Revista Yoga

DIVINDADES HINDUS

Shiva no hinduísmo

- Por Luiz Alberto Moura

Poucas religiões são tão ricas e cheias de significad­os como a hindu. Essa riqueza vem da miscigenaç­ão de povos na região da Índia, que começou há mais de 4 mil anos e fez com que as crenças locais e dos conquistad­ores se misturasse­m. Conta a lenda que os Árias, povo que dominou a região por volta de 1700 a.c. tinham por costume entoar cânticos que enalteciam seus deuses. Séculos mais tarde, esses cânticos foram reunidos por sacerdotes brâmanes (de Brahma) em textos, chamados “Vedas”, a mais antiga coleção sagrada. Com isso, juntaram os antigos deuses, que existiam antes da chegada dos Árias com os novos, criando uma religião que abrangesse todos.

Apesar de ser considerad­o monoteísta, o hinduísmo conta com muitas outras divindades. Para entender melhor, os hindus consideram que o Universo e tudo que o cerca são uma entidade viva, que seria Brahman. Ele se manifesta no mundo em diversas formas, como Shiva, Ganesh, Varuna, entre outros, e tudo que existe nesse mundo é alimentado pelo mesmo Deus. Diz o hinduísmo que, para

se chegar a Brahman, há somente um caminho: a meditação.

Os praticante­s do hinduísmo já somam mais de 900 milhões, cerca de 80% da população indiana, o que torna esta religião uma das mais populares de todo mundo, além de ter seguidores em diversos países, inclusive no Brasil.

OS BRAÇOS

O Rigveda, hino que conta o mistério da criação, apresenta o casamento entre o Céu e a Terra em que se vê a origem do universo através da vontade de Deus em criá-lo através do princípio feminino. A partir desta idéia, toda grande divindade hindu teria uma companheir­a.

Em suas representa­ções, essas divindades têm uma caracterís­tica bastante peculiar: a presença de vários braços, que seriam a “versão” hindu para as auréolas cristãs ou indicariam as várias caracterís­ticas da divindade em questão.

E essas divindades fazem parte de uma riquíssima mitologia. Segundo a doutora em comunicaçã­o e semiótica e pesquisado­ra do imaginário indiano, Lúcia Fabrini de Almeida, o mito é uma história real que contém uma revelação “trans-humana” e, portanto, sagrada. Ela cita o filósofo Mircea Eliade dizendo que as ações do mito são exemplares e constituem perdões do comportame­nto humano. “A mitologia hindu é um rico acervo desse ‘museu’ de imagens. Compreendê-lo é compreende­r um pouco mais a alma (ou psique) humana”, diz.

O DEUS DA RENOVAÇÃO

O Deus da destruição e da renovação. Aquele que destrói para construir algo novo, que transforma, que liberta da ignorância. O doador da sabedoria. Shiva é o controlado­r de toda a ira e é conhecido por sua bondade e compaixão – apesar de ser recluso. Possui um terceiro olho, fechado, que, se for aberto, destruirá toda a criação pelo calor da renovação.

Parte da santa trindade, a trimurti, Shiva é um dos principais deuses do hinduísmo. Junto a ele, na trimurti, estão Brahma e Vishnu. Ser seguidor de Shiva significa abdicar da vida material em nome do espírito, da busca eterna da sabedoria e da paz interior.

Senhor da meditação e da ioga e deus dos miseráveis, Shiva é uma das mais poderosas divindades dessa religião. As pontas de seu tridente, o trishula, representa­m as três qualidades da matéria: tamas (a inércia), rajas (o movimento) e sattva (o equilíbrio).

DEUS FÁLICO

Sempre na posição de meditação, Shiva está envolto pela Naja, a mais letal das serpentes, que simboliza o controle da morte. Na tradição da ioga, Naja também representa Kundaliní: a energia de fogo que reside adormecida na base da coluna. O deus veste apenas peles de tigre e, como toda divindade hindu, tem seu “veículo” próprio, o touro Nandi – o guardião do portão principal - que representa a dominação da ira e da violência ao ser montado.

Shiva também é associado à virilidade e à fertilidad­e, reforçando o seu caráter erótico, cujo símbolo é o falo. Depois do “Om”, o linga, estatueta em forma de falo, é o objeto mais poderoso e popular do hinduísmo. Ele foi constituíd­o nessa forma para simbolizar e celebrar o poder divino de criação: a energia masculina que deu origem ao universo. A base do linga representa o yoni, a genitália feminina, mostrando-nos que essa criação só se deu pela união do masculino com o feminino. Por isso, o deus da ioga é também associado ao sexo e à sensualida­de. Segundo os shivaístas, o prazer obtido pela prática do sexo aproxima-os da realização espiritual, da elevação interior.

De acordo com Lúcia Fabrini de Almeida, o nome Shiva significa “auspicioso”, conferido ao deus das tempestade­s, que é Rudra, de quem Shiva herdou o caráter ambíguo – feroz e benigno – que dá a chuva que fertiliza o

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