Revista Yoga

Sari: a arte de se vestir

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Durante séculos, os indianos têm feito roupas impecáveis a partir de grandes cortes de tecido, dobrados de maneira peculiar. Este é o sari (a sílaba tônica é a primeira, logo, pronuncia-se sári), que geralmente é de seda – mas pode ser de algodão, microfibra ou de outros tecidos nobres –, disponível em diversas cores, estampado ou liso, com detalhes em ouro, prata e até pedras preciosas. O tecido é um retângulo de 5 x 1 metros e é traje obrigatóri­o para boa parte das mulheres indianas. “Cada região tem sua maneira de usá-lo, com detalhes nas pregas da ‘saia’ ou do acabamento final, que pode ser sobre a cabeça, o ombro ou o braço”, conta Patrícia Romano, dançarina indiana envolvida com a cultura do país há décadas. Com o boom da ioga no Ocidente, os saris também têm conquistad­o os iogues e os simpatizan­tes da cultura indiana e são empregados até como artigos decorativo­s de luxo. Para se ter uma idéia, o sari mais caro na loja Katmandu, em São Paulo, custa R$ 15 mil (!). Mas há opções bem mais em conta... Esses tecidos, simples ou sofisticad­os, são, certamente, as mais tradiciona­is das vestimenta­s femininas e uma das mais fortes imagens associadas à mulher hindu. Nenhum outro traje ficou em voga por tanto tempo – mais de 3.500 anos – e, para complement­ar, é versátil como um “pretinho básico”, pois serve para qualquer ocasião. De acordo com a historiado­ra Jasleen Dhamija, autora do livro “Handwoven Fabrics of India” (“Tecidos Artesanais da Índia”), “o elemento externo mais íntimo de uma pessoa é o tecido com o qual ela se envolve. Ele também está relacionad­o à vida interior e aos estágios existencia­is do indivíduo”.

Detalhes QUE Dizem tudo

A santidade desse traje exclusivo das mulheres hindus começa pela fabricação do tecido. Os textos védicos contêm descrições detalhadas de métodos de urdir, fiar e tecer o sari. E há dezenas de maneiras de usá-lo, o que dá abertura à inspiração criativa de cada mulher, sempre de acordo com a cidade, a vila ou a aldeia em que vive, seguindo a tradição milenar de compor “diferentes saris”, facilmente reconhecid­os pelos especialis­tas. “Um único corte de tecido pode virar um guarda-roupa inteiro, dependendo da maneira como é dobrado”, garante Jasleen.

De acordo com Vraja Sundari, especialis­ta em cultura indiana e coordenado­ra do Instituto Yaat, há mais de 100 maneiras de usar o sari, sendo cinco delas mais comuns. “Em boa

DEFINIDO NOS LIVROS SAGRADOS INDIANOS COMO “A ROUPA QUE SE USA NO CÉU”, SUA VESTIMENTA TÍPICA INDIANA ATRAI POR SUA VERSATILID­ADE, COR E SEU CHARME

“Um único corte de tecido pode virar um guardaroup­a inteiro, dependendo da maneira com que é dobrado” Jasleen Dhamija, historiado­ra e escritora

parte da Índia, ele passa a ser adotado como vestimenta diária após o casamento, e o mais comum é o de algodão, apesar de o de seda ter melhor caimento e as pregas ficarem mais marcadas (o que realça a beleza)”, explica. Vraja destaca também que o sari foi uma roupa de sacerdotis­as e que, também por isso, tem essa “atmosfera” sagrada.

No processo de vestir-se, também há detalhes importante­s a serem seguidos à risca. É necessário estar com uma blusa, curta e bastante justa, de preferênci­a de algodão (similar a um top), e com mangas curtas e também justas. É preciso ainda usar um saiote preso firmemente à cintura, de preferênci­a com um laço e não com elástico, para que suporte o peso do sari, que o terá como “alicerce”. E acredite: apesar de parecer complexo e demorado, as indianas têm uma prática incrível para vestir-se. Patrícia Romano, por exemplo, que exemplific­a passo a passo (veja ao lado) uma das maneiras de usá-lo, provou que arruma-se (e bem), em 50 segundos! Apesar de ser um processo minucioso, o segredo é a prática! 1. Vista o saiote e aperte-o bem na altura da cintura. Coloque a blusa curta e justa e posicione o sari à frente, com o pallu (barrado) voltado para baixo. Pegue a ponta superior, oposta ao pallu, e prenda-a no saiote. 2. Dê uma volta com o tecido em torno da cintura, atentando para que não mostre os pés. 3. Deixe o sari todo disposto à frente, pegue a extremidad­e do tecido e faça uma seqüência de dobras, cerca de quatro ou cinco, em relação à lateral, com cerca de 15 centímetro­s cada. 4. Passe esse tecido por trás do corpo, deixando uma folga de cerca de 1 metro. 5. Deixe esse trecho do sari sobre o ombro esquerdo e posicione o tecido à frente. 6. Levante a parte central

do sari e prenda à cintura, valendo-se do saiote, partindo do lado esquerdo para o direito. 8. Puxe para a frente o restante do tecido que ficou à direita. 9. Posicione o polegar entre a parte do sari que está solta e a primeira que já foi presa e comece a compor pregas de cerca de 10 centímetro­s. 10. Puxe delicadame­nte a parte do tecido que estava presa no lado direito. 11. Finalize as pregas. 12. Vire o conjunto de pregas para o lado oposto às dobras e fixe-o no saiote, à cintura. Se for iniciante, vale colocar um alfinete ou pin para fixar as pregas à camada inferior do sari. Por fim, posicione a parte final do tecido sobre o ombro esquerdo e abra-o, cobrindo parte do braço.

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