GUIA EXPERT DE TRISTAN TAORMINO
Depois de informações dessa natureza, Nhamandu dá uma pausa para amenizar o clima e então faz a atividade prática Carimbuceta, que consiste em carimbar a vagina em um papel usando beterraba ralada. Por fim, passa a uma dinâmica semelhante à da performance Próximo, só que nesse caso também mostra na participante onde fica sua própria próstata. Os diálogos e sons emitidos durante o exercício estão dando forma a um outro trabalho, chamado Ambientes Sonoros Orgásticos e Siriríticos. Tem frases como: “Mas pode pôr? Mas os três dedos? Mais pra cima? Mais fundo? Agora chama? Ahhhhhhhhhhh, achei”. A educadora sexual americana Tristan Taormino também ensina pessoas sobre sexo com foco no prazer feminino. “Mulheres ainda não conhecem o suficiente sobre seus corpos e ainda não estão tendo prazer o suficiente. Especialmente mulheres heterossexuais”, diz Taormino à select. Assim como Sue Nhamandu, aproveita diversas mídias para educar, como livros, sites, programas de rádio e até filmes pornô. Em setembro de 2018, realizou uma palestra e um workshop na 4ª Conferência Internacional SSEX BBOX, no Red Bull Station, em São Paulo. Costuma fazer ações como esta desde os anos 1990 e, curiosamente, duas perguntas continuam se repetindo: “Como faço para me masturbar?” e “Por que não consigo ter um orgasmo com meu parceiro?”. Taormino acredita que ninguém aprende da mesma maneira. “Eu poderia te dar um livro e
você poderia entender tudo que escrevi, mas existem pessoas que precisam ver, e isso é particularmente verdadeiro para o sexo”, afirma. A americana compara a negligência da educação sexual à forma que adolescentes aprendem a dirigir. “A gente não manda a pessoa para a estrada e fala ‘aqui está o carro, vai nessa!’ Mas com sexo é exatamente isso que fazemos.” Influenciada por uma onda punk de produção de zines, em 1995 decidiu que faria uma pequena revista sobre sexo. Como ela queria envolver outras vozes e perspectivas, convidou conhecidos a colaborar. Chamada Pucker Up, a zine teve quatro edições e trazia em suas páginas poemas, reportagens, desenhos e trabalhos de arte, entre outras coisas. Depois disso, chegou a escrever ficção erótica, que hoje admite ter sido completamente baseada em sua vida pessoal, além de guias expert sobre sexo. O primeiro deles foi The Ultimate Guide To Anal Sex For Women (O Verdadeiro Guia de Sexo Anal para Mulheres), publicado em 1997 pela editora Cleis Press. Depois partiu para a direção de filmes pornô na empresa Vivid Entertainment. “Eu pensei que precisávamos mostrar isso e precisávamos ser específicos. E ser específico significa mostrar corpos pelados e pessoas transando”, relembra Taormino. Uma das séries de filmes realizadas pela educadora chama-se O Guia da Tristan Taormino para (...), que era complementado por temas como prazer anal para homens, ejaculação feminina, sexo a três e sexo kinky, que numa má tradução para o português significa sexo sacana ou pervertido. Os filmes intercalam falas da própria Taormino com dicas sobre o
“As pessoas querem espaços seguros e públicos para falar sobre sexo, para que possam ser honestas, diretas, aprender e não se sentirem julgadas”, acredita a educadora sexual Tristan Taormino
assunto, cenas de sexo que demonstram aquilo sobre o qual ela fala e depoimentos dos atores pornô filmados. No guia sobre sexo kinky, por exemplo, você aprende que praticar o sadomasoquismo requer a escolha de uma palavra de segurança para indicar ao parceiro quando não está confortável e que essa palavra não deve ser “Pare!” ou “Não!”, porque elas podem fazer parte de uma atuação. Atualmente, no entanto, Taormino deixou de trabalhar com pornografia, pois a internet fez com que a indústria pornô não conseguisse mais pagar salários dignos aos seus profissionais. Lecionar em workshops está entre suas atividades preferidas. Dependendo do contexto, faz demonstrações ao vivo de sexo ou dá oficinas para casais que praticam com seus respectivos parceiros. Apesar de muitos ainda encararem sexo como um assunto tabu, a educadora enxerga diferenças entre hoje e quando começou a trabalhar na área. “Nos anos 1990, quando eu falava para as pessoas que era escritora e que tinha acabado de lançar um livro sobre sexo anal, elas simplesmente saíam do recinto. Hoje, 20 anos depois, eu diria que 10 em cada 10 pessoas dizem: ‘Tá bom, eu só tenho uma perguntinha!’”, conta à select. “Tabus mudaram e discussões sobre sexualidade certamente também mudaram. As pessoas se sentem mais à vontade para falar sobre isso. Mas, ao mesmo tempo, existem conservadores me chamando de vadia nas redes sociais? Sim, com certeza existem.”