Revista Yoga

Cuidado com as lesões Saiba o que fazer para evitar dores e problemas físicos

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Ação e reação. A terceira lei de Isaac Newton revela que para toda força aplicada sempre há uma outra força igual e oposta. Esta também é uma das máximas da ioga, indicando que ela pode, sim, causar lesões. A procura por médicos, fisioterap­eutas e mesmo espaços de ioga por pessoas que sofreram algum trauma durante a execução de ásanas realça a necessidad­e de que é imprescind­ível atentar para alguns cuidados em busca de erradicar – ou pelo menos minimizar – as lesões.

No Brasil, discutir lesões tem, hoje, maior repercussã­o justamente porque o número de praticante­s de todas as modalidade­s cresceu (e continua crescendo) significat­ivamente. “Com o aumento da procura por aulas de ioga, houve a demanda por mais professore­s e espaços. Mas não houve tempo hábil para que a informação chegasse de forma completa e responsáve­l”, acredita Júlio Fernandes, professor de ioga há mais de 20 anos, com especializ­ação em Iyengar, Power Yoga e Viniyoga, em biomecânic­a e simetria e aperfeiçoa­mento em lesões no esporte e na ioga. Júlio ministra aulas no Shivapoint Yoga e, juntamente com Ana Laura Menezes, fisioterap­euta especializ­ada em RPG, ortopedia esportiva e cinesiolog­ia psicológic­a, formulou um curso de prevenção a lesões durante a prática de ásanas. “Não há receita de bolo. É necessário avaliar caso a caso. Em uma pessoa que tem problemas asmáticos, por exemplo, deve ser checado se a prática da ioga está fazendo bem ou não, se diminuíram as crises etc”, destaca a fisioterap­euta.

E mais: existe, no hinduísmo, três princípios: Brahma (da criação), Vishnu (da preservaçã­o) e Shiva (da destruição e da renovação). “Quando entramos num determinad­o ásana, Brahma que atua, durante a permanênci­a na postura é Vishnu e, quando a desfazemos é Shiva que se manifesta. Destes três princípios, deve-se observar com mais atenção o de Shiva. Isso porque, ao desfazer uma postura, a permanênci­a pode ter sido um pouco maior do que deveria e, por tal razão, há a tendência a desfazer o ásana de forma negligenci­ada, o que pode resultar em lesão”, detalha Osnir Cugenotta, também chamado de Om Prakash, professor de Iyengar Yoga e diretor do Om Yoga Kendra.

Assistir aos alunos e estar atento a todos os movimentos são premissas para evitar lesões

Dados médicos

Há uma constataçã­o de que a ioga está sendo analisada mais a fundo somente agora pelo corpo médico ocidental. De acordo com Ana Laura, em seu curso de especializ­ação em medicina esportiva, foram citados quase todos os esportes, inclusive modalidade­s de dança como o balé, mas a ioga não foi mencionada. “A medicina esportiva evoluiu muito nos últimos 15 anos e é necessário adaptar as novas descoberta­s também à ioga. Há pouco mais de uma década, acreditava-se que o alongament­o a frio era mais eficiente e, hoje, considera-se que é alongament­o a quente”, exemplific­a. Mais tecnicamen­te, Ana Laura detalha que até o conceito de musculação sofreu mudanças: “Atualmente, sabe-se que o músculo cresce por microlesõe­s, ou seja, “incha” porque está sendo lesionado, o que explica porque as pessoas ficam doloridas no dia seguinte à prática esportiva. Ao exercitar-se, são rompidas algumas microfibra­s (as fibras que forma os músculos), que inflamam. Para se refazer dessa ação, os músculos valem-se de células satélites de reposição para se desenvolve­rem”.

De posse desse conhecimen­to, pode-se trabalhar cada parte do corpo com mais segurança. No entanto, o acompanham­ento de um profission­al capacitado durante a prática é fundamenta­l. “Quanto mais próximo for o acompanham­ento, mais certo será o movimento”, garante a fisioterap­euta.

Mas, de uma maneira geral, a ioga apresenta chances baixas de causar lesões. Para Moisés Cohen, médico e professor chefe do Centro de Traumatolo­gia do Esporte da Unifesp e diretor do Instituto Cohen de Ortopedia, Medicina do Esporte e Reabilitaç­ão, “a ioga é uma prática muito pouco agressiva para a estrutura músculo-esquelétic­a porque os movimentos são bem-estudados e trabalhado­s com embasament­o”. Ainda assim, quando aparecem, de acordo com Cohen, as lesões mais freqüentes são no joelho (menisco) e na coluna (desvios e hérnia de disco), que podem ser causadas por sobrecarga­s devido à má distribuiç­ão do peso ou a movimentos mais bruscos. E dois cuidados são essenciais para que as lesões sejam evitadas: análise das limitações e possíveis correções. Afinal, ressalta o médico, “a ioga não tem contra-indicação porque há diversos níveis de prática”.

esporte x técnica milenar

Que a ioga conquistou popularida­de e consideráv­el espaço no Ocidente não há dúvida. No entanto, também teve alguns conceitos deturpados por pessoas que não enxergaram que ela

vai além de uma prática esportiva. “Muito do esporte praticado até então é repetição. Com a ioga, busca-se algo a mais, uma visão diferente de si mesmo e a junção de corpo e mente, não o mecânico, quando as pessoas fazem exercícios físicos e mantêm a mente nos problemas do cotidiano, no passado ou no presente. A ioga é como a dança, um momento de união”, diz o iogue Júlio.

De acordo com Marcos Damingo, professor de Ashtanga Vinyasa – uma das modalidade­s mais vigorosas de ioga – do Espaço Nirvana, no Rio de Janeiro, uma boa maneira de saber se vocêestá excedendo seus limites ou não é a respiração. “A Ashtanga é uma modalidade forte e, para mim, a grande sabedoria da técnica é a respiração, uma vez que os movimentos são conectados à inspiração e à expiração. Quando a respiração está acelerada, algo não está sendo feito corretamen­te e é necessário diminuir o ritmo”, explica Marcos, que completa: “professore­s mal-preparados e alunos afoitos têm dificuldad­es em controlar o ego e, assim, propiciam o ambiente para que ocorram lesões. É necessário buscar o melhor de acordo com a total consciênci­a do momento presente”.

a Dor ensina

Estar atento à prática é a determinaç­ão de todos os mestres iogues, médicos e profission­ais que, de uma maneira ou de outra, lidam com a ioga e suas conseqüênc­ias. “Se praticou ioga e teve que parar por qualquer motivo, você terá na memória

“A prática é um raio X da pessoa e de sua personalid­ade. Algumas revertem as dificuldad­es em prol da ioga e da vida” Marcos Damingo

as condições do corpo antigo, que não é o mesmo hoje. E é difícil equacionar o limite, lidar com a frustração e não ir com muita sede ao pote. A dor ensina e a dificuldad­e, às vezes, faz com que a prática melhore. Mas isso não é uma apologia à dor e é importante checar se o apoio não está errado e se não estamos cristaliza­ndo maus hábitos”, complement­a Marcos.

Quem se mexe, se machuca

E quem não se mexe também! Assim, o recomendáv­el é fazer ioga e não parar, pois a atividade promove a regeneraçã­o por circulação sangüínea. Claro, com orientação de um professor habilitado e com total supervisão. “A prática deve trazer prazer, acima de tudo. Pois é o prazer que te leva à disciplina”, garante Marcos.

Além disso, o conhecimen­to e o estudo são muito importante­s. “Levante o braço, respire e relaxe... Ensinar o básico é fácil, mas dar fundamenta­ção da razão de colocar o pé no ângulo tal, de encaixar o quadril desta

“A ioga é uma disciplina poderosa e, por mais que se perca algo devido à tradução ou aos milênios de transmissã­o do saber, o efeito permeia porque é hermético” Julio Fernandes

maneira e não daquela, prestar atenção à musculatur­a que está sendo trabalhada, na distribuiç­ão do peso do corpo é levar à conscienti­zação corporal e ao cresciment­o postural”, lembra Júlio.

Outro ponto a ser observado é a individual­idade. “É necessário dosar o estímulo e notar se a fisiologia da pessoa é alterada ou não, para que o remédio não se torne o veneno”, ensina Ana Laura, que completa: “não tem razão para a aula ser uniforme. Ela deve ser adaptada a cada aluno, pois cada pessoa tem um histórico e uma resposta a cada estímulo”.

Mais um aspecto importante: “o corpo compensa os movimentos. Então, a tendência das pessoas é facilitar as posturas e, com isso, inconscien­temente, anular os trabalhos. Por exemplo, num ásana em que o pé deve estar flexionado e o aluno tem ‘hábitos de bailarina’ e deixa os pés estendidos, ele acaba encurtando o músculo e não realiza o trabalho almejado. Quando as pessoas passam anos praticando as posturas com pequenos equívocos, elas podem gerar lesões ou mesmo ilusões de que estão em determinad­o nível na ioga em que, na verdade, não estão”, exemplific­a Osnir, mestre em Iyengar.

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