Sacrifício de muitos para benefício de poucos
JÁ
falei em outras colunas nessa mesma revista sobre o anarcocapitalismo e suas principais vertentes de estudo. Também foi mencionado que esta tese não está aí para propor perfeição ou solução de todos os problemas, mas sim uma maneira diferente de pensar e estruturar sociedades e países, em busca de maior eficiência a menor custo.
Não vou me aprofundar aqui neste texto sobre isso, mas os dois pilares básicos são da ética libertária: um é que não podemos iniciar qualquer tipo de agressão para com o próximo (apenas se alguém a iniciar antes), e o outro é que toda sociedade e Estado são formados por pessoas no poder, e como todo e qualquer ser humano, sempre vão buscar o que é melhor para si antes de tudo. Por isso, quanto mais descentralizado um poder estatal, melhor será a vida das pessoas naquele local.
Dito isso, pensemos um pouco sobre esse triste episódio da guerra entre Rússia e Ucrânia que estamos vivendo em pleno ano de 2022, com pessoas morrendo sem ao menos apoiar uma ou outra causa. Crianças, idosos, mulheres e homens tendo que abandonar seu país, deixando para trás uma vida construída ao longo de anos. E para quê?
É sempre o poder que guia a cabeça dos políticos, ainda mais quando se trata de ditadores que não medem esforços para buscar seus fins.
Ocorre que a guerra não é um meio para alcançar um fim, mas sim um fim em si mesmo.
Além da tristeza pelo lado humanitário, temos a situação econômica de praticamente todos os países no mundo que sofrerão com as consequências desse brutal evento. As sanções econômicas impostas à Rússia deixam a economia do país em frangalhos. Não me espantaria o PIB cair entre 20% e 30%. As reservas internacionais, por volta de US$ 630 bilhões, estão praticamente todas congeladas. Empresas privadas parando de prestar serviços na Rússia, juros que subiram de 9% para 20% e uma moeda desvalorizada que leva à maior inflação. Crise na certa.
No restante do mundo, provavelmente sentiremos com mais inflação, uma vez que Rússia e Ucrânia são produtores e exportadores de produtos que consumimos no mundo todo
A guerra é sacrifício de muitos para benefício de pouquíssimos, e estes poucos são sempre do governo ou próximos a eles, que buscam o melhor para si e o poder em si mesmo.
– como petróleo, trigo, milho e gás. Sem falar dos fertilizantes que o Brasil importa de lá e usamos para o agronegócio, responsável por mais de 20% do nosso PIB. Quanto mais tempo demorar, mais a cadeia de fornecimentos será afetada, preços de commodities ficarão nas máximas e haverá mais inflação.
O que quero mostrar aqui é que a guerra não tem sentido para nenhum dos lados. A maioria dos russos não apoia as ações realizadas pelo presidente daquele país. O ser humano no geral é pacífico e, em sua maioria, não busca a guerra. Não podemos generalizar a atitude tomada por Vladimir Putin, acreditando que todos os russos estão de acordo.
A guerra é muito cara e dilacera uma economia. Imaginem se uma empresa tivesse que entrar em guerra e gastar seu caixa para, ao invés de produzir seus bens e serviços, realizar um evento dessa proporção. É bem provável que essa empresa iria à falência.
Por isso, comecei o texto falando sobre o pilar importante do anarcocapitalismo pelo qual a violência não pode ser iniciada, e a importância da descentralização, com absolutamente tudo privado (inclusive o governo) – o que levaria a muito menos interesse em guerrear. Afinal de contas, esses governos privados também iriam à falência.
As economias se recuperam, demoram muito, mas, com bastante trabalho e tempo, voltam a patamares anteriores à guerra. Porém, se elas não existissem ou fossem evitadas ao máximo, teríamos economias muito mais evoluídas, desenvolvidas, e menos pessoas sofrendo e caindo em narrativas mentirosas de políticos e governos.
Podemos ter uma certeza: a guerra é sacrifício de muitos para benefício de pouquíssimos, e estes poucos são sempre do governo ou próximos a eles, que buscam o melhor para si e o poder em si mesmo. Apenas isso.
Alguma relação com os governos no geral? Narrativas mentirosas, com o sacrifício de muitos, para poucos viverem bem.
Assim são os Estados, governos e burocratas que, diariamente, atuam com violência em nossas vidas, nos obrigando a muitas ações que sequer gostaríamos de fazer, mas somos literalmente obrigados. Não temos opção.
A guerra é exatamente a mesma coisa.