ICONOGRAFIA BINÁRIA
A obra da artista é inundada de imagens clichês de masculinidade (cigarros, botas de trabalho e latas de cerveja), símbolos exacerbadamente óbvios de feminilidade e domesticidade estão igualmente representados (máquina de lavar, meia-calça, lingerie). Essa iconografia binária, por ser clichê, também é engraçada e naïf. A ambiguidade também está presente na maneira com que Lucas referencia a história da arte – apesar de óbvias, ela nega associações entre seu trabalho e o de artistas do passado, uma atitude no mínimo interessante. Sua série de figuras biomórficas NUD (2009-2013), em versão feita de meia-calça, alude ao trabalho da protofeminista Louise de Bourgeois (1911-2010). Ao mesmo tempo, outra versão da mesma série, feita em bronze polido, relaciona-se com os balões de Jeff Koons (1955) – maior exemplo do artista homem, branco e bem-sucedido. Essas sobreposições inesperadas e subversivas geram um hermafroditismo artístico. No embate entre esses dois polos, cria-se um enigma indecifrável e devorável: a artista, que se apresenta de maneira andrógina, que enche os pulmões para dizer que joga no time dos meninos e que a torção do sexo binário a fortalece, é a mesma que frita ovos e usa a mesa da cozinha, subvertida em estúdio, para sua produção.
Se nas esculturas Steely Dan (1993), e em grande parte da série Penetralia (2008-2013), o pênis é reverenciado de forma totêmica, não caberia aqui uma interpretação freudiana, ainda que vista por muitos como teoria obsoleta? Afinal, é possível identificar na obra de Lucas algum sintoma da inveja do pênis? Ou será que a doutrina do pai da psicanálise serve, sobretudo, ao deboche? Lucas acha Freud hilário.