DIVINDADES HINDUS
Shiva no hinduísmo
Poucas religiões são tão ricas e cheias de significados como a hindu. Essa riqueza vem da miscigenação de povos na região da Índia, que começou há mais de 4 mil anos e fez com que as crenças locais e dos conquistadores se misturassem. Conta a lenda que os Árias, povo que dominou a região por volta de 1700 a.c. tinham por costume entoar cânticos que enalteciam seus deuses. Séculos mais tarde, esses cânticos foram reunidos por sacerdotes brâmanes (de Brahma) em textos, chamados “Vedas”, a mais antiga coleção sagrada. Com isso, juntaram os antigos deuses, que existiam antes da chegada dos Árias com os novos, criando uma religião que abrangesse todos.
Apesar de ser considerado monoteísta, o hinduísmo conta com muitas outras divindades. Para entender melhor, os hindus consideram que o Universo e tudo que o cerca são uma entidade viva, que seria Brahman. Ele se manifesta no mundo em diversas formas, como Shiva, Ganesh, Varuna, entre outros, e tudo que existe nesse mundo é alimentado pelo mesmo Deus. Diz o hinduísmo que, para
se chegar a Brahman, há somente um caminho: a meditação.
Os praticantes do hinduísmo já somam mais de 900 milhões, cerca de 80% da população indiana, o que torna esta religião uma das mais populares de todo mundo, além de ter seguidores em diversos países, inclusive no Brasil.
OS BRAÇOS
O Rigveda, hino que conta o mistério da criação, apresenta o casamento entre o Céu e a Terra em que se vê a origem do universo através da vontade de Deus em criá-lo através do princípio feminino. A partir desta idéia, toda grande divindade hindu teria uma companheira.
Em suas representações, essas divindades têm uma característica bastante peculiar: a presença de vários braços, que seriam a “versão” hindu para as auréolas cristãs ou indicariam as várias características da divindade em questão.
E essas divindades fazem parte de uma riquíssima mitologia. Segundo a doutora em comunicação e semiótica e pesquisadora do imaginário indiano, Lúcia Fabrini de Almeida, o mito é uma história real que contém uma revelação “trans-humana” e, portanto, sagrada. Ela cita o filósofo Mircea Eliade dizendo que as ações do mito são exemplares e constituem perdões do comportamento humano. “A mitologia hindu é um rico acervo desse ‘museu’ de imagens. Compreendê-lo é compreender um pouco mais a alma (ou psique) humana”, diz.
O DEUS DA RENOVAÇÃO
O Deus da destruição e da renovação. Aquele que destrói para construir algo novo, que transforma, que liberta da ignorância. O doador da sabedoria. Shiva é o controlador de toda a ira e é conhecido por sua bondade e compaixão – apesar de ser recluso. Possui um terceiro olho, fechado, que, se for aberto, destruirá toda a criação pelo calor da renovação.
Parte da santa trindade, a trimurti, Shiva é um dos principais deuses do hinduísmo. Junto a ele, na trimurti, estão Brahma e Vishnu. Ser seguidor de Shiva significa abdicar da vida material em nome do espírito, da busca eterna da sabedoria e da paz interior.
Senhor da meditação e da ioga e deus dos miseráveis, Shiva é uma das mais poderosas divindades dessa religião. As pontas de seu tridente, o trishula, representam as três qualidades da matéria: tamas (a inércia), rajas (o movimento) e sattva (o equilíbrio).
DEUS FÁLICO
Sempre na posição de meditação, Shiva está envolto pela Naja, a mais letal das serpentes, que simboliza o controle da morte. Na tradição da ioga, Naja também representa Kundaliní: a energia de fogo que reside adormecida na base da coluna. O deus veste apenas peles de tigre e, como toda divindade hindu, tem seu “veículo” próprio, o touro Nandi – o guardião do portão principal - que representa a dominação da ira e da violência ao ser montado.
Shiva também é associado à virilidade e à fertilidade, reforçando o seu caráter erótico, cujo símbolo é o falo. Depois do “Om”, o linga, estatueta em forma de falo, é o objeto mais poderoso e popular do hinduísmo. Ele foi constituído nessa forma para simbolizar e celebrar o poder divino de criação: a energia masculina que deu origem ao universo. A base do linga representa o yoni, a genitália feminina, mostrando-nos que essa criação só se deu pela união do masculino com o feminino. Por isso, o deus da ioga é também associado ao sexo e à sensualidade. Segundo os shivaístas, o prazer obtido pela prática do sexo aproxima-os da realização espiritual, da elevação interior.
De acordo com Lúcia Fabrini de Almeida, o nome Shiva significa “auspicioso”, conferido ao deus das tempestades, que é Rudra, de quem Shiva herdou o caráter ambíguo – feroz e benigno – que dá a chuva que fertiliza o