Uma modalidade vigorosa, que exige flexibilidade
COM ÊNFASE NO TRABALHO RESPIRATÓRIO E NA SINTONIA COM OS MOVIMENTOS, A A SHTANGA VINYASA É UMA DAS MODALIDADES MAIS INTENSAS DA IOGA
“Se praticarmos a ciência da ioga, o que é útil para toda a humanidade e que assegura felicidade tanto nesta existência quanto depois dela; se praticarmos com constância, atingiremos a felicidade física, mental e espiritual e nossas mentes serão inundadas pelo verdadeiro eu”,
Sri K. Pattabhi Jois
uma perfeita integração entre pranayamas e ásanas é o que prega a ashtanga vinyasa yoga, uma modalidade que trabalha a sincronia entre respiração e posturas e exige vigor físico do praticante. Criado em 1930 pelo renomado iogue Krishnamacharya, a ashtanga foi divulgada pelo seu discípulo, Sri Pattabhi Jois, que hoje tem 90 anos, e é o fundador do Ashtanga Yoga Research Institute, em Mysore, na Índia. A palavra vinyasa significa combinação, ou seja, a junção do movimento com a respiração. Este estilo é composto por seis séries fixas de ásanas, que a medida que o aluno vai evoluindo, vão tornando-se mais difíceis. O movimento e a respiração se dão pela ujjayi pranayama, uma técnica respiratória em que o praticante contrai a glote, tornando a respiração mais lenta e melhorando a concentração. A primeira série é uma sequência de posturas específicas interconectadas pela respiração. “O praticante tem que repetir a série, memorizar e melhorar a performance, passando para as séries seguintes de acordo com o seu desempenho físico e psicológico”, explica Camila Reitz, do Yogashala, de Florianópolis. Ela ressalta que é preciso muito esforço e dedicação para praticar asthanga. Segundo a professora, a maioria fica, pelo menos, dois anos na primeira série para poder passar para as seguintes. Há dois tipos de aula que podem ser desenvolvidos. O estilo mysore, que leva o nome da cidade onde foi criado, e a aula guiada. No primeiro, o praticante é conduzido pelo seu próprio ritmo de respiração e recebe instruções individuais. No Brasil, a maioria das escolas dá a série de aula de guiada da ashtanga, em que todos fazem os movimentos juntos. A principal diferença entre a hatha ioga é que, na asthanga vinyasa há a sincronia total entre a respiração e o movimento. Além disso, as séries de posturas não são alteradas, pois são praticadas numa ordem definida. As aulas são intensas e dinâmicas, o corpo fica aquecido e transpira-se muito. A duração varia entre 50 minutos e 2 horas. O professor Bruno Bartulitch, do Asthanga Yoga Estúdio, de São Paulo, enfatiza que, embora haja
benefícios para o corpo, isto não deve ser o principal objetivo do praticante. “Emocionalmente, ele aprende a conhecer seus limites, ganha sensatez, equilíbrio emocional, coragem, disciplina e aprende a silenciar a mente”, afirma. Na parte física, a ashtanga melhora a consciência corporal, o sistema respiratório, a coordenação motora; aumenta a força e a resistência, dá flexibilidade e alinhamento postural, além de melhorar a concentração, o sono e regularizar o intestino e a circulação sanguínea. Ele afirma que a popularidade da ioga acabou distorcendo os principais preceitos éticos. “O objetivo deve ser o autoconhecimento e utiliza-se o corpo como ferramente para essa transcendência. Com este trabalho, também atinge-se uma boa forma física. Mas quem está apenas buscando o lado estético, se afasta da real meta da ioga e corre o risco de permanecer preso ao paradigma da competição”, esclarece. A professora Cathia Karin Heuser, do Ashtanga Yoga Studio, de Porto Alegre, acredita que a maior dificuldade dos iniciantes é a de conciliar a respiração ao movimento do corpo. Porém, nas aulas seguintes, eles já conseguem coordenar os dois. “A primeira preocupação é o com corpo, mas depois o praticante vai sentindo a respiração mais regular, os sentidos se voltam para o seu interior, ela não se distrai mais e, por fim, a mente já fica mais centrada”, explica.
Ioga dos desafios
O principal divulgador do método ashtanga vinyasa foi Sri Pattabhi Jois. A príncipio, ele não aceitava alunos ocidentais. Na década de 60, o norte-americano David Willians foi para a Índia, onde ficou dias insistindo para aprender com Sri. O mestre o aceitou e o método foi disseminado pela América do Norte, Europa e Austrália. No final dos anos 90, celebridades como Madonna e Sting afirmaram serem adeptos deste estilo e estas declarações ajudaram na popularização da asthanga. No Brasil, a modalidade também chamou a atenção de artistas, como a apresentadora Fernanda Lima e a atriz Letícia Spiller. Por ser uma prática ligada à força e ao dinamismo, muitos esportistas também gostaram deste tipo de ioga. Os professores acreditam que esta popularização tem seus aspectos positivos e negativos. “Como é uma prática muito dinâmica, as pessoas acham que é um tipo de ginástica oriental. Modelos e atrizes lindas praticam e as pessoas acabam se interessando pela prática, porém não pelo seu objetivo espiritual e de autoconhecimento, mas sim, para ser ‘cool’”, alfineta Camila. Foi esta parte intensa e dinâmica que atraiu a advogada Rosângela Castellari, de 24 anos. Ela faz aulas há 2 anos e notou muitas mudanças no corpo e no estilo de vida. “Além de adquirir força e flexibilidade, sou uma pessoa mais centrada, equilibrada, não sofro mais com antecedência e parei de comer carne vermelha”, conta. Com apenas 2 meses de prática, o engenheiro civil Eduardo João,de 38 anos, também já sentiu mudanças físicas, emocionais e mentais. “Sou muito impulsivo e procurei um estilo que trabalhasse todos os aspectos. Saio da aula tranqüilo, otimista, vejo o mundo com outros olhos”. Ele conta ainda que sente que o sistema intestinal está funcionando melhor e que adquiriu mais elasticidade. Embora a maioria seja jovem, os professores afirmam que a ashtanga pode ser praticada por todas as faixas etárias, que vão receber as instruções adequadas às suas condições. O estilo só não é recomendado para cardíacos, obesos e gestantes que nunca praticaram este tipo de ioga. Camila afirma: ”A ashtanga é mais adequada para aqueles que gostam de desafios e de ultrapassar limites.”