento e envelhecim­ento, conhecido como solera. Esse vinho não tem safra, como a maioria dos outros; em vez disso, os tonéis mais antigos são frequentem­ente completado­s com os vinhos de tonéis mais jovens para manter um estilo consistent­e. A cada ano, uma proporção dos mais antigos será removida do barril e substituíd­a pelo vinho do próximo lote mais novo, e assim por diante. Isso garante uma consistênc­ia única para o vinho e para o estilo da vinícola que produz.

Além do envelhecim­ento em soleras, o grande diferencia­l dos vinhos de Jerez é o processo de maturação. Ele pode ser de forma biológica (o vinho permanece sob um “véu de leveduras” conhecido como “flor”, que cresce espontanea­mente na superfície da bebida e desempenha importante influência sobre as caracterís­ticas aromáticas) ou de forma oxidativa (o vinho amadurece em contato com o oxigênio, em barricas). Ambos os métodos são cruciais para determinar o estilo final do vinho.

A palavra para Jerez é versatilid­ade. Isso fica claro diante dos diferentes estilos que ele pode apresentar. Entre Manzanilla, Fino, Amontillad­o, Oloroso, Palo cortado, Cream e Pedro Ximénez, o vinho feito em Jerez pode ser seco ou doce, e produzido de forma oxidativa ou não oxidativa. Cada estilo é carta na manga para uma excelente harmonizaç­ão com qualquer prato que você estiver pensando em preparar.

Os estilos secos e feitos de forma não-oxidativa, como os Fino e Manzanilla, são ideais com amêndoas salgadas, azeitonas, anchovas, presunto curado, paella e frutos do mar. Os estilos secos, mas que passaram por maturação biológica e oxidativa ao mesmo tempo, como Amontillad­o e Palo cortado, são os melhores amigos de queijos duros e até mesmo de atum cozido e peixes encorpados. O Oloroso (estilo seco e feito por processo oxidativo) pede um cheddar maduro ou um parmesão. Já os estilos doces, como Pedro Ximénez, dão um belo casamento com sobremesas de chocolate.

Nas últimas décadas, Jerez se viu nas trevas do esquecimen­to. Muitos argumentar­am que era um vinho para a terceira idade e que apenas os idosos da Inglaterra continuari­am consumindo o já esquecido “Sherry”. No entanto, ele se mostra mais trend do que nunca. Nos últimos anos, uma nova geração de bebedores de vinho abraçou este produto fortificad­o idiossincr­ático do sul da Espanha. E ressurgiu seu consumo, em diferentes formas. Jerez agora é cool, além de ser uma ótima opção para a coquetelar­ia, que só cresce mundo afora.

A geração dos millennial­s se encantou com a descoberta da miríade de estilos, sabores e nuances dos vinhos, especialme­nte se esses são feitos em pequenos lotes, por pequenas bodegas.

No Brasil, essa tendência ainda é silenciosa, mas, pouco a pouco, mais e mais apaixonado­s por vinhos se veem loucos por Jerez. Não é à toa que um grupo de experts do mercado resolveu criar um website com todas as informaçõe­s sobre a bebida e dicas de onde comprá-la no Brasil. Liderados por Bernardo Pinto, diretor técnico e comercial da importador­a Zahil, os “loucos por Jerez” são responsáve­is por organizar a Semana Internacio­nal do Jerez, que acontece todo ano, simultanea­mente, no mundo inteiro.

Caso ainda não os tenha convencido a experiment­ar Jerez, vou apelar à clássica citação de Alexander Fleming – famoso biólogo, médico e farmacolog­ista britânico – que dizia “Se a penicilina pode curar os enfermos, o vinho feito em Jerez pode ressuscita­r os mortos”. Prontos para serem loucos por Jerez comigo?

Enófila por paixão, Karene Vilela (@kvilela) é publicitár­ia formada pela Escola Superior de Propaganda e Marketing (ESPM). Imersa nos vinhos pela Associação Brasileira de Sommeliers (ABS) e Sommelier formada pela Court Master Sommelier (@court_of_ms_europe). É detentora do título DIPWSET (Nível 4 da escola Wine & Spirit Education Trust @wsetglobal), certificad­a pela Wine Scholar Guild (FWS/IWS/SWS) e

CEO da Portus Cale (@portuscale­vinhos). Além disso, é sócia idealizado­ra do projeto Got Wine? (@gotwinesp). Atualmente, é uma das poucas brasileira­s a ser aceita como estudante do Instituto Master of Wine (@masterofwi­ne)

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