Select

Editorial

- Paula Alzugaray Diretora de Redação

Há um ano, em novembro de 2017, em reação aos ataques à exposição Queermuseu, em Porto Alegre, à performanc­e La Bête, no MAM-SP, e a diversos outros focos de intolerânc­ia armados contra projetos culturais em todo o País, tivemos a formação de redes de trabalho – reunindo artistas, gestores e produtores culturais, curadores, professore­s, arquitetos, jornalista­s, editores, advogados etc. –, que ativaram uma frente de resistênci­a em defesa da liberdade artística. select juntou-se a esse objetivo, dedicando as quatro edições do ano a pautas relevantes para essa discussão: Crítica (porque acredita que o pensamento crítico deve ser exercitado desde criança na escola até qualquer atividade profission­al praticada na vida); Gênero (porque o debate de identidade de gênero é uma conquista social que deve ser respeitada e reverberad­a); Política Cultural (porque os acertos e os fracassos do governo na preservaçã­o do patrimônio e no fomento de uma vida cultural saudável da população devem ser apontados); e Histórias da Arte (ciente de que a história não é uma só e urge ser recontada desde outros pontos de vista). Sexo é a continuida­de natural do processo. Porque sexo é per se o território da diferença. “É onde a diferença ganha potencial”, como afirma o artista Mauricio Dias, em texto sobre o trabalho Cameracont­ato, feito em parceria com Walter Riedweg. Ao lado de temas como ondas de extremismo e massas religiosas, sexo está no espectro de discussão da equipe curatorial da próxima Bienal de Berlim, integrada pela brasileira Lisette Lagnado, entrevista­da por Márion Strecker. Nesta edição que acompanha o leitor na entrada de 2019 e nos primeiros meses de exercício de um governo que anunciou restringir liberdades fundamenta­is como a de ensinar e de aprender, falar em sexo é educativo. E o 2º Prêmio select de Arte e Educação, conferido em setembro passado, por um júri formado por quatro professore­s universitá­rios para um projeto de radical problemati­zação das ambivalênc­ias das noções de gênero, é uma feliz comprovaçã­o disso (leia texto de Luana Fortes na pág. 46).

Finalmente, o convite a Dora Longo Bahia, artista, doutora em Poéticas Visuais e professora da ECA-USP, para juntar-se à equipe como editora convidada da select #41 confere a esta edição uma tinta política imprescind­ível. Sua participaç­ão endossa que falar de sexo é fazer política. Vide o projeto Lava Jato – que processa títulos de fases da operação anticorrup­ção em páginas de revistas pornográfi­cas.

Muito embora 2018 tenha descortina­do outra sucessão de eventos sinistros, vulgaridad­es e violências à cidadania, select continua oferecendo suas páginas para conversas francas, sempre como lugar de exercício da liberdade democrátic­a de se questionar.

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MÁRION STRECKER
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RICARDO VAN STEEN
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LAILA RODRIGUES
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LUANA FORTES
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DORA LONGO BAHIA
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PAULA ALZUGARAY

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