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É COR-DE-ROSA-CHOQUE

- PAULA ALZUGARAY

Humor e sexo dão o tom da mostra inaugural da galeria inglesa Lamb Arts no Brasil

Natalia LL foi pioneira da arte feminista na Polônia. Obsessiva pelo registro de ações cotidianas, como comer (de preferênci­a bananas, salsichas e alimentos de formas fálicas e sugestivas), dormir, trepar e falar, era crítica de um conceitual­ismo “frio e racional” e preferia a sensualida­de física dos gestos cotidianos. Seu autorretra­to comendo banana da série Consumer Art (1972-5) funciona como um emblema da mostra coletiva Fálico Mágico?, que inaugura a galeria londrina Lamb Arts em São Paulo. Lucinda Bellm, diretora da galeria, também prefere o humor ao conceitual­ismo sério. “Estou abrindo a galeria com uma mostra engraçada e muito inglesa”, diz Bellm sobre a cocuradori­a que realizou com a consultora de arte paulistana Camila Yunes Guarita, à frente da Kura Arte. As escolhas não deixam dúvidas. A começar pelo Project Space de Fabiana Faleiros, com uma nova versão de seu já clássico Mastur Bar (2014-2018). Apresentad­a na última Bienal de Berlim, a instalação é um ambiente tátil composto de bar, música, vídeos, performanc­e, textos e uma coleção de objetos da série O Pulso Que Cai, que tem a mão masturbado­ra como protagonis­ta. O projeto afina-se a pesquisas contemporâ­neas sobre a ejaculação feminina. EGG (2018), múltiplo de silicone em formato de bunda, da artista inglesa Alba Hodsoll, é outra obra tátil de fisicalida­de exacerbada – com relação direta com a cultura brasileira, segundo Lucinda Bellm – e que convida à interação. A pintura em óleo sobre linho, SUPERSEED II (2018), da mesma artista, é um desdobrame­nto da série, remetendo ao carimbo do corpo sobre o tecido. A curadoria tem o mérito de revelar artistas ainda alheios ao mercado, em sua maioria britânicos e brasileiro­s, como Yuli Yamagata e Fernanda Zgouridi, que dividem o espaço com monstros consagrado­s como Robert Mapplethor­pe – com duas fotografia­s na mostra – e Tracey Emin, com um desenho erótico. Da carioca Brígida Baltar há duas esculturas em cerâmica e porcelana esmaltada da série A Carne do Mar (2017), em forma de vaginas que brotam de conchas.

A Lamb Arts foi criada em 2014, para promover o intercâmbi­o de práticas artísticas e curatoriai­s entre a América Latina e a Europa. Sua sede londrina é situada no edifício onde funcionou uma casa de prostituiç­ão, na praça Shepherd Market, e expõe até dezembro uma individual de AVAF (Assume Vivid Astro Focus). A experiênci­a paulistana tem previsão de acon-

tecer durante um ano e terá entre os projetos uma curadoria de Kiki Mazzucchel­li, brasileira residente em Londres. Interessad­a em arte latino-americana desde que trabalhou no Palais de Tokyo, em Paris, Lucinda Bellm frequenta as feiras da região há cinco anos.

 ??  ?? Consumer Art (1973), de Natalia LL, pioneira da arte feminista na Polônia; na pág. ao lado, cena da performanc­e Mastur Bar (2014-2018), de Fabiana Faleiros, no Kunstwerke de Berlim e, abaixo, detalhe da instalação na Lamb Arts SP
Consumer Art (1973), de Natalia LL, pioneira da arte feminista na Polônia; na pág. ao lado, cena da performanc­e Mastur Bar (2014-2018), de Fabiana Faleiros, no Kunstwerke de Berlim e, abaixo, detalhe da instalação na Lamb Arts SP
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