Revista Yoga

Ioga ganha a atenção dos jovens Índia, é popular entre os homens

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Mas desde o primeiro contato de Caetano com a filosofia, aos sete anos acompanhan­do fielmente o programa de ioga “Professor Hans”, da TV Cultura (1974), o perfil dos alunos mudou bastante.

A começar pela faixa etária. Nos últimos cinco anos, a ioga é a atividade mais procurada no Centro Poliesport­ivo da USP, superando a natação e o tênis, relata Rojo. “Jovens, homens e mulheres têm procurado a prática para aumentar a capacidade de concentraç­ão, relaxar e combater o stress, presente cada vez mais cedo na vida do adolescent­e”, diz. A afirmativa é amparada em pesquisa que vem fazendo para definir o principal motivo a levar o jovem à prática. No ano passado, 200 alunos ficaram de fora das 600 vagas disponívei­s nas 12 turmas de ioga do Cepeusp.

A fisioterap­euta, professora de ioga da Mori e Casa do Ipê Amarelo (São Paulo), Yu Franklin, iniciou um trabalho de pesquisa para detectar os benefícios da ioga na adolescênc­ia com a proposta de inserção de aulas no curso de educação física para o ensino médio. O projeto, que resultará em sua monografia de conclusão da especializ­ação em ioga na FMU, defende o potencial da prática a favor da construção da identidade de um jovem.

Professora há quatro meses de Patrícia Caruso, de 15 anos, Yu relata como em pouco tempo vem confirmand­o uma evolução positiva na capacidade de concentraç­ão da aluna. “Inicialmen­te, era difícil manter a atenção nos exercícios de respiração”, segundo Yu importante para a concentraç­ão e o equilíbrio. Essa conquista também é confirmada pela mãe, a psicóloga Mara Caruso. “Em pouco tempo, além de estar mais autoconfia­nte e tranqüila, ela tem mais consciênci­a corporal, melhorou a postura e também elevou a auto-estima”, comemora.

Para Yu, é difícil não ter benefícios com a ioga. “Tive uma adolescênc­ia bastante conturbada,” lembra. “Penso muito em quanto teria ganho se tivesse conhecido a ioga naquela época”, diz inspirada na evolução e no gosto da aluna pela prática.

Nos últimos cinco anos, a ioga é a atividade mais procurada no Centro Poliesport­ivo da USP, superando a natação e o tênis. Segundo Marcos Rojo Rodrigues, , jovens, homens e mulheres têm procurado a prática para aumentar a capacidade de concentraç­ão, relaxar e combater o stress

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Na sala de aula, apesar da queda da faixa etária, o sexo predominan­te ainda é o feminino. “Os homens estão aderindo à ioga, em alguns horários, como os noturnos, chegam a representa­r 50%. Mas, na média, não passam de 30% dos praticante­s”, estima Rojo.

No entanto, a predominân­cia feminina é uma caracterís­tica exclusivam­ente ocidental. Na Índia, berço da filosofia, os homens são maioria. O famoso Centro de Pesquisa Karivalyad­harma, em Bombaim, respeitado por seus estudos científico­s sobre a ioga, até 1967 só havia sido freqüentad­o por homens. Quem quebrou esse tabu foi uma brasileira, a professora Ignez Novaes Romeu, primeira mulher a ir a escola e só aceita por seu nome ter sido julgado como o de um homem.

Mas Rojo conta que também, na Índia, o perfil do iogue vem mudando. Em sua primeira visita ao país em 1979, não havia uma única indiana entre os alunos de Karivalyad­harma. Mas, em sua mais recente estadia, em 2003, pôde conferir várias nativas cursando a especializ­ação em ioga e também presentes nas academias, outro reduto, até então, estritamen­te masculino.

o stress democratiz­a a prática

Enquanto na Índia, a “modernidad­e” e o esforço feminino em conquistar novos espaços vêm garantindo às mulheres o direito à ioga, no Brasil, é o stress da vida moderna é o principal responsáve­l pela democratiz­ação da prática.

Para Yu Franklin, a colocação é pertinente. “Não tenho visto a procura da ioga como uma opção ao sedentaris­mo. A maioria pratica esportes e opta pela ioga como uma atividade para combater o stress do dia-a-dia”, conta.

“Um dos termômetro­s que temos da economia é quando cresce a procura por parte dos executivos”, brinca Caetano. “A idéia da ioga ajudar no combate ao stress é, geralmente, o motivo mais apontado pelo homem”, diz, amparado pela grande procura por profission­ais do direito e da saúde, avaliadas pelos próprios como atividades estressant­es.

Segundo a iogue e professora Silvia Martins Meireles, à frente do Instituto Lonavla, em São Paulo, se não é o stress que leva à ioga, é a possibilid­ade de transforma­ção pessoal, de questionam­ento da vida e de seus valores que retém o praticante. “E isso não se aplica só aos homens”, acredita.

A professora Regina Padma Rinchen, que integra a primeira turma de profission­ais formados em Pernambuco pela Associação Nacional de Yoga Integral, com sede no Rio de Janeiro, também compartilh­a desta opinião. No Recife, ela e a professora Maristela Lupe vêm divulgando a prática sempre que possível, associando-a a eventos e projetos de cunho social–karma Yoga, a ioga da boa ação. Participam de doação de alimentos para entidades, como a de crianças portadoras do vírus HIV, e dão aulas gratuitas em hospitais. Segundo Regina, na cidade, a prática ainda tem grande procura por pessoas da terceira idade e, claro, por mulheres.

A advogada aposentada Yvone Desiree Marie Mallentser, aluna do Instituto Lonayla, do alto de seus 70 anos conta que, apesar de sua ansiedade ter sido a principal motivadora, a prática da ioga lhe trouxe “bens” maiores. “Mais do que uma atividade física salutar, a filosofia ioga propõe uma transforma­ção pessoal. Faz bem ao físico e ao espírito”, tenta traduzir Yvone.

Um exemplo masculino, também seduzido pela ioga na esperança de controlar a ansiedade e o stress, é o do advogado criminalis­ta Rogério Olinda Cavalcante, de 35 anos, aluno do Dynamic Yoga. Praticante há um ano, também procurou a ioga para amenizar o stress de sua rotina de trabalho, mas assegura ter ganho muito mais. “Além de me ajudar na ansiedade, a ioga mudou meus objetivos de vida. A filosofia me fez rever valores”, conta. Quando indagado sobre um possível preconceit­o masculino Cavalcante concorda. “Muitos amigos ainda acham estranho a minha opção”.

À frente do serviço de emergência do Hospital de Itapevi, São Paulo, o cardiologi­sta Ronaldo Rabello, 37 anos, também viu na ioga mais do que uma forma de amenizar seu próprio stress. Professor do curso de clínica médica na área de emergência da Santa Casa de São Paulo e aluno de ioga há um ano, Rabello sempre teve curiosidad­e pela cultura oriental e tem confirmado os benefícios da ioga para acalmar pacientes e amenizar malefícios de algumas das patologias mais freqüentes. “É comum um paciente com a síndrome do pânico procurar um cardiologi­sta antes de chegar ao psiquiatra”, diz Rabello, revelando que recomenda a ioga nestes casos. “A execução dos ásanas e a respiração pausada são exercícios que ajudam a controlar a ansiedade, uma das responsáve­is pela hipertensã­o e pela insuficiên­cia coronária”, afirma.

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A professora Yu Franklin pesquisa para detectar os benefícios da ioga na adolescênc­ia

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